O presidente Lula (PT) adotou um tom conciliador, mas não perdeu a oportunidade de mandar um recado contundente ao governo dos Estados Unidos em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Eu tenho uma tese que eu já defendi com o (Emmanuel) Macron, com o (Olaf) Scholz da Alemanha, com o (Joe) Biden, e ontem discutimos longamente com Xi Jinping. Ou seja, é preciso que se constitua um grupo de países disposto a encontrar um jeito de fazer a paz. Ou seja, eu conversei isso com os europeus, conversei isso com os americanos e conversei ontem. Ou seja, quem é que não está na guerra que pode ajudar a acabar com essa guerra? Somente quem não está defendendo a guerra e que pode criar uma comissão de países e discutir o fim dessa guerra”, disse Lula.
Te podría interesar
A Revista Fórum está concorrendo o prêmio Top10 do Brasil do iBest. Contamos com o seu voto!
https://app.premioibest.com/votacao/influenciador-opiniao/237451556.
“É preciso ter paciência para conversar com o presidente da Rússia, é preciso ter paciência para conversar com o presidente da Ucrânia, mas é preciso, sobretudo, convencer os países que estão fornecendo armas e incentivando a guerra a pararem, porque eu acho que, quando se começa uma briga – a gente fala em guerra, mas poderia ser uma briga de rua, poderia ser uma greve – é preciso começar e saber como parar. E muitas vezes a gente não sabe como parar. E acho que nós estamos numa situação em que acho que os dois países estão com dificuldades de tomar decisões. Se os dois países estão com problema de tomar decisões, eu acho que é preciso que terceiros países que mantenham relação com os dois criem as condições de termos paz no mundo. Nós não precisamos de guerra. Eu acho que isso foi possível nessa conversa, a gente aprofundar”, destacou o presidente brasileiro.
Te podría interesar
“Eu acho que a China tem um papel muito importante, eu continuo reiterando que a China possivelmente tenha o papel mais importante. Agora, outro país importante é os Estados Unidos. É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz. É preciso que a União Europeia comece a falar em paz para a gente poder convencer o (Vladimir) Putin e o (Volodimir) Zelensky de que a paz interessa a todo mundo e a guerra só está interessando por enquanto aos dois. Eu acho que é possível”, ressaltou.
Ao mesmo tempo, Lula apontou a dificuldade para o êxito de sua proposta. “Não é uma coisa fácil. Vocês sabem que uma briga entre família é muito difícil, quando ela começa a gente não sabe como ela termina. E uma guerra é a mesma coisa, sabe? É preciso, agora, paciência, é preciso encontrar no mundo países que estejam dispostos. O Brasil está disposto. A China está disposta. Temos que procurar outros aliados e negociar com as pessoas que podem ajudar nessa paz. Nesse instante, eu acho que é preciso a União Europeia e os Estados Unidos terem boa vontade, o Putin ter boa vontade, o Zelensly ter boa vontade para a gente poder voltar a ter paz no mundo”.
Ajude a financiar o documentário da Fórum Filmes sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Clique em https://bit.ly/doc8dejaneiro e escolha o valor que puder ou faça uma doação pela nossa chave: pix@revistaforum.com.br.
Confira outros temas abordados por Lula:
Resultados da viagem à China
“Eu penso que uma coisa muito importante está acontecendo na relação Brasil-China. A gente está ultrapassando aquela fase das commodities e está entrando em outras necessidades. A gente está entrando na questão digital, nós temos muito a aprender com os chineses, a gente está entrando na questão da cultura. É preciso que a gente aprenda, e os chineses também, que é necessário ter mais chineses nas universidades brasileiras e mais brasileiros nas universidades chinesas.
É preciso que a gente discuta a questão da transição energética, porque o Brasil é um país que tem um potencial extraordinário de energia limpa em todos os aspectos, e que os chineses podem nos ajudar não apenas na construção da nova matriz energética, mas as empresas deles participarem de associação com empresas brasileiras.
Eu acho que um país que precisa tanto de ter uma interação na nossa conectividade da nossa educação, nas nossas escolas – e nós temos o compromisso de tentar levar internet, banda larga para todas as escolas públicas brasileiras, por todo o território –, nós vamos ter que construir parcerias com empresas chinesas para que isso possa acontecer.
Eu saio satisfeito porque eu sinto e senti uma extrema vontade do presidente Xi Jinping e dos ministros nessa interação com o Brasil. A nossa relação estratégica eu acho que ela vai se aperfeiçoando cada vez mais e nós não precisamos romper e brigar com ninguém para que a gente melhore. O Brasil tem que procurar os seus interesses, o Brasil tem que ir atrás daquilo que ele necessita e o Brasil tem que fazer acordos possíveis com todos os países. Nós não temos escolhas políticas, escolhas ideológicas. Nós temos uma escolha de interesse nacional. Interesse do povo brasileiro, interesse da indústria nacional, interesse da nossa soberania. E, portanto, eu saio daqui satisfeito. Ainda vou ter que passar em Abu Dhabi, vamos ter que assinar um acordo importante para o Brasil, de investimento no Brasil, e no domingo à noite estaremos todos juntos no Brasil”.
EUA e China
“Não acredito e não há nenhuma razão para isso (irritação dos EUA com a viagem à China). Quando eu vou conversar com os Estados Unidos eu não fico preocupado com o que a China vai pensar da minha conversa com os Estados Unidos. Eu estou conversando sobre os interesses soberanos do meu país. Quando eu venho conversar com a China eu também não fico preocupado com o que os Estados Unidos estão pensando. Eu estou conversando sobre os interesses soberanos dos Brasil. É assim que fazem os Estados Unidos, é assim que faz a China. É assim que fazem todos os países. Cada um negocia em defesa da sua soberania e da melhoria de vida do seu povo. Foi isso que eu vim fazer aqui, saio daqui muito satisfeito.
E tenho certeza que a nossa relação com a China não é necessariamente capaz de criar nenhum arranhão com os Estados Unidos. Eu fui visitar a Huawei porque tenho necessidade de fazer uma revolução digital no nosso país. Nosso país está muito atrasado e acho que não é correto não dar ao povo brasileiro a mesma oportunidade que outros países têm”.
Mudanças climáticas
“Não estamos (Brasil e China) em lados opostos. Em algum momento a gente poderia ter estado em lados opostos. Eu acho que agora há uma conjugação de interesses para todo mundo compreender que o planeta é um só. Agora, eu acho que há uma conjugação de interesses para todo mundo compreender que o planeta é um só. Todos nós estamos no mesmo barco e se ele afundar não escapa ninguém.
Os chineses têm responsabilidade com a questão ambiental. O Brasil tem responsabilidade e o mundo tem responsabilidade. O mundo industrializado precisa cumprir com a sua tarefa. Não é só oferecer dinheiro para os países pobres”.