O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, participou neste sábado (21) de uma cúpula convocada pelo Egito para tratar da guerra em curso no Oriente Médio. Em seu discurso, Vieira fez duras críticas ao Conselho de Segurança da ONU e afirmou que sua "paralisia prejudica a vida de milhões".
"A paralisia do Conselho de Segurança vem tendo consequências negativas para a segurança e para as vidas de milhões de pessoas. Isso não é do interesse da comunidade internacional", iniciou Mauro Vieira.
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Em seguida, o ministro reforçou a posição do Brasil em busca do diálogo e da paz. "Conforme afirmou o presidente Lula, a atual crise requer com urgência uma ação humanitária multilateral para acabar com o sofrimento de civis encurralados pelas hostilidades. Na condição de presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas durante o mês de outubro, o Brasil convocou sessões de emergência e promoveu o diálogo".
Posteriormente, Mauro Vieira classificou como "lamentável" o veto dos EUA à resolução do Brasil, que teve o apoio de 12 países, que previa a elaboração de uma "pausa humanitária" na guerra, e afirmou que "a simples administração do conflito não é uma alternativa aceitável".
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"Apesar desses esforços, lamentavelmente o Conselho de Segurança não pôde adotar uma resolução no dia 18 de outubro. A simples administração do conflito não é uma alternativa aceitável. Apenas a retomada de negociações efetivas pode trazer resultados concretos no sentido de implementar a solução de dois Estados, em sintonia com todas as resoluções relevantes da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança, com Israel e Palestina convivendo em paz e segurança, com fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas", disse Mauro Vieira.
Por fim, o ministro das Relações Exteriores do governo Lula reafirmou a "disposição para apoiar todos os esforços com esse objetivo", ou seja, a busca pela paz e a construção dos dois Estados com reconhecimento internacional.
Confira o discurso do ministro Mauro Vieira no vídeo abaixo:
CONFLITO NO ORIENTE MÉDIO | "A paralisia do Conselho de Segurança vem tendo consequências negativas para a segurança e para as vidas de milhões de pessoas." Disse Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, na cúpula convocada pelo Egito, hoje sábado (21). pic.twitter.com/zNtRBPigkh — CanalGov (@canalgov) October 21, 2023
EUA terão que justificar veto no Conselho de Segurança
A Organização das Nações Unidas (ONU) agendou para a próxima segunda-feira (23) uma reunião da Assembleia Geral para que o governo dos EUA explique o veto feito à resolução apresentada pelo governo Lula ao Conselho de Segurança para que fosse feita uma "pausa humanitária" nos ataques de Israel à Faixa de Gaza, na Palestina.
O gesto raro na diplomacia mundial acontece após o governo de Joe Biden votar contra a proposta brasileira, que teve a adesão de 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança. Na ocasião, a embaixadora estadunidense Linda Thomas-Greenfield justificou o veto porque a proposta não descrevia o direito de "autodefesa" de Israel.
Em carta divulgada nesta sexta, antes do agendamento da reunião, o Grupo Árabe e o Grupo da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) "solicitam a retomada da décima sessão especial de emergência da Assembleia Geral após o veto lançado em 18 de outubro de 2023 por um Membro Permanente do Conselho de Segurança sobre um projeto de resolução que aborda a grave situação do Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental".
Os países - entre eles Argélia, Indonésia, Arábia Saudita, Marrocos, Turquia, Moçambique, Nigéria, Camarões e Paquistão - buscam uma pausa urgente para assistência aos palestinos, além de apoio política para a ajuda humanitária em Gaza diante dos ataques das forças sionistas de Israel.
"À luz da gravidade da situação, devido, em particular, à agressão militar por parte de Israel, a potência ocupante, contra a população civil palestina na Faixa de Gaza, que, até a presente data, matou milhares de civis, incluindo crianças, mulheres e idosos, feriu dezenas de milhares, causou a destruição desenfreada de casas e outras propriedades e infraestrutura civis, e infligiu condições humanitárias catastróficas, arriscando uma desestabilização ainda mais perigosa da situação, colocando em risco mais vidas civis e ameaçando a paz e a segurança internacionais, é urgente que a Assembleia Geral se reúna para tratar dessa crise", diz a carta dos países árabes.
A saída para levar a resolução brasileira para a Assembleia Geral na ONU se justifica porque a medida pode ser aprovada por maioria absoluta dos 192 países.
No Conselho de Segurança, basta o veto de um dos cinco países que são membros permanentes - EUA, Rússia, China, França e Reino Unido - para derrubar a resolução. No caso da proposta brasileira, o governo dos EUA foi o único a vetar - Reino Unido e Rússia se abstiveram.
"Coração partido"
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, visitou nesta sexta-feira (20) a cidade fronteiriça de Rafah, onde fica o posto de controle entre o sul de Gaza e o Egito e por onde milhares de pessoas esperam para poder fugir dos bombardeios de Israel à Faixa de Gaza.
Muito emocionado, Guterres afirmou que "é impossível estar aqui e não sentir o coração partido”. A poucos metros do território palestino, o secretário-geral da ONU lamentou o fechamento da fronteira para entrada de ajuda humanitária.
"Atrás destes muros temos dois milhões de pessoas que sofrem enormemente, não têm água, nem comida, nem remédios, nem combustível, que estão sob fogo, que precisam de tudo para sobreviver”, disse, ao lado do comboio que aguarda autorização de Israel para entrar em Gaza.
“Não estamos buscando uma vitória. Queremos que comboios sejam autorizados a entrarem em números significativos todos os dias em Gaza para fornecer apoio suficiente ao povo", afirmou.