TECNOLOGIA MORTAL

Míssil hipersônico: O que é, quem tem e por que muda o que entendemos por guerra?

Tecnologia usada pela primeira vez num combate real pela Rússia é o que há de mais inovador nos arsenais mundiais. No presente momento, é praticamente impossível se defender deles. Entenda

Teste com o míssil hipersônico Tsirkon, no Mar de Barents, no final de 2021 (TASS/Reprodução).
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Após a confirmação da Rússia, no último sábado (19), de que mísseis hipersônicos foram usados na Ucrânia, o mundo se viu diante de uma nova era no que diz respeito às modernas e tecnológicas armas utilizadas por militares de vários países, especialmente pelas grandes potências. Não que a existência desse tipo artefato fosse desconhecida, pelo contrário. É que agora ele foi usado num conflito real e seu desempenho é algo que mudará para sempre o que entendemos por guerra.

Um míssil hipersônico, dependendo do modelo e da tecnologia empregada, voa para seu alvo com uma assustadora velocidade que vai de cinco a dez vezes a velocidade do som (6.130 km/h a 12.348 km/h). Se não bastasse ser tão rápido a ponto de surpreender qualquer defesa aérea inimiga, eles são manobráveis, ou seja, não têm uma rota definida e previsível como os mísseis convencionais, podendo mudar de trajetória, fazer curva, desviar de possíveis obstáculos, virar à direita, à esquerda, enfim. Muitos mísseis de cruzeiro, como o famoso Tomahawk dos EUA, são guiados e podem se orientar por GPS para alterar suas rotas, só que eles voam a uma velocidade subsônica, ou seja, a menos de 1.234,8 km/h.

Com armas tão velozes e com capacidade tão grande de manobra e evasão, tudo o que foi desenvolvido em décadas em relação aos sistemas de defesa aérea poderiam ir por água abaixo, visto que com a tecnologia atual desses dispositivos de proteção seria praticamente impossível deter e interceptar os mísseis hipersônicos.

Atualmente, a maior parte dos especialistas acredita que apenas Rússia, China e EUA tenham mísseis desse tipo prontos, ou em vias de finalização, com destaque para o fato de que Moscou passou a investir pesado nessa tecnologia de 2002 para cá, depois da saída dos norte-americanos do Tratado de Mísseis Antibalísticos. O míssil hipersônico usado pelos russos na Ucrânia é o Kinzhal, embora o país ainda desenvolva o projeto de outros dois, o Tsirkon e o Avangard, este último um Veículo Planador Hipersônico (HGV, na sigla em inglês) que atinge elevadíssima altitude, saindo da atmosfera (bem diferente do Kinzhal, usado no ataque à Ucrânia), e que seria empregado para ataques com ogivas nucleares.

A China também desenvolve mísseis hipersônicos e seu projeto de Veículo Planador Hipersônico (HGV) ganhou notoriedade no final de 2021 após um teste bem sucedido mostrar que o artefato deu uma volta ao mundo, acertando um alvo em território chinês no seu regresso, o que assustou o vice-chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, general John Hyten.

“Eles lançaram um míssil de longo alcance. Ele deu a volta ao mundo, lançou um veículo hipersônico que deslizou até a China, que impactou um alvo na China”, admitiu perplexo o oficial em entrevista à rede CBS News.

Após o lançamento exitoso chinês e o uso dos mísseis hipersônicos feito pela Rússia, tanto o Kinzhal no combate real, quanto os testes com o Tsirkon, o governo norte-americano determinou que seus projetos de construção de mísseis hipersônicos e de Veículos Planadores Hipersônicos (HGV) fossem acelerados. Os artefatos são desenvolvidos em programas como o Conventional Prompt Strike, da Marinha, e agendas similares administradas pela Força Aérea, Exército e pela Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA).

De acordo com o Tom Karako, pesquisador da think tank Center for Strategic and International Studies (CSIS), que dirige o Projeto de Defesa de Mísseis dos EUA, assim como a Congressional Research Service, o instituto de pesquisas do Congresso norte-americano, países como Japão, Alemanha, Índia e Austrália têm investido no desenvolvimento de tecnologias que podem resultar na produção de mísseis hipersônicos.