NATURE PARTY

260 corpos são encontrados em rave no sul de Israel que foi atacada pelo Hamas

Dois brasileiros teriam desaparecido após o ataque à rave e outro se feriu com estilhaços de bombas mas conseguiu fugir, foi socorrido e já recebeu alta hospitalar

Juarez Swarup Petrillo, pai de Alok, filma festival Universo Paralello durante ataque do Hamas em Israel.Créditos: Reprodução/Twitter
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O festival Nature Party acontecia no sul de Israel na manhã do último sábado (7) quando começaram os ataques do Hamas. O próprio evento acabou sendo atacado, precisando se encerrar às pressas com a queda de mísseis e a aproximação de homens do Hamas que atacavam pontos do território israelense. Ao longo da noite, participantes empreenderam fugas deserto adentro para escapar dos ataques, alguns conseguiram. No entanto, neste domingo (8), equipes de resgate relatam que encontraram pelo menos 260 corpos no local.

A região onde ocorria o evento é famosa por abrigar festivais de música eletrônica. O local fica distante 20 km da Faixa Gaza, de onde partiu a ofensiva do Hamas. Rafael Zimmerman, brasileiro que mora em Israel, foi ferido no festival por estilhaços de bombas. Ele já foi atendido e recebeu alta do hospital. Foi um dos que conseguiu escapar.

Brasileiros desaparecidos

Dois brasileiros que estariam no festival estão desaparecidos, conforme informações do Ministério das Relações Exteriores. No entanto, as informações estão desencontradas nos meios de comunicação brasileiros. Muitos, incluindo a Globo e a Folha, estão fazendo confusão entre os festivais Nature Party, realizado perto da fronteira com a Faixa de Gaza, e o Universo Paralello, próximo a Tel-A-Viv.

Bruna Valeanu, de 24 anos, seria um dos cidadãos brasileiros desaparecidos perto da Faixa de Gaza. Ela tem dupla nacionalidade, brasileira e israelense, e sua última comunicação com a família foi no sábado por volta das 9 horas da manhã. Ranani Nidejelski Glazer, também de 24 anos e com dupla nacionalidade, seria o outro desaparecido no Nature Party. Ele morou em Israel há sete anos e prestou serviço militar no país. Estava em Israel e fez recentes publicações no Instagram sobre o festival de música que participava.

Karla Stelzer Mendes também é brasileira-israelense, tem 41 anos e um filho de 19, membro do exército israelense. Ela é a terceira brasileira que está desaparecida segundo divulgou o Itamaraty, mas não há informações sobre sua presença no festival.

O Itamaraty também informou que há cerca de mil brasileiros pedindo resgate, o que deve acontecer entre esta segunda-feira (9) e terça-feira (10), quando o Governo Federal vai enviar seis aviões da FAB para a repatriação do grupo. Os brasileiros preencheram um formulário disponível no site da Embaixada brasileira em Tel Aviv. O preenchimento, porém, não garante a repatriação e a lista é divulgada posteriormente. A maioria é de turistas.

O Ministério das Relações Exteriores estima que há 14 mil brasileiros residentes em Israel e 6 mil na Palestina. A grande maioria fora da área afetada pelos ataques.

Festival Universo Paralello

Outro festival que acabou atacado pela ofensiva do Hamas foi o Universo Paralello, idealizado por produtores brasileiros e que ocorria nas cercanias de Tel-Aviv. Após ser alvo de mísseis e foguetes do Hamas, o evento também se encerrou rapidamente.

O pai do músico Alok, o também DJ Juarez Petrillo, filmou o momento em que bombardeio do Hamas contra Israel interrompe o festival. Ele seria o próximo artista a se apresentar. "Estou em choque até agora! E as bombas não param de explodir… depois conto mais detalhes", escreveu.

Em outra postagem, ele conta que deveria ser ele se apresentando no momento do bombardeio, mas a apresentação atrasou uma hora. Juarez completou ainda que tinha três “sets” para tocar, mas acordou passando mal.

“Surreal! [...] Já estava no palco para tocar. Espiritual demais! Foi a primeira vez que aconteceu isso, nunca uma festa parou assim! Sei nem o que fazer e dizer”, escreveu.

O conflito

Na manhã deste sábado (7) o Hamas, grupo político islâmico-palestino considerado terrorista por uma série de países ocidentais por sua relação com o Irã e um passado de ações que valem o rótulo, empreendeu a chamada “Tempestade Al-Aqsa”, uma operação militar surpresa para agredir Israel, a quem alega estar intensificando as políticas de invasão da Faixa de Gaza. Como resposta, o governo israelense do premiê Benjamin Netanyahu lançou a operação “Espadas de Ferro”, que consiste no bombardeio da cidade de Gaza. Ao todo, o conflito já deixou pelo menos 1100 mortos.

