O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta segunda-feira (25), no Palácio do Itamaraty em Brasília (DF), o primeiro-ministro da República Socialista do Vietnã, Pham Mihn Chính. Durante o encontro, representantes dos dois governos assinaram acordos para diferentes áreas e destacaram a importância da união entre países do chamado Sul Global - conceito geopolítico usado para se referir às nações emergentes.
Essa é a primeira vez em 15 anos que um chefe de Estado do Vietnã visita o Brasil. Em seu discurso logo após a reunião com Mihn Chinh, Lula afirmou que "lembra com carinho" da visita que fez à capital vietnamita, Hanói, em 2008.
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Ao todo, foram assinados 3 acordos bilaterais nas áreas de educação, agricultura e defesa. Ainda foram assinados memorandos entre os dois países para parcerias em ciência, tecnologia e inovação.
"Na área de agricultura, assinamos um plano de ação que vai nos permitir avançar na abertura do mercado vietnamita para novos produtos agropecuários brasileiros. Na área de educação, firmamos um acordo que vai possibilitar a mobilidade de estudantes entre nossos países. Mais de 18 mil estudantes, de 71 países, já participaram dos programas de graduação e pós-graduação para estrangeiros do governo federal. Na área de defesa, adotamos um memorando de entendimento que é um primeiro passo para um futuro acordo, que abrirá caminho para a exportação de produtos de defesa, como aeronaves", anunciou Lula.
O presidente brasileiro informou, ainda, que a ministra Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação, irá ao Vietnã em novembro para fazer a primeira reunião da Comissão Conjunta de Ciência e Tecnologia.
"Há potencial para iniciativas conjuntas em inteligência artificial e startups. Conversamos também sobre nossas relações comerciais, que vêm crescendo continuamente há mais de dez anos. Nosso comércio tem aumentado de forma sustentada há mais de dez anos. Já atingiu 6,4 bilhões de dólares, e pode crescer mais. O Brasil exporta para o Vietnã praticamente o mesmo que para a França, com quem temos uma longa relação estratégica (...) Queremos expandir esse fluxo, e também diversificá-lo, com mais produtos de alto valor agregado", adicionou Lula.
Pham Minh Chính, por sua vez, afirmou que a reunião com Lula foi “muito produtiva e rendeu muitos frutos”, celebrando os acordos firmados entre Vietnã e Brasil.
“Isso, com certeza, criará condições favoráveis para um desenvolvimento mais forte da cooperação entre os nossos dois países, gerando benefícios para as duas nações e para os nossos dois povos. Eu concordo que a parceria entre o Vietnã e o Brasil, desenvolvida por intercâmbios entre os dois lados, vai dar aos povos do Brasil e do Vietnã uma ligação e uma amizade entre um e outro", pontuou o mandatário vietnamita.
Sul Global
Outro ponto de destaque do encontro de Lula com Pham Mihn Chinh foram as discussões sobre a necessidade de se instaurar um novo tipo de de governança com o objetivo de construir um planeta multipolar - isto é, um mundo em que o poder decisório e econômico seja descentralizado e que os países tidos como periféricos - o chamado Sul Global - também tenham lugar de protagonismo e não sejam meros subservientes das atuais grandes potências.
Este tem sido o principal pleito de Lula nos fóruns internacionais que participou recentemente, como cúpula do G7, do G20, do Marcosul e Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. O chefe do Executivo do Brasil tem defendido reiteradamente a entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU como membro permanente, ideia que foi apoiada pelo primeiro-ministro do Vietnã.
"Quero agradecer, de público, o reiterado apoio do Vietnã ao pleito do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU", disse o presidente brasileiro.
"Somos dois países do Sul Global comprometidos com a paz, o multilateralismo, o desenvolvimento sustentável e o combate à fome e à pobreza. Desejamos maior representatividade na governança internacional (...) Todo mundo sabe o desempenho que o Brasil está fazendo, há muito tempo, para que a gente possa ter uma governança global mais ativa, mais representativa e com muito mais poder decisório, sobretudo quando se trata de conflitos ou da questão climática”, destacou Lula.
Lula ainda anunciou que levará aos integrantes do Mercosul, bloco que atualmente preside, a proposta de celebrar um acordo com o Vietnã.
