Os Estados Unidos já usaram 53 vezes o poder de veto em resoluções do Conselho de Segurança das Nações relativas ao Oriente Médio, a grande maioria em defesa dos interesses de Israel.
Os números são da própria ONU.
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O mais recente, que detonou uma resolução apresentada pelo Brasil, condenava ações terroristas do Hamas contra Israel no 7 de outubro e previa pausas humanitárias nos bombardeios a Gaza.
O representante da China na ONU se disse surpreso e qualificou o veto dos EUA de "inacreditável".
Rússia e Reino Unido se abstiveram, mas China e França votaram com o Brasil.
A resolução apresentada pela Rússia, que foi derrotada, propunha cessar-fogo.
Uma análise do histórico dos vetos mostra que os EUA frequentemente usam seu poder para que Tel Aviv ganhe tempo até atingir seus objetivos políticos ou militares.
No episódio mais recente, os EUA alegaram que a resolução brasileira não mencionava o direito de auto-defesa de Israel.
BASTIDORES
Porém, nos bastidores da ONU, a decisão do governo Biden foi atribuída a dois fatores: ganhar tempo para que Israel siga bombardeando Gaza sem dar satisfação à comunidade internacional e deixar claro que Washington está no comando das decisões relativas à crise.
Antes de vetar a resolução brasileira, os EUA tinham exercido este poder em 2018, quando palestinos protestaram contra a construção de cercas e pelo direito de retorno daqueles que foram expulsos de suas terras por Israel.
O texto registrava o "profundo alarme [do Conselho de Segurança] face à perda de vidas civis e ao elevado número de vítimas entre civis palestinos, particularmente na Faixa de Gaza, incluindo vítimas entre crianças, causadas pelas forças israelenses".
Na ocasião, os EUA culparam o Hamas unilateralmente pela violência.
Em dezembro de 2017, quando Donald Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel, o Conselho de Segurança tentou aprovar uma resolução que dizia que os EUA violavam decisões anteriores da própria ONU.
Dizia o texto, em parte, que:
Quaisquer decisões e ações que pretendam alterar o caráter, o status ou a composição demográfica da Cidade Santa de Jerusalém não tem efeito legal, são nulas e devem ser rescindidas em conformidade com as resoluções relevantes do Conselho de Segurança
A representante dos Estados Unidos disse que Washington "tinha tido a coragem e a honestidade de reconhecer uma realidade fundamental: Jerusalém foi a capital política, cultural e espiritual do povo judaico por milhares de anos".
Os árabes representam mais de 35% da população de Jerusalém e tem na cidade o templo que é considerado o mais sagrado pelos muçulmanos do planeta, a mesquita de Al Aqsa.
Israel incentiva assentamentos em Jerusalém com o objetivo de mudar a realidade demográfica.
O Escritório do Comissário de Direitos Humanos das Nações Unidas recebeu em março de 2023 um relatório sobre os planos de Israel de avançar com a colonização.
Um dos objetivos é dobrar o número de civis israelenses nas colinas de Golã, território da Síria ocupado por Israel, até 2027.
De 2012 a 2022, a população de colonos na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, cresceu de 520 mil para mais de 700 mil. Estes colonos viviam ilegalmente em 279 assentamentos em toda a Cisjordânia ocupada, incluindo 14 na Jerusalém Oriental ocupada, com uma população total de mais de 229 mil pessoas. Pelo menos 147 destes assentamentos eram postos avançados, ilegais mesmo ao abrigo da legislação interna de Israel.
Postos avançados são criados de maneira autônoma pelo movimento de colonização.
A Suprema Corte de Israel já decidiu que são ilegais.
Este é um dos motivos pelos quais o governo de extrema-direita de Benjamin Netanyahu queria limitar os poderes do Judiciário.
O relatório da ONU fez uma correlação entre o avanço dos assentamentos e a violência contra civis palestinos:
Durante a última década, as Nações Unidas verificaram 3.372 incidentes violentos cometidos por colonos, ferindo 1.222 palestinos. No ano passado, a violência dos colonos atingiu os níveis mais elevados já registrados pelas Nações Unidas. Israel não conseguiu investigar e processar crimes contra palestinos cometidos pelos colonos e pelas forças israelenses.
Ao mesmo tempo em que avança ilegalmente sobre território ocupado, o governo de Israel justifica suas ações militares se dizendo vítima dos que vivem sob ocupação.
Depois dos ataques do Hamas que mataram mais de 1.400 pessoas, a maioria civis, no dia 7 de outubro, a punição coletiva do povo palestino tem sido justificada até pelo presidente de Israel, Isaac Herzog:
É uma Nação inteira que é responsável. Não é verdade esta retórica sobre os civis não estarem conscientes, não estarem envolvidos. Não é absolutamente verdade. Eles poderiam ter se levantado. Eles poderiam ter lutado contra aquele regime maligno que tomou Gaza num golpe de Estado.
Não é verdade que o Hamas assumiu o poder em Gaza em um golpe de estado.
O grupo ganhou uma eleição em 2006, organizada com apoio da União Europeia, que se negou a reconhecer o resultado.
O Hamas obteria 74 cadeiras no Parlamento, ou 56%, contra 45 do Fatah, o partido de Mahmoud Abbas.
O grupo chegou a formar um gabinete para assumir a Autoridade Palestina, mas diante da resistência dos apoiadores de Mahmoud Abbas, assumiu o poder sozinho em Gaza depois de confronto militar com o Fatah e aliados.
Apesar da derrota, Abbas manteve o poder na Cisjordânia, com direito a representação na ONU e financiamento internacional.