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Espírito de 1990: Seleção de Camarões busca superação para avançar às oitavas da Copa do Mundo do Catar 2022

Uma das mais tradicionais seleções africanas, Camarões encantou o mundo na Copa da Itália com atuações espetaculares do ídolo Roger Milla. Objetivo é perseguir a campanha histórica; saiba tudo sobre o Camarões

Eric Maxim Choupo-Moting.Eric Maxim Choupo-Moting, atacante do Bayern de Munique e da Seleção de CamarõesCréditos: Franco237/Wikimedia Commons
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Buscando encantar o mundo como em 1990, na Copa do Mundo da Itália, a Seleção de Camarões tem uma duríssima tarefa no Catar em 2022. Precisa vencer seus jogos contra Suíça e Sérvia, além de apresentar um bom futebol na última rodada do Grupo G contra o Brasil para se classificar e buscar um improvável primeiro título africano.

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A Seleção de Camarões é, ao lado da Nigéria, uma das mais fortes seleções africanas ao longo da história, e tem diversos jogadores que atuam nos mais variados mercados europeus. Seu maior título no futebol é a Medalha de Ouro dos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000. Também é pentacampeão da Copa Africana de Nações, levando a taça em 1984, 1988, 2000, 2002 e 2017.

A primeira participação camaronesa em Copas do Mundo foi na Espanha, em 1982, quando empatou os três jogos da primeira fase e acabou eliminado. O único gol marcado foi feito por M’Bida no empate em 1 a 1 com a Itália.

Sua participação mais marcante ocorreu em 1990, na Itália, quando terminou a primeira fase na liderança do Grupo B após vencer a Argentina por 1 a 0 com gol de Omam-Biyik e a Romênia por 2 a 1 com gols de Roger Milla, o grande astro camaronês aquele momento. A derrota por 4 a 0 para a já eliminada União Soviética, em partida apitada pelo brasileiro José Roberto Wright, não foi suficiente para tirar de Camarões a primeira posição.

Nas oitavas, Camarões venceu a Colômbia por 2 a 1 na prorrogação, novamente com dois gols de Roger Milla. Nas quartas, a seleção africana deu muito trabalho para a Inglaterra, ao empatar o jogo no tempo normal com gols de Kundé e Ekéké. Os ingleses só conseguiram fazer o seu gol da classificação aos 15 minutos da prorrogação, de pênalti.

Nas participações seguintes, Camarões não obteve o mesmo sucesso de 1990. Em 1994, nos Estados Unidos, perdeu para o Brasil por 3 a 0 na fase de grupos e terminou como lanterna. Em 1998, na França, perdeu para a Itália e apesar dos empates com Chile e Áustria, não escapou da lanterna. Em 2002 (Japão e Coreia do Sul), 2010 (África do Sul) e 2014 (Brasil) voltou a cair na primeira fase.

Para chegar à Copa do Mundo do Catar 2022, a Seleção de Camarões terminou em primeiro lugar, com 13 pontos, no Grupo D das Eliminatórias Africanas. Deixou para trás a Costa do Marfim, Moçambique e o Malaui. Em seguida, na fase final, começou perdendo em casa para a Argélia, por 1 a 0. Mas graças ao critério que valoriza o gol marcado fora de casa, a vitória por 2 a 1 em solo argelino garantiu os camaroneses em sua oitava Copa do Mundo.

O Camarões estreia contra a Suíça pelo Grupo G da Copa do Mundo do Catar na próxima quinta-feira (24), às 7h de Brasília, no Al Janoub. Em seguida encara a Sérvia, na segunda-feira seguinte (28), no mesmo estádio e horário da partida anterior. E encerrando sua participação na fase de grupos do mundial, tem a dura tarefa de segurar o Brasil, marcada para a sexta-feira, 2 de dezembro, às 16h no estádio de Lusail.

O que você precisa saber sobre a política no Camarões

O Camarões se organiza em uma República presidencialista, cujo presidente Paul Biya exerce o cargo desde 1982 na capital Yaondé. Ele é considerado um líder autoritário e é acusado de excluir a porção anglófona da população da vida política do país. Segundo presidente da história do país, sucedeu o pioneiro Ahmadou Ahidjo, que governou entre 1960 e 1982, quando renunciou. Paul Biya ganhou 7 eleições seguidas, a última em 2018, e assim se mantém há exatos 40 anos no poder. Ele tem 89 anos e é a principal figura do seu partido, o Movimento Democrático Popular do Camarões (RDPC).

O país é dividido em dez províncias e seu poder Legislativo é unicameral, dispondo de 180 assentos eleitos por voto direto para mandatos de 5 anos.

O que você precisa saber sobre a história do Camarões

Os primeiros habitantes da região foram a civilização Sao, formada em torno do Lago Chade, e os povos Baka, caçadores-coletores das florestas tropicais na região sul do país. Comumente chamado de “miniatura da África”, o Camarões tem geografia e cultura diversas, que apresentam características presentes em todo o continente. Geograficamente o país apresenta praias, montanhas, florestas tropicais, desertos e savanas.

