TOLERÂNCIA MACABRA

Somente EUA e Ucrânia votaram contra resolução da ONU de combate ao nazismo

Resolução aprovada pela ONU em dezembro de 2021 manifesta preocupação com a glorificação do nazismo em alguns países, como aconteceu na Ucrânia após a deposição de presidente pró-Rússia

Neonazistas nos EUA (à esquerda) e batalhão Azov, conhecido por ser neonazista, na Ucrânia.Créditos: E-daily / Wikimedia Commons
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Desde que a Rússia lançou ofensiva militar contra a Ucrânia, na madrugada do dia 24 de fevereiro, muito tem se falado sobre a atuação de grupos neonazistas, inclusive dentro do governo, no país comandado por Volodymyr Zelensky. O presidente russo, Vladimir Putin, inclusive, tem afirmado, ao "justificar" os ataques, que procura "desnazificar" o país. 

Ainda que não seja possível classificar o governo de extrema direita ucraniano de nazista como um todo, é fato que grupos com inspirações extremistas e nazistas ascenderam no país ao longo dos últimos anos, principalmente após o movimento "Euromaiden" de 2014, apoiado pelos Estados Unidos, que culminou na queda do então presidente Viktor Yanukovych, que era aliado ao governo da Rússia. De lá para cá, símbolos nazistas e exaltação de antigos colaboradores ucranianos ao regime de Adolf Hitler passaram a ser mais comuns na nação do leste europeu. 

Foi na esteira dessa tolerância à ideologia nazista que a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, em dezembro do ano passado, por esmagadora maioria, uma resolução para combater a glorificação ao nazismo. "Coincidentemente", somente dois países votaram contra a resolução: Estados Unidos e Ucrânia

Ao todo, foram 130 votos a favor, 2 contra e 49 abstenções de países que foram pressionados pelos EUA. A resolução foi apresentada pela Rússia com o apoio de outros 30 membros da ONU. O mesmo documento foi apresentado nos anos anteriores, com votos contrários, mais uma vez, dos EUA e Ucrânia. 

A resolução aprovada pela ONU em 2021 fala em "combater a glorificação do nazismo, neonazismo e outras práticas que contribuem para alimentar formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata”.

"A Assembleia expressou profunda preocupação com a glorificação do movimento nazista, neonazismo e ex-membros da organização Waffen SS, inclusive erguendo monumentos e memoriais, realizando manifestações públicas em nome da glorificação do passado nazista, o movimento nazista e o neonazismo, e declarando ou tentando declarar tais membros e aqueles que lutaram contra a coalizão anti-Hitler, colaboraram com o movimento nazista e cometeram crimes de guerra e crimes contra a humanidade", diz a ONU. 

Ao justificar seu voto contra a resolução, os EUA invocaram a "liberdade de expressão" e afirmaram que a Rússia pratica "desinformação" para "denegrir nações vizinhas sob pretexto cínico de impedir a glorificação nazista". 

Ascensão nazista na Ucrânia 

As origens e motivações para o conflito Rússia e Ucrânia vêm de longa data e têm relação, principalmente, com a influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e dos Estados Unidos na região - o que para o governo russo representa uma ameaça. 

Essa tensão chegou ao ápice em 2014, quando ultranacionalistas que eram contra o presidente ucraniano Viktor Yanukovych, pró-Rússia, tomaram as ruas com protestos, em um movimento que ficou conhecido com "Euromaiden". O levante, apoiado pelos EUA, derrubou o governante que, aliado ao governo russo, tinha se recusado a assinar um acordo para se associar à União Europeia. 

Em meio a esses conflitos surgiu, entre outros do tipo, o Pravyi Sektor, grupo paramilitar, notadamente neonazista, que depois se tornou partido político. O grupo atuou diretamente para a derrubada do governo Yanukovych. A vitória dos manifestantes ultranacionalistas garantiu a incorporação de neonazistas nas forças armadas ucranianas

A bandeira usada pelo Pravyi Sektor leva o brasão de armas da Ucrânia, símbolo adotado por movimentos neonazistas, com o fundo em vermelho e preto. Eles dizem seguir a "tradição" do Exército Insurgente Ucraniano, que lutou na Segunda Guerra Mundial em cooperação com os nazistas e contra a União Soviética.  

A Organização dos Nacionalistas Ucranianos, da qual derivou o grupo, introduziu elementos de fascismo, expansionismo e darwinismo social em sua ideologia.

Ao se pronunciar sobre os ataques militares na Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (25), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou um dos objetivos da ação é "desnazificar" o país. 

"Vamos tentar alcançar a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia. E levar à Justiça aqueles que realizaram múltiplos crimes sangrentos contra civis, incluindo cidadãos da Federação da Rússia", disse o líder russo em um trecho de seu discurso. 

Um dos crimes sangrentos a que Putin se refere ocorreu no dia 2 de maio de 2014 e ficou conhecido como "Massacre na Casa dos Sindicatos". O ataque foi organizado pelo Pravyy Sektor e reuniu mais de mil pessoas que invadiram o prédio que era sede de organizações sindicais e do comitê regional do Partido Comunista da Ucrânia. Mais de mil militantes da extrema-direita participaram do ataque.