O Hamas emitiu uma nota pública explicando a razão da sua operação. “O povo palestino e sua resistência estão a levar a cabo uma operação para defender o povo, a terra e os locais sagrados,” diz a nota.

O movimento acusa a ocupação israelense, lembrando que todo o território de Israel era controlado pelos palestinos antes de 1947, de estar impedindo o acesso à Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, importante templo para os palestinos muçulmanos. Além disso, o grupo também exige a liberação dos presos políticos palestinos e o fim da ocupação.

Na Tempestade Al-Aqsa, o Hamas lançou uma série de mísseis e foguetes contra o território hoje controlado por Israel. Cerca de 2 mil combatentes também derrubaram muros, checkpoints e tomaram bases da IDL (Israeli Defense Forces), adentrando o território. De acordo com informações do lado israelense, atiradores palestinos estariam realizando massacres e fazendo reféns em 22 localidades no sul do país.

De acordo com as autoridades israelenses, o ataque – que é o maior desde a Guerra do Yom Kippur, quando forças árabes invadiram o país há 50 anos – já deixou pelo menos 700 mortos e 2000 feridos.

Já a resposta de Israel, que bombardeou até mesmo hospitais na Faixa de Gaza, deixou 420 mortos no lado palestino, além de milhares feridos e desabrigados.

A ONG Médicos Sem Fronteiras que atua na Faixa de Gaza denunciou os bombardeios a hospitais, equipamentos de saúde e a morte médicos e enfermeiros. Entre as instituições afetadas, estão o Hospital Indonésio e o Hospital Nasser, ambos na cidade de Gaza.

“Pedimos a todas as partes que respeitem as infraestruturas de saúde, que precisam continuar sendo um santuário para as pessoas que estão em busca de tratamento”, diz a Médicos Sem Fronteiras em nota.

Hezbollah entra em cena

A tensão aumentou ainda mais na manhã deste domingo por conta de uma intervenção do Hezbollah, organização política e paramilitar islâmica do Líbano, que lançou mísseis contra três posições militares israelenses e uma região denominada Fazendas de Sheeba, território reivindicado pelos libaneses ocupado por Israel desde 1967. O ataque do Hezbollah, segundo o próprio grupo, se deu em "solidariedade" ao povo palestino. 

Forças militares israelenses, então, responderam à investida do Hezbollah com ataques ao Sul do Líbano utilizando mísseis e drones. O governo israelense também tenta evacuar as localidades da fronteira norte, com o Líbano.

Declaração de guerra

Neste domingo (8) o premiê Benjamin Netanyahu anunciou que o país está oficialmente em guerra, ao contrário do anúncio de sábado de “estado de guerra”, e autorizou as operações militares correspondentes.

“A guerra que foi imposta ao Estado de Israel em um ataque terrorista assassino da Faixa de Gaza começou na manhã de ontem”, diz o comunicado do Gabinete de Segurança de Israel, explicando o anúncio.

A declaração veio em momento que as autoridades sanitárias de Israel apontavam 700 mortos e 2,2 mil feridos, dentre os quais 365 estariam em estado grave. Do lado palestino, até o momento, foram 413 mortes confirmadas na Faixa de Gaza e 7 na Cisjordânia.

Com a declaração de guerra, o Estado de Israel pode fazer uma ampla mobilização de reservistas, lembrando que a sociedade israelense é altamente militarizada e que todos os seus cidadãos, ou quase todos, em algum momento fazem o serviço militar e concluem o período indo para a reserva.

Nesse contexto, as autoridades israelenses preparam a evacuação de 24 localidades do sul do país que fazem fronteira ou estão perto da Faixa de Gaza, o epicentro da atuação do Hamas que agora sofre com bombardeios. Com população de quase 2 milhões de habitantes, a cidade de Gaza já registrou pelo menos 20 mil desabrigados após os ataques.

Nesta manhã as forças israelenses anunciaram a destruição de uma série de instalações do Hamas em Gaza, através dos bombardeios aéreos. A sede de inteligência do Hamas, além de dois bancos e instalações militares teriam sido destruídos.

A comunidade internacional acompanha com atenção e preocupação a escalada do conflito. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin "Bibi" Netanyahu, e ofereceu "apoio total" ao país para dar resposta ao ataque do Hamas. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, se disse "chocado" com a investida da organização islâmica-palestina e anunciou que "não poupará esforços para evitar a escalada do conflito, inclusive no exercício da Presidência do Conselho de Segurança da ONU".