REVIRAVOLTA EDUCACIONAL

Suécia abandona educação digital: retorno aos livros impressos nas escolas

Em uma mudança surpreendente, a Suécia volta atrás em sua abordagem de educação digital e investe milhões em livros didáticos impressos

Criança na biblioteca.Créditos: Pixabay/PublicDomainPictures
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Em uma reviravolta surpreendente, a Suécia, conhecida por sua abordagem pioneira em tecnologia e educação, decidiu reverter sua estratégia de implementação de educação 100% digital nas escolas e está investindo 45 milhões de euros (aproximadamente R$ 242 milhões) na distribuição de livros didáticos impressos ao longo de 2023. A decisão, que vai contra a tendência mundial de digitalização na educação, foi anunciada em dezembro de 2022 pela ministra da Educação, Lotta Edholm.

A mudança de direção ocorre após décadas de esforços para incorporar tecnologia nas salas de aula suecas, incluindo a distribuição de tablets e laptops para os alunos. No entanto, a ministra Edholm destacou em um artigo publicado no jornal "Expressen" que houve uma postura acrítica em relação à tecnologia, negligenciando o conteúdo em favor da forma. Ela ressaltou que, apesar das vantagens dos recursos didáticos digitais, os livros físicos oferecem benefícios que as telas não podem substituir.

Um dos principais argumentos para a mudança foi a queda no desempenho das crianças em leitura. Os resultados do Pirls 2021 demonstraram que o desempenho dos alunos suecos no exame de habilidades de leitura diminuiu nos últimos anos, o que o governo atribui ao uso intensivo de telas nas salas de aula. Os tablets substituíram os notebooks até mesmo para pesquisas escolares e redações, levando à preocupação de que a atenção e a concentração dos alunos tenham sido comprometidas.

Outro fator importante é a preocupação com o impacto na saúde cognitiva das crianças. Órgãos de saúde na Suécia e no Brasil alertaram para os riscos de passar muito tempo em frente a telas, com possíveis prejuízos na comunicação, no sono e no desenvolvimento cognitivo.

Além disso, a dificuldade dos pais em auxiliar os filhos nas tarefas escolares quando os materiais são 100% digitais também foi um fator levado em consideração. O governo sueco observou que os materiais impressos são mais acessíveis e compreensíveis para os pais acompanharem o progresso dos alunos.

A decisão de investir em livros didáticos impressos também é respaldada por evidências científicas. Estudos mostram que os estudantes têm maior capacidade de compreensão e memorização ao utilizar materiais físicos, enquanto a leitura digital tende a resultar em uma leitura mais superficial.

A Suécia, que se tornou pioneira na introdução de computadores nas salas de aula na década de 1980 e adotou uma abordagem abrangente de digitalização nas escolas nas décadas seguintes, está agora reavaliando sua estratégia. A mudança de governo em 2022 desencadeou essa reviravolta, com o objetivo de proporcionar aos alunos um equilíbrio entre recursos digitais e materiais impressos.

Enquanto a educação 100% digital é vista como uma abordagem inovadora em muitos lugares, a experiência da Suécia destaca a importância de uma abordagem equilibrada e baseada em evidências na implementação de tecnologia na educação. A decisão do país escandinavo servirá como um estudo de caso valioso para outros países que estão explorando maneiras de integrar a tecnologia de forma eficaz no sistema educacional.