Autoridades do Quênia, país localizado no leste da África, anunciaram nesta quinta-feira (27) a prisão de um segundo pastor acusado de deixar fiéis passarem fome por conta de preceitos supostamente religiosos. O caso é semelhante ao noticiado nos últimos dias, em que um outro religioso prometia aos fiéis “conhecer Jesus” após a realização de um jejum radical. Mais de 90 pessoas morreram na ocasião.
No novo caso, a polícia descobriu que o pastor Ezekiel Odero estava mantendo mais de 100 pessoas em greve de fome dentro de um centro de oração da Igreja Nova Vida, liderada por ele na cidade de Mavueni, no sudoeste do país. As informações foram confirmadas à imprensa internacional por Kithure Kindiki, o ministro do Interior do Quênia.
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Odero foi preso vestindo uma túnica branca e carregando um enorme livro preto que especula-se ser uma Bíblia. Ele não falou com a imprensa na chegada à delegacia.
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“A igreja foi fechada. As mais de 100 pessoas que estavam escondidas no local foram retiradas e serão obrigadas a prestar depoimento”, afirmou Kindiki.
Good News International Church
Não muito longe de Mavueni, cerca de 65 quilômetros de distância, em Malindi, as autoridades prenderam outro pastor: Mackenzie Nthenge, líder da Good News International Church.
De acordo com a polícia, o líder incentivava os fieis a realizarem pesados jejuns com a finalidade de “conhecer Jesus”. Uma investigação foi iniciada após quatro corpos de pessoas mortas por subnutrição serem encontrados e vinculados à igreja. No último domingo (23) foi encontrada uma vala comum em área de mata, também atribuída à seita. De lá foram exumados 26 corpos.
A polícia chegou ao local após receber uma denúncia. Paralelamente, seguidores vivos da seita se escondem em outro ponto da mesma área de mata.
Uma dessas pessoas, uma mulher, foi encontrada neste domingo pela polícia. Ela estaria com os olhos esbugalhados e se recusando a aceitar comida. Além dela, sete homens e quatro mulheres em idades que variam de 17 a 49 anos foram hospitalizados nos últimos dias.
O número oficial de mortos passou dos 90 na última quarta-feira (26) e o governo queniano informa que a imensa maioria é de crianças. Segundo familiares de adeptos da seita e também de ex-integrantes do grupo, Mackenzie pregava abertamente para um grupo de pouco mais de 400 pessoas, moradoras da cidade costeira de Malindi, que somente “um jejum total e extremo” permitiria que elas se purificassem para “encontrar Jesus” no dia do fim do mundo, que seria em 15 de abril. Alguns seguidores da seita chegaram a ser expulsos por terem tomado água em meio à sandice pregada pelo pastor.
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Os integrantes da chamada Igreja Internacional das Boas Novas moravam isolados numa área de aproximadamente 300 hectares em meio à densa floresta que avança até as proximidades do mar. Foi justamente lá que peritos encontraram nos últimos dias dezenas de corpos que estavam em covas rasas. O ministro do Interior, Kithure Kindiki, visitou o local e disse a jornalistas de agências internacionais que “não sabe quantas valas comuns e quantos corpos serão encontrados”, porque os números oficiais mostram que ainda há 300 pessoas desaparecidas. Até agora, apenas 34 foram encontradas com vida e algumas acabaram falecendo nos hospitais.
A situação ficou tão caótica em Malindi que as autoridades precisaram disponibilizar contêineres refrigeradas para a manter os corpos em condições mínimas, já que a área é muito úmida e quente. Há casos de pessoas que perderam toda a família, como Stephen Mwiti, que há cerca de dois anos vi a esposa e os seis filhos se mudarem para o meio da floresta Shakahola, fascinados pelo discurso do pastor Paul Mackenzie. William Rutto, presidente do Quênia, em meio à forte pressão popular por conta do episódio anunciou que uma força tarefa fiscalizará essas seitas no país e que tomará “medidas contundentes” para quem “usar a religião para cometer atos atrozes”.
Mackenzie Nthenge apresentou-se à polícia no último dia 15 de abril e acabou preso. Ele teria então inciado uma greve de fome e afirmado que está “orando e jejuando” enquanto não é solto. No último mês ele já tinha sido detido após duas crianças de sua igreja morrerem de fome. Mas após pagar uma fiança que equivale a aproximadamente R$ 4 mil, na moeda local, acabou liberado. Nthenge é acusado de promover lavagem cerebral em seus fiéis e pode vir a responder também por terrorismo.