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Veteranos de guerra: Milei "entrega" Malvinas e afeta o Brasil

Presença militar britânica ameaça zona de paz proposta pelo Brasil

Memória.Veteranos acusam Milei de ceder ao Reino Unido; Thatcher, da qual ele é fã, mandou afundar o cruzador BelgranoCréditos: Wikipedia e X
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O encontro entre o presidente argentino Javier Milei e o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, em Davos, na Suiça, continua repercutindo na Argentina depois que o diário britânico Daily Express relatou o suposto conteúdo da conversa.

De acordo com o jornal, Cameron teria prometido a Milei apoio total na recuperação econômica da Argentina em troca de o presidente argentino colocar em segundo plano a disputa pelas ilhas Malvinas.

A mídia argentina disse que no encontro Milei propôs uma solução para as Malvinas como a de Hong Kong, que esteve sob controle colonial britânico desde 1841.

Em 1984, o Reino Unido assinou com a China um acordo para transferir o controle da colônia em 1997, desde que garantisse manter o sistema econômico local por 50 anos.

O secretário da Defesa do Reino Unido, Grant Shapps respondeu que "as ilhas Falkland são britânicas, o que inegável e inegociável".

A população das Malvinas não chega aos 5 mil habitantes, que num referendo majoritariamente escolheram ficar sob o Reino Unido.

Porém, os argentinos argumentam que os colonos, conhecidos como kelpers, são um "implante colonial".

Em 1982, sob ameaça interna, a ditadura militar que controlava a Argentina tentou recuperar militarmente as Malvinas, que ficam a cerca de 500 quilômetros de território argentino.

Margareth Thatcher, então primeira-ministra do Reino Unido, despachou uma frota naval que impôs dura derrota aos argentinos.

Foi de Thatcher a ordem para afundar o cruzador General Belgrano, orgulho da Marinha local.

Ao todo, cerca de 15 mil argentinos atuaram na guerra das Malvinas. O conflito durou 74 dias e causou 650 baixas entre militares argentinos.

Javier Milei é fã de Thatcher e chegou a defendê-la em um debate presidencial, argumentando que também poderia elogiar o jogador holandês Cruyff, que fez gols contra a Seleção da Argentina na Copa do Mundo.

VETERANOS EM POLVOROSA

O Centro de Ex-Combatentes das Malvinas em La Plata vem denunciando o presidente Javier Milei por medidas que considera antinacionais.

O CECIM entrou com uma ação na Justiça e obteve liminar para impedir o fim da Lei das Terras, que limita a compra de propriedades rurais na Argentina por estrangeiros.

Dentre os beneficiários estariam bilionários como o norte-americano Ted Turner, fundador da rede CNN, que tem propriedade na Patagônia. 

"A busca pela soberania sobre as Malvinas desapareceu da agenda oficial e as provocações britânicas se multiplicam", resumiu o diário esquerdista Página 12.

Nos dias 23 e 24 de janeiro, o Reino Unido fez operações militares simulando a defesa do que os britânicos consideram ilhas Falkland.

Gustavo Melella, o governador da província da Terra do Fogo, Antartica e Ilhas do Sul, denunciou as manobras militares à Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), criada em 1986 por iniciativa do Brasil.

O governador mandou correspondência a respeito para todos os integrantes da ZOPACAS.

Assim como acontece na Venezuela sobre a Guiana Essequibo, o controle das Malvinas é uma unanimidade entre os argentinos, de esquerda ou de direita.  

Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai, em acordo, decidiram evitar a passagem por seus portos de navios com a bandeira das ilhas Malvinas.

Porém, isso não se aplicou ao navio britânico HMS Forth, que atracou no Brasil antes de participar dos exercícios militares.

IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA

Adversários do governo Milei também reclamaram que um navio quebra-gelo britânico navegou por águas territoriais argentinas a caminho da Antártica; que um jatinho partiu do aeroporto de San Fernando, na Argentina, com destino às Malvinas; e que Milei e seu governo não protestam contra supostos pousos feitos no Uruguai de aviões que trazem suprimentos para as ilhas vindos de uma base militar no Reino Unido.

Quanto ao jatinho, a dúvida foi levantada por causa da inexistência de registro do destino do vôo.

Ele estaria a serviço de executivos de duas empresas que exploram petróleo no mar territorial das ilhas, uma de Israel e outra do próprio Reino Unido.

Por causa da disputa territorial, as grandes empresas petrolíferas são reticentes quanto a fazer grandes investimentos na região das Malvinas.

Três blocos exploratórios já foram concedidos e em um deles, ao norte das ilhas, estima-se grosseiramente que haja reservas de 325 milhões de barris.

Para o Reino Unido, normalizar totalmente as relações com a Argentina seria essencial para o avanço da exploração.

Mas, há mais que petróleo e pesca em jogo nesta região.

O Reino Unido também tem soberania sobre as ilhas de Geórgia do Sul e Sanduíche do Sul. Com isso, projeta seu poder sobre a Antártica, onde tem uma base de pesquisa.

Embora a exploração de território antártico seja limitada, em um futuro acordo só terão participação nela os países que tiverem instalações de pesquisa na região.

Numa recente apresentação, o ministro da Defesa do Reino Unido disse que era preciso investir em armamentos por causa de muitas ameaças ao país, inclusive vindas da América do Sul.

Os argentinos argumentam que a presença militar britânica ameaça a Zona de Paz proposta pelo Brasil