IRÃ

Irã e Paquistão: entenda o conflito entre os dois países

Islamabade e Teerã trocam acusações de terrorismo, mas escalada nas tensões faz parte de disputa territorial histórica

Mulheres se manifestam no Paquistão contra a morte de Karima Baluch, ativista pelos direitos da etnia Créditos: Wikimedia Commons
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Desde o início da semana, com ataques do Irã a grupos terroristas na Síria, no Iraque e no Paquistão, as tensões entre paquistaneses e iranianos acabaram escalando.

Tudo começou quando o Irã atacou alvos dentro do Paquistão acusando o país de abrigar células terroristas na província do Baluchistão.

Já o Paquistão respondeu e operou ataques dentro do Irã, acusando Teerã de abrigar células terroristas na província do Sistão-Baluchistão.

Parecido, não é? Pois é. Paquistão e Irã têm uma fronteira que compartilha um povo separado entre três países, os baluches. Eles habitam os territórios iranianos, paquistaneses e afegãos.

A região habitada pelos baluches é praticamente um deserto. Há pouca densidade populacional e muita pobreza no local. O IDH do Balochistão é o mais baixo de todas as províncias de ambos os países, mas a região é considerada estratégica por Irã e por Paquistão por conta da presença de gás natural e minerais no local.

A riqueza mineral do país faz com que os baluches tentam autonomia ou até uma separação de Islamabade e de Teerã. Além disso, os separatistas baluches, de maioria sunita deobandi, defendem a criação de um estado para a etnia justamente contra o estado iraniano xiita e contra o Paquistão de maioria pashto e panjabe. O separatismo nasceu em julho de 1948 e segue em insurgência até os dias de hoje.

Os ataques cruzados nesse momento acabam sendo formas de retaliar os países por violações aos seus espaços territoriais para lutar contra um inimigo comum: a população mais pobre de seus respectivos territórios.

A escalada de tensões acaba prejudicando, inclusive, uma das questões que Teerã e Islamabade compartilham: a defesa da Palestina e o combate contra o sionismo.

Curiosamente, ambos os países não possuíam histórico de conflito militar aberto entre eles até esta troca de acusações em 2024.

Agora, desagregados, o segundo e o sétimo maiores países em população muçulmana entram em conflito por um problema que dura pelo menos 75 anos de idade e parece ter difícil solução.