FÓRUM NA COPA

Seleção do Marrocos chega a Copa do Mundo do Catar 2022 buscando campanha que orgulhe sua apaixonada torcida

Principais destaques marroquinos, Achraf Hakimi (Paris Saint-Germain), Noussair Mazraoui (Bayern de Munique) e Hakim Ziyech (Chelsea), são nascidos na Europa, filhos de imigrantes; saiba tudo sobre o Marrocos

Achraf Hakimi é lateral-direito do Paris Saint-Germain e da seleção do Marrocos..Achraf Hakimi, parceiro de Neymar no Paris Saint-Germain, em ação pela seleção do Marrocos contra o Irã na Copa do Mundo da Rússia, em 2018.Créditos: soccer.ru/Wikimedia Commons
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A Seleção do Marrocos chega a Copa do Mundo do Catar 2022 querendo mostrar uma campanha digna de orgulho ao seu apaixonado torcedor - famoso pelas torcidas que da sua liga local, como o do Raja Casablanca - mas em um Grupo F onde enfrenta duas fortes seleções europeias, Croácia e Bélgica, além do Canadá, o país aparece como franco-atirador e forte candidato a ficar pelo caminho. Para reverter os prognósticos, o técnico Walid Regragui conta com um elenco espalhado por diversas ligas e tem, como principais destaques, os laterais-direitos Achraf Hakimi do Paris Saint-Germain e Noussair Mazraoui do Bayern de Munique, além do atacante Hakim Ziyech, do Chelsea.

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A Seleção do Marrocos já ganhou dois títulos oficiais: a Copa Africana de Nações em 1976 e a Copa das Nações Árabes em 2012. No entanto nas cinco participações que teve em Copas do Mundo, em quatro delas acabou eliminado já na primeira fase – México (1970), Estados Unidos (1994), França (1998) e Rússia (2018). Na França, inclusive, esteve no Grupo A, onde empatou com a Noruega, perdeu para o Brasil e venceu a Escócia. Mas mesmo com a vitória no jogo derradeiro não conseguiu se classificar.

Sua melhor participação foi em 1986, no México, quando empatou sem gols com Inglaterra e Polônia na primeira fase, além de vencer Portugal por 3 a 1 e se classificou para as oitavas de final com 4 pontos. Na fase seguinte acabou perdendo para a vice-campeã Alemanha Ocidental por 1 a 0.

Nas Eliminatórias Africanas para a Copa do Mundo do Catar 2022, o Marrocos passou com facilidade e uma campanha sem empates ou derrotas pelo Grupo I, onde terminou em primeiro lugar com 18 pontos – 12 na frente de Guiné-Bissau, segunda colocada. Ficaram pra trás ainda o Sudão e a Guiné. Na fase final empatou como visitante, em 1 a 1, com a República Democrática do Congo e, em seguida, venceu a volta em casa por 4 a 1 para conquistar a vaga.

O Marrocos estreia pelo Grupo F da Copa do Mundo do Catar 2022 contra a atual vice-campeã Croácia na próxima quarta-feira (23 de novembro), no estádio Al Bayt, às 7h no horário de Brasília. Na sequência do Grupo F, o Marrocos encara a forte seleção da Bélgica no domingo (27), às 10h em Al Thumama. Fechando sua participação na fase de grupos do mundial, o Marrocos joga contra o Canadá na quinta-feira seguinte (1), às 12h, novamente no Al Thumama.

Veja vídeo da torcida do Raja Casablanca do Marrocos entoando emocionante canto em homenagem aos palestinos; legendado em português

O que você precisa saber sobre a política no Marrocos

O Marrocos se organiza como uma Monarquia constitucional, em que o Rei Maomé VI divide o poder com o primeiro-ministro Aziz Akhannouch na capital Rabat. Casablanca, lar dos fervorosos torcedores do Raja Casablanca é a maior cidade do país. Dado seu caráter multiétnico, há dois idiomas oficiais no país: o árabe e o berbere.

O que você precisa saber sobre a história do Marrocos

Povos berberes habitavam a região oeste do Norte da África até serem colonizados por árabes em meados do século VII, quando foram trazidos ao país a língua árabe e a religião do Islã. A partir do século XI, com a ascensão de poderosas dinastias bérberes, como os almorávidas e almóadas, o Marrocos dominou toda a região do Magrebe, ou seja, a porção costeira e desértica do Norte da África, além de boa parte da Península Ibérica. Quando houve a dita “Reconquista Ibérica”, no século XV, por parte dos reinos cristãos, muitos muçulmanos e judeus que viviam na região fugiram para o Marrocos, ao sul.

Em 1415 Portugal conquista a cidade de Ceuta e em menos de 100 anos todo o litoral marroquino estaria nas mãos de portugueses e espanhóis. A cidade de Ceuta, com importante localização geográfica, por estar no estreito que separa o Marrocos da Espanha por poucos quilômetros de mar, segue como território espanhol nos dias de hoje. Em 1661 parte do país passou para as mãos da Inglaterra como pagamento de dote da Rainha Catarina de Bragança ao seu marido Carlos II da Inglaterra.

Entre 1830 e 1860 o Marrocos foi disputado por países europeus que, recém industrializados, viam potencial de colonização para obtenção de matérias-primas no norte da África. Após um rápido conflito com a França, que chegou a ocupar o país, os espanhóis venceram a disputa e se mantiveram à frente do Marrocos até 1904 quando França e Espanha dividiram o país em áreas de influência. Em 1912, o Tratado de Fez transformou o Marrocos em um protetorado francês. O país abrigou o exército Francês durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, além do exército insurgente fascista do general Francisco Franco em sua preparação para atacar a Espanha e iniciar a Guerra Civil Espanhola, com a não aceitação de uma República Espanhola progressista.

