A posse do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, neste domingo (10), reúne em Buenos Aires o que há de pior na política do planeta. Líderes ultraliberais, com políticas econômicas excludentes, adeptos da violência e saudosos de regimes autoritários se amontoam na bela capital para assistir à chegada ao poder de um de seus pares mais esquisitos e inusitados.
Chegaram por lá nas últimas horas o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acompanhado por um bando de parentes e aliados. O inelegível político brasileiro terá tratamento de Chefe de Estado, conforme anúncio do próprio anfitrião.
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Além dele, desembarcaram por lá o primeiro ministro da Hungria, Viktor Orbán, o ex-candidato presidencial chileno José Antonio Kast, o líder do partido espanhol Vox Santiago Abascal, o nome que lidera uma emergente extrema direita mexicana, o outsider Eduardo Verástegui, e o ministro de Segurança do governo de El Salvador, Gustavo Villatoro, enviado pelo presidente Nayib Bukele.
Outra presença internacional em Buenos Aires foi a do presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, cuja agenda ainda não foi revelada por motivos de segurança.
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De costas para o povo
Milei, que terá pela frente um desafio digno das grandes crises argentinas, surpreendeu a todos resolver discursar e frente a seus seguidores ao invés da tradição de décadas que é falar perante a Assembleia Legislativa, a casa do povo, segundo informa o Página 12. Esta escolha marcou o primeiro gesto do novo presidente de uma Argentina que há muito se acostumou com a cerimônia de posse no recinto legislativo.
Outro ponto digno de nota é a formação caótica de seu gabinete, acompanhado de uma transição desordenada, que aponta com sinais ambíguos. Ninguém é capaz de apostar qual Milei exatamente governará a Argentina. Se o influencer ultraliberal e libertário que ganhou notoriedade com um discurso antipolítica, ou sua versão mais pragmática, que fará concessões e negociará com pessoas de outras correntes ideológicas para aprovar reformas no Congresso.
Enquanto o Milei histriônico da campanha se apresentava como um político da direita não tradicional que vociferava contra a "casta" política, o Milei eleito e que, finalmente, chega a sua hora da verdade, tem se aproximado de nomes do establishment e montou uma equipe composta tanto por egressos do governo de Maurício Macri, de direita, como de Alberto Fernández, de esquerda.
Sem apoio do Congresso
Para piorar ainda mais a história, O partido de Milei não tem maioria na Câmara dos Deputados nem no Senado, e vai precisar do apoio de outros partidos.
A situação é parecida com a do Brasil, com uma diferença marcante. Na Argentina, a eleição para o Legislativo é em lista fechada —ou seja, os dirigentes de partido controlam quem estará no topo da lista e no fim da lista. Na prática, os “chefes” de partido das províncias têm mais poder de barganha com o Executivo nacional.