O número de mortos registrados como membros e vítimas de uma seita cristã no sul do Quênia, que prega o jejum extremo para "encontrar Jesus", subiu de 372 para 384 após as autoridades do país africano encontrarem mais corpos em uma zona de mata. A informação foi confirmada na imprensa internacional por Rhoda Onyancha, da polícia de Kilifi, na costa queniana.
Além dos mortos, 95 pessoas foram resgatadas com vida das garras seita e outras 613 estão desaparecidas. O caso, que tem repercussão mundial, choca o país. As autoridades inclusive recolheram amostras de DNA de parentes de pessoas desaparecidas para tentar oferecer maiores respostas após as buscas.
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Na última quarta-feira (12) foi iniciada uma nova série de exumações de corpos. Na última vez que isso ocorreu, em 27 de junho, dos 338 corpos examinados, 117 eram de crianças, 201 de adultos e outros 20 estavam em processo de decomposição tão avançado que não foi definir suas idades. Nessa mesma ocasião, os corpos apresentaram sinais de asfixia, além de morte por inanição.
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37 suspeitos já foram presos pelo escândalo das seitas que pregam o jejum extremo como meio para “encontrar Jesus”. Um deles é Paul Mackenzie, o líder da seita que atua na região e se chama “Igreja Internacional das Boas Novas”, em inglês. De acordo com a polícia local, os fieis eram forçados a manter o jejum mesmo em caso de desistência.
Jejum para “conhecer Jesus”
Segundo familiares de adeptos da seita e também de ex-integrantes do grupo, Mackenzie pregava abertamente para um grupo de pouco mais de 400 pessoas, moradoras da cidade costeira de Malindi, que somente “um jejum total e extremo” permitiria que elas se purificassem para “encontrar Jesus” no dia do fim do mundo, que seria em 15 de abril desse ano. Alguns seguidores da seita chegaram a ser expulsos por terem tomado água em meio à sandice pregada pelo pastor.
Os integrantes da chamada Igreja Internacional das Boas Novas moravam isolados numa área de aproximadamente 300 hectares em meio à densa floresta que avança até as proximidades do mar. Foi justamente lá que peritos encontraram em abril as primeiras dezenas de corpos que estavam em covas rasas. O ministro do Interior, Kithure Kindiki, visitou o local na ocasião e disse a jornalistas de agências internacionais que “não sabe quantas valas comuns e quantos corpos serão encontrados”, porque os números oficiais mostram que ainda havia 300 pessoas desaparecidas.
A situação ficou tão caótica que as autoridades precisaram disponibilizar contêineres refrigerados para a manter os corpos em condições mínimas, já que a área é muito úmida e quente. Há casos de pessoas que perderam toda a família, como Stephen Mwiti, que a cerca de dois anos viu a esposa e os seis filhos se mudarem para o meio da floresta Shakahola, fascinados pelo discurso do pastor Paul Mackenzie.
William Rutto, presidente do Quênia, em meio à forte pressão popular por conta do episódio, anunciou uma força tarefa para fiscalizar as seitas e que tomar “medidas contundentes” para quem “usar a religião para cometer atos atrozes”.
Mackenzie se tornou pastor há exatamente 20 anos, quando então passou a pregar o tal “jejum para encontrar Jesus”, que já vitimou outras pessoas em épocas passadas. A última vez que ele foi detido foi em março deste ano, após duas crianças pequenas morrerem de fome, já que as mães tinham sido orientadas a não as alimentar. O clérigo, informa a Justiça do Quênia, desde a última detenção, relacionada ao grande massacre atual, está recusando qualquer tipo de alimento e água.
Outro caso
Autoridades do Quênia anunciaram em 27 de abril a prisão de um segundo pastor acusado de deixar fiéis passarem fome por conta de preceitos supostamente religiosos. O caso é semelhante ao noticiado nos últimos dias, em que um outro religioso prometia aos fiéis “conhecer Jesus” após a realização de um jejum radical. Mais de 90 pessoas morreram na ocasião.
No caso, a polícia descobriu que o pastor Ezekiel Odero estava mantendo mais de 100 pessoas em greve de fome dentro de um centro de oração da Igreja Nova Vida, liderada por ele na cidade de Mavueni, no sudoeste do país. As informações foram confirmadas à imprensa internacional por Kithure Kindiki, o ministro do Interior do Quênia.
Odero foi preso vestindo uma túnica branca e carregando um enorme livro preto que especula-se ser uma Bíblia. Ele não falou com a imprensa na chegada à delegacia.
“A igreja foi fechada. As mais de 100 pessoas que estavam escondidas no local foram retiradas e serão obrigadas a prestar depoimento”, afirmou Kindiki.