A seita cristã do Quênia que chocou o mundo após dezenas de pessoas morrerem em decorrência de um “jejum para encontrar Jesus” começa a ser melhor explicada após o primeiro dia de investigações sobre o grupo. O líder “religioso” Paul Mackenzie, que está preso, pode ser indiciado pelo crime de terrorismo, mas por ora é acusado de “promover lavagem cerebral”, dizem as autoridades locais.
O número oficial de mortos chegou a 89 nesta quarta-feira (26) e o governo queniano informa que a imensa maioria é de crianças. Segundo familiares de adeptos da seita e também de ex-integrantes do grupo, Mackenzie pregava abertamente para um grupo de pouco mais de 400 pessoas, moradoras da cidade costeira de Malindi, que somente “um jejum total e extremo” permitiria que elas se purificassem para “encontrar Jesus” no dia do fim do mundo, que seria em 15 de abril. Alguns seguidores da seita chegaram a ser expulsos por terem tomado água em meio à sandice pregada pelo pastor.
Os integrantes da chamada Igreja Internacional das Boas Novas moravam isolados numa área de aproximadamente 300 hectares em meio à densa floresta que avança até as proximidades do mar. Foi justamente lá que peritos encontraram nas últimas horas dezenas de corpos que estavam em covas rasas. O ministro do Interior, Kithure Kindiki, visitou o local e disse a jornalistas de agências internacionais que “não sabe quantas valas comuns e quantos corpos serão encontrados”, porque os números oficiais mostram que ainda há 300 pessoas desaparecidas. Até agora, apenas 34 foram encontradas com vida e algumas acabaram falecendo nos hospitais.
A situação ficou tão caótica em Malindi que as autoridades precisaram disponibilizar contêineres refrigeradas para a manter os corpos em condições mínimas, já que a área é muito úmida e quente. Há casos de pessoas que perderam toda a família, como Stephen Mwiti, que há cerca de dois anos vi a esposa e os seis filhos se mudarem para o meio da floresta Shakahola, fascinados pelo discurso do pastor Paul Mackenzie.
William Rutto, presidente do Quênia, em meio à forte pressão popular por conta do episódio anunciou que uma força tarefa fiscalizará essas seitas no país e que tomará “medidas contundentes” para quem “usar a religião para cometer atos atrozes”.
Mackenzie se tornou pastor há exatamente 20 anos, quando então passou a pregar o tal “jejum para encontrar Jesus”, que já vitimou outras pessoas em épocas passadas. A última vez que ele foi detido foi em março deste ano, após duas crianças pequenas morrerem de fome, já que as mães tinham sido orientadas a não as alimentar. O clérigo, informa a Justiça do Quênia, desde a última detenção, relacionada ao grande massacre atual, está recusando qualquer tipo de alimento e água.