O Marrocos só foi tornar-se independente em 1956, quando o Sultão Maomé V assumiu o poder enquanto a Espanha se encontrava destruída pela própria guerra civil e a França sofria derrotas anticoloniais na vizinha Argélia. Em 1957 Maomé V transformou o Marrocos em um reino e em 1974 o rei Haçane II declarou intenções de expandir seu território sobre o então Saara Espanhol, atualmente conhecido como Saara Ocidental, região rica em minérios.

A ocupação e anexação foi confirmada em novembro de 1975, com o avanço da “Marcha Verde”, como ficou conhecido o exército marroquino, composto por 350 mil homens desarmados sobre o Saara Ocidental. Em fevereiro do ano seguinte surgiu a Frente Polisário, grupo independentista do Saara Ocidental que buscava restabelecer no país o governo da República Árabe Saarauí Democrática (RASD). Após expulsar o pequeno exército da Mauritânia ao sul e segurar as tropas de Haçane II ao norte, os saarauis conseguiram manter o controle do seu território. Soldados marroquinos no entanto ocuparam áreas de mineração, onde permanecem até hoje, fazendo o que chamam de “triângulo militar de segurança”, para permitir o trabalho da mineração nas zonas reivindicadas pelos saarauis.

O que você precisa saber sobre a economia do Marrocos

Com cerca de 37,5 milhões de habitantes, o Marrocos teve um PIB de 133 bilhões de dólares em 2021, o que desemboca em uma renda per capita de 3,5 mil dólares. Como é possível notar pelos números, o país é bem precário e apresenta altíssimos índices de pobres. Seu Índice de Desenvolvimento Humano, baixíssimo, é o 123°do mundo e está em 0,683. Andando pelas estradas e cidades do país, com exceção das grandes cidades como Casablanca e Marrakesh, as paisagens parecem oriundas de tempos passados. É comum ver camponeses viajando longas distâncias em carros de burro, ao invés de caminhões, para transportar suas produções.

Desde os anos 90 o país vem adotando uma política de privatização dos serviços e empresas públicas, o que lhe rendeu uma piora no atendimento, assim como no retorno que essas empresas dão à sociedade. As reservas de petróleo do país são sub exploradas ainda que boa parte da sua economia dependa do setor. Já a agricultura marroquina é o setor mais potente do país que se apresenta como um dos maiores produtores de azeitonas, figos, tangerinas, cevada, batata, cebola, melancia, maçã e cana-de-açúcar. Na mineração, o país é um dos maiores produtores de fosfato do mundo e um dos principais produtores de cobalto. O turismo também é muito importante para a economia marroquina e é comum que os habitantes de cidades turísticas saibam falar diversos idiomas ocidentais além do árabe e do berbere.

O que você precisa saber sobre a Cultura do Marrocos

A principal vertente da cultura marroquina é a culinária e a vida comunitária, que se entrelaçam. Nas cidades, a comida e o tradicional chá de hortelã com açúcar, típico marroquino, são oferecidos a vizinhos que fazem favores ou boas ações. Pratos que levam o famoso cuscuz marroquino, feito a partir de semolina, acompanham carnes de frango ou ovelha, além de batatas, cebolas e temperos típicos – o que aliás é outra marca da culinária do país. Talheres? Só para ocidentais. O mais comum é comer com as mãos com o auxílio de pães.

Além disso, há parte da população que vive como nômade nas áreas do deserto do Saara ou nas montanhas rochosas do Atlas. Essas populações têm seus próprios tempos para cultivo e manutenção da pecuária, além dos momentos certos para viajarem aos mercados mais próximos a fim de trocar seus animais, temperos e produtos, por outros itens de que necessitam. A criação de camelos é muito desenvolvida por esses povos e os animais são usados como meio de transporte para as viagens.

A seleção do Marrocos: Os jogadores que vão participar da Copa

Para reverter os prognósticos que dão seus rivais Bélgica e Croácia como principais favoritos a se classificarem pelo Grupo F da Copa do Mundo, o técnico Walid Regragui conta com um elenco espalhado por diversas ligas e tem, como principais destaques, os laterais-direitos Achraf Hakimi, parceiro de Neymar no Paris Saint-Germain, e Noussair Mazraoui, do gigante alemão Bayern de Munique, além do atacante Hakim Ziyech, do Chelsea.

Nascido no seio da comunidade marroquina de Madrid, em 1998, Achraf Hakimi foi revelado pelo Real Madrid Castilla em 2016 e no seguinte já atuava pela equipe principal do Real Madrid, onde se projetou. Em 2018 foi para o Borussia Dortmund e, dois anos depois transferiu para a Inter de Milão. Chegou ao Paris Saint-Germain em 2021, onde foi campeão francês ao lado do craque brasileiro Neymar.

Assim como Hakimi, Noussair Mazraoui também é nascido na Europa de pais marroquinos. O lateral-direito de 25 anos nasceu na Holanda, onde foi revelado pelo Jong Ajax em 2016. No ano seguinte foi para a equipe principal da equipe de Amsterdã e no começo da última temporada foi contratado pelo Bayern de Munique.

Já o atacante Hakim Ziyech, também nascido na Holanda de pais marroquinos, jogou no futebol holandês entre 2012 e 2020, quando transferiu-se para o Chelsea. Na Holanda passou por Heerenven, Twiente e Ajax. Pela seleção marroquina, o atacante de 29 anos marcou 17 gols em 40 jogos.