Os primeiros colonizadores portugueses chegaram à região no século XV, nomeando a região como “Rio dos Camarões”. Especula-se que a região tenha sofrido com o esquema de tráfico humano para escravização nas Américas que vigorou até o século XIX em alguns países, como o Brasil. A partir da presença europeia, os povos da região começaram a se organizar para evitar que se tornassem colônias. Ao norte, os fulas estabeleceram no século XIX o poderoso Emirado de Adamawa enquanto nas outras regiões o sistema tribal se fortaleceu. O futuro país só cairia nas mãos do Império Alemão em 1884, quando os europeus realizaram a famigerada “Partilha da África”.

Após a Primeira Guerra Mundial e a derrocada do Império Alemão, o território de Camarões foi dividido entre a França e a Grã-Bretanha. O país só conseguiu se unificar e proclamar sua independência após a Segunda Guerra Mundial. O processo começou em 1950, quando o Union des Populations du Cameroun (UPC), partido que lutava pela independência do país, foi tornado ilegal pelos colonizadores. A partir daí uma guerra de independência tomou conta do país até que a independência da França fosse declarada em janeiro de 1960. Em outubro do ano seguinte finalmente a Grã-Bretanha foi expulsa e o país pôde unificar-se. A partir de 1984 passou a adotar o nome usado até a atualidade: República de Camarões.

O que você precisa saber sobre a economia do Camarões

Com uma população de quase 28 milhões de habitantes e PIB de 45 bilhões de dólares registrados em 2021, Camarões apresenta a pior renda per capita entre os países da Copa do Mundo ao lado de Senegal: cerca de 1600 dólares. Os níveis de pobreza do país se refletem no fato de seu Índice de Desenvolvimento IDH), de 0,576, ser considerado 'baixíssimo'.

Em comparação com outros países, o Camarões tem relativa estabilidade política e social, o que permite um maior desenvolvimento da agricultura e da indústria básica, que promove obras de infraestrutura no país como estradas, além dos setores de petróleo e madeira. Os principais produtos agrícolas que o Camarões exporta são banana-da-terra, cacau, óleo de palma, mandioca, milho, cana de açúcar, tomate e amendoim. A indústria, sobretudo alimentícia, se destaca pela produção de cerveja e óleo de amendoim, além, claro, da extração de petróleo e gás natural.

O que você precisa saber sobre a Cultura do Camarões

O Camarões é conhecido por conta da sua música, especialmente pelos estilos musicais característicos dos camaroneses como a makossa – que mistura música folclórica local com soul – popularizada por artistas como Manu Dibango, Franics Bebey e Moni Bilé.

Diverso e multicultural, o país também apresenta tolerância religiosa. Segundo dados de 2021, 57% da população professa o cristianismo, enquanto 23% pratica as diversas religiões nacionais oriundas das culturas tribais. Outras 20% são muçulmanos e 1% segue outras religiões, incluindo ateus, agnósticos e pessoas sem religião.

A seleção do Camarões: Os jogadores que vão participar da Copa

Buscando encantar o mundo como em 1990, na Copa do Mundo da Itália, a Seleção de Camarões tem uma duríssima tarefa no Catar em 2022. Precisa vencer seus jogos contra Suíça e Sérvia, além de apresentar um bom futebol na última rodada do Grupo G contra o Brasil para se classificar. Para isso, o técnico e ex-jogador Rigobert Song convocou os principais destaques do país que estão espalhados pelo mundo. Do goleiro Epassy, que joga no Abha da Arábia Saudita aos defensores Nkolou do Aris (Grécia), Mbaizo do Philadelphia Union (EUA); e os meias Ondoa do Hannover (Alemanha), Anguissa do Napoli (Itália) e Ntcham do Swansea (País de Gales).

O principal astro camaronês neste ano é o atacante Eric Maxim Choupo-Moting, nascido em Hamburgo, na Alemanha, em 1989, de pais camaroneses. Ele começou a carreira em 2007 no Hamburgo, após passar pelo St. Pauli, o outro time da cidade, nas categorias de base. Ele ainda jogou no Nuremberg, Mainz05 e Schalke04 antes de ir jogar para a Inglaterra, onde defendeu o Stoke City na temporada 2017-18.

Entre 2018 e 2020, Choupo-Moting jogou no Paris Saint-Germain onde foi bicampeão francês, além de ganhar uma Copa da França e uma Copa da Liga Francesa. Em seguida se transferiu para o Bayern de Munique onde foi bicampeão alemão, e venceu o Mundial de Clubes e a Supercopa da Alemanha. Pela seleção de Camarões já marcou 19 gols em 68 jogos – de acordo com dados do último mês de junho.