Durante a COP28, o sultão Al Jaber, presidente da conferência e CEO da companhia estatal de petróleo dos Emirados Árabes Unidos, Adnoc, gerou controvérsia ao afirmar que "não há ciência" que indique a necessidade de eliminar o uso de combustíveis fósseis para limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Segundo Al Jaber, abandonar os combustíveis fósseis impediria o desenvolvimento sustentável, levando o mundo "de volta às cavernas".
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A fala do sultão foi revelada pelo jornal britânico The Guardian em reportagem veiculada neste domingo (3) e ocorre um dia depois que cinquenta das maiores companhias petrolíferas do mundo, incluindo a brasileira Petrobras e gigantes como a estadunidense ExxonMobil e a saudita Aramco, anunciaram a adesão a um acordo para diminuir as emissões de gás carbônico em suas operações.
Essas declarações, feitas em resposta a perguntas da presidente do grupo The Elders e ex-enviada especial da ONU para mudanças climáticas, Mary Robinson, foram consideradas alarmantes por cientistas e em desacordo com a posição do secretário-geral da ONU, António Guterres.
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Robinson destacou a crise climática e a necessidade urgente de eliminar o uso de combustíveis fósseis. Al Jaber, no entanto, negou a necessidade científica de eliminar esses combustíveis para alcançar a meta de 1,5°C e desafiou Robinson a mostrar um roteiro para tal ação que ainda permita o desenvolvimento socioeconômico sustentável.
A posição de Al Jaber, especialmente dada sua ligação com a indústria petrolífera, foi vista por muitos como um conflito de interesses significativo e uma abordagem quase negacionista às mudanças climáticas.
Especialistas defendem fim do uso dos combustíveis fósseis
Mais de 100 países defendem o fim do uso de combustíveis fósseis, com debates intensos na COP28 sobre se o acordo final exigirá tal ação ou optará por uma linguagem mais branda como "redução gradual".
Cortes rápidos e profundos são essenciais para zerar as emissões de combustíveis fósseis e limitar os impactos climáticos agravantes.
Especialistas climáticos, como Bill Hare, CEO da Climate Analytics, e o professor David King, presidente do Climate Crisis Advisory Group, expressaram preocupação com as declarações de Al Jaber. Ambos destacaram a clareza da ciência climática sobre a necessidade de eliminar os combustíveis fósseis para evitar um futuro inadministrável para a humanidade.
Friederike Otto, do Imperial College London, reforçou que a ciência das mudanças climáticas é clara há décadas sobre a necessidade de parar de queimar combustíveis fósseis.
A falha em eliminar os combustíveis fósseis na COP28 colocará milhões de pessoas vulneráveis em risco, marcando um legado negativo para a conferência.
Otto também rejeitou a alegação de que os combustíveis fósseis são necessários para o desenvolvimento em países mais pobres. Ele citou que o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas "mostra que os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU não são alcançáveis ao continuar com as atuais economias de alta emissão impulsionadas por combustíveis fósseis. [Existem] enormes benefícios colaterais que vêm com a mudança para um mundo livre de combustíveis fósseis".
Foco na meta de 1,5°C
Na COP28, o debate sobre o papel futuro dos combustíveis fósseis no sistema energético global e a necessidade de reduzir as emissões para atingir a meta de 1,5°C está em foco.
Um porta-voz da conferência enfatizou que, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, da sigla em inglês) e o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês), os combustíveis fósseis ainda desempenharão um papel, embora reduzido.
O presidente da COP28, Al Jaber, afirmou a necessidade de a indústria de petróleo e gás abordar as emissões e investir em energia limpa, alinhando-se ao objetivo de 1,5°C.
Sob a liderança de Al Jaber, a COP28 já operacionalizou um fundo de perdas e danos de mais de US$ 700 milhões, lançou um veículo climático de mercado privado de US$ 30 bilhões e obteve compromissos de 51 empresas de petróleo e 119 países para metas de descarbonização e triplicação da energia renovável.
No entanto, a nomeação de Al Jaber, também chefe da empresa de energia renovável Masdar, gerou controvérsias devido a vazamentos que sugeriam promoção de acordos de petróleo e gás nos Emirados Árabes Unidos.
A discussão sobre o fim ou a redução gradual dos combustíveis fósseis é complicada pela falta de definições acordadas e pela incerteza quanto às tecnologias de "abatimento" de emissões.
Mais de 100 países apoiam o fim do uso de combustíveis fósseis sem mitigação, enquanto outros, como Rússia, Arábia Saudita e China, rejeitam a ideia. As opções de mencionar apenas o carvão ou não abordar os combustíveis fósseis estão em debate na COP28.