Pham Minh Chính, por sua vez, agradeceu a recepção de Lula e reforçou seu interesse em estreitar ainda mais as relações entre o Brasil e seu país e trabalhar para fortalecer as nações do Sul Global.
“Queremos desenvolver uma relação resistente, firme, entre o Vietnã e o Brasil e já temos políticas de defesa, de aliança não militar. Não nos colocamos do lado de nenhum país e não permitimos que nenhum terceiro país entre na nossa terra para oferecer ameaça e violência nas relações internacionais”, declarou o líder vietnamita.
“Mais uma vez eu gostaria de parabenizar o presidente Lula da Silva e o povo brasileiro pelas grandes realizações do desenvolvimento deste país, fazendo com que o Brasil seja uma potência regional e, principalmente, aumentando o seu papel, a sua posição, nas Nações Unidas, no G20 e no BRICS. A sua estrutura vem crescendo muito bem", prosseguiu Pham Minh Chính.
Leia abaixo a íntegra do pronunciamento de Lula após a reunião
"É um prazer rever o primeiro-ministro Pham Minh Chính depois de nosso encontro à margem da Cúpula do G7, em Hiroshima.
Lembro com carinho de minha visita a Hanói em 2008.
Os avanços econômicos e sociais do Vietnã na última década são impressionantes.
A economia vietnamita cresceu a uma média de quase 6% ao ano e mais de dez milhões de pessoas (o equivalente a 10% da população) saíram da pobreza.
Somos dois países do Sul Global comprometidos com a paz, o multilateralismo, o desenvolvimento sustentável e o combate à fome e à pobreza.
Desejamos maior representatividade na governança internacional.
Quero agradecer, de público, o reiterado apoio do Vietnã ao pleito do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Queremos aprofundar nossa cooperação bilateral em diversas áreas, como agricultura, educação e defesa, que foram objeto de acordos assinados hoje.
Na área de agricultura, assinamos um plano de ação que vai nos permitir avançar na abertura do mercado vietnamita para novos produtos agropecuários brasileiros.
Na área de educação, firmamos um acordo que vai possibilitar a mobilidade de estudantes entre nossos países. Mais de 18 mil estudantes, de 71 países, já participaram dos programas de graduação e pós-graduação para estrangeiros do governo federal.
Na área de defesa, adotamos um memorando de entendimento que é um primeiro passo para um futuro acordo, que abrirá caminho para a exportação de produtos de defesa, como aeronaves.
Também queremos cooperar na área de ciência, tecnologia e inovação. A ministra Luciana Santos irá ao Vietnã em novembro para fazer a primeira reunião da Comissão Conjunta de Ciência e Tecnologia.
Há potencial para iniciativas conjuntas em inteligência artificial e startups.
Conversamos também sobre nossas relações comerciais, que vêm crescendo continuamente há mais de dez anos.
Nosso comércio tem aumentado de forma sustentada há mais de dez anos. Já atingiu 6,4 bilhões de dólares, e pode crescer mais.
O Brasil exporta para o Vietnã praticamente o mesmo que para a França, com quem temos uma longa relação estratégica.
Somos hoje um dos principais fornecedores de soja, carnes e algodão para o mercado vietnamita.
O Vietnã é o sexto maior mercado de produtos do agronegócio brasileiro.
Queremos expandir esse fluxo, e também diversificá-lo, com mais produtos de alto valor agregado.
Discutimos também o interesse do Vietnã de celebrar um acordo comercial com o Mercosul.
Vou levar o tema a nossos parceiros do Mercosul, aproveitando a presidência brasileira.
Tenho certeza de que avançaremos nessa discussão.
É do nosso interesse aproximar o Mercosul da ASEAN.
Os países do Sudeste Asiático correspondem a quase 6,5% do PIB mundial em paridade de poder de compra.
As exportações brasileiras para o conjunto de países do Sudeste Asiático já somam metade do que exportamos para a União Europeia.
Somos parceiros de diálogo da ASEAN e o ministro Mauro Vieira deve ir à Indonésia em breve para discutir um plano de ação para a cooperação entre o Brasil e esse bloco.
Em 2024, vamos comemorar 35 do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e o Vietnã.
Aceitei o gentil convite do primeiro-ministro Pham Minh Chính para ir a Hanói celebrar a ocasião.
Muito obrigado".