As seleções de Camarões, Senegal e Gana chegaram às quartas de final em torneios passados – 1990, 2002 e 2010, respectivamente – mas nenhuma equipe do continente jamais chegou às semifinais de uma Copa do Mundo. Em 2018 a frustração foi ainda maior: nenhuma seleção africana passou sequer da fase de grupos. Nesta edição diversos países apostam em técnicos locais. Será que a aposta decolonial ajudará Senegal, Marrocos, Gana, Camarões e Tunísia a colocar ao menos uma equipe africana entre as oito melhores do mundo?
Tradicionalmente, as seleções africanas convocavam técnicos europeus buscando competitividade, mas os resultados ao longo da história não chegam a empolgar. Neste ano as cinco seleções calssificadas operam uma mudança importante: todos escolheram técnicos de seus próprios países, em sua maioria ex-jogadores das respectivas equipes. O ex-jogador senegalês Aliou Cissé comanda a equipe de seu país, enquanto Camarões conta com Rigobert Song, Gana tem Otto Addo e o time de Marrocos é comandado por Walid Regragui. Apenas o treinador da Tunísia não é ex-jogador, mas Jalel Kadri também é prata da casa, tendo sido técnico de diversas equipes trunisianas em torneios locais.
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Camarões
No mesmo grupo que o Brasil na Copa do Mundo 2022, Camarões só venceu um jogo contra a seleção canarinho em 2002, por 1 a 0, na fase de grupos. O gol da vitória foi marcado pelo atacante Samuel Eto'o, aos 38 minutos. A primeira partida, entretanto, ocorreu em 1994, quando o time de Carlos Alberto Parreira venceu por 3x0 do time cujo capitão era Song, agora técnico da seleção camaronense no Catar.
A melhor campanha de Camarões, entretanto, foi em 1990, na Itália. Sob o comando de Roger Milla, Camarões iniciou de forma ousada o torneio, ganhando de 1 a 0 da campeã Argentina, que acabou ficando em terceira posição no grupo B – o que levaria a equipe dos hermanos a enfrentar e derrotar o Brasil nas oitavas de final. Camarões, por sua vez, venceu a Romênia por 2 a 1, depois perdeu de 4 a 0 para União Soviética, classificando-se para as oitavas. Nesta fase, a seleção camaronesa conquistou uma suada vitória sobre a Colômbia já na prorrogação.
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Polêmica
Nas quartas de final Camarões saiu atrás de sua adversária, a Inglaterra, mas conseguiu virar no segundo tempo. Em uma nova reviravolta, composta por dois pênaltis e muita polêmica, devolveu a vantagem aos ingleses, tirando o país africano da semifinal.
Além de Brasil e Camarões, Sérvia e Suíça compõem o Grupo G da Copa do Catar, o que torna a disputa acirrada. Além disso, reportagem do Estadão ifnorma que há “barreiras impostas por problemas políticos que envolvem o comando do país e da federação, além da polêmica convocação em que o treinador camaronês Rigobert Song parecia desconhecer alguns dos jogadores chamados”.
Senegal
Depois dos camaroneses vencerem a campeã Argentina em 1990, em 2002 foi a vez de Senegal, estreando em Copas do Mundo, derrotar a seleção que defendia o título, a França, por 1 a 0. Em seguida, conquistaram um empate de 1 a 1 com a potente Dinamarca. Na última rodada da primeira fase, arrancaram outro empate, por 3 a 3, em uma partida bastante disputada com o Uruguai.
A vitória contra a Suécia nas oitavas de final, assim como ocorrera entre Camarões e Colômbia, também se deu na prorrogação. Senegal 2, Suécia 1. Nas quartas de final, outra prorrogação, mas dessa vez a seleção senegalesa foi derrotada pela Turquia, por 1 a 0.
Campeã africana
Senegal chega ao Catar como campeã africana. Disputa o Grupo A com Holanda, Catar e Equador e apresenta-se como a seleção mais promissora do continente africano no torneio. "Há algumas edições, fomos ao Mundial conhecer a competição. Nós estávamos lá para aprender. Agora, estamos aqui para competir. As seleções africanas vão ao Catar para vencer. Quando olho para os meus meio-campistas, meus defensores, meu goleiro, não tenho nada a invejar, digamos, da França ou da Espanha. Kalidou Koulibaly é tão valioso quanto Marquinhos para o Brasil ou John Stones para a Inglaterra. Hugo Lloris não é melhor que Édouard Mendy. Esse é o tipo de confiança que quero que meus jogadores tenham. Quero que digam a si mesmos que, se a França pode vencer, por que não nós?", disse Aliou Cissé, técnico do Senegal, ao New York Times.
Gana
A trajetória de Gana até as quartas de final de uma Copa do Mundo marcou a edição de 2010, na África do Sul. Depois de uma boa campanha em 2006, quando a seleção do país chegou às oitavas, ate ser desclassificada pelo Brasil, as expectativas eram boas na primeira Copa em território africano.
Tendo a Alemanha como favorita do grupo D, Gana disputou o segundo lugar da chave com Austrália e Sérvia. N aprimeira partida, venceram a Sérvia por 1 a 0, depois empataram com a Austrália por 1 a 1 e, como esperado, a equipe ganesa foi derrotada pelos alemães por 1 a 0, mas obteve a classificação. Única seleção africana a ir para as oitavas naquela edição, venceram os Estados Unidos por 2 a 1 na prorrogação.
Batalha épica
De acordo com o Estadão, “a batalha das quartas entraria para os almanaques da Copa do Mundo. Com o empate em 1 a 1 no tempo normal, mais 30 minutos aguardavam Uruguai e Gana. No minuto final da prorrogação, um lance que ficou marcado na história. Luis Suárez impediu um gol ganês ao salvar um chute com a mão na linha do gol. O atacante foi expulso e o pênalti, assinalado. Asamoah Gyan desperdiçou a cobrança, levando o duelo para os pênaltis. Gana esteve muito perto da semifinal, mas nas cobranças de pênalti, os bicampeões levaram a melhor, ganhando por 4 a 2, com direito a cavadinha de Loco Abreu na batida decisiva”.
No Catar, Gana jogará novamente com o Uruguai, na rodada final da fase de grupos. “Com certeza isso vai estar na cabeça de alguns jogadores, porque na época foi uma partida decisiva não só para Gana, mas para toda a África. Se tivesse vencido, Gana seria a primeira equipe africana em toda a história das Copas a chegar numa semifinal. Foi muito doloroso, mas agora é outra geração que está em campo”, afirmou à Fifa o técnico ganês Otto Addo.
Tudo é possível
O técnico ganês, Otto Addo, avalia que se o país se sair bem na fase de grupos, “tudo é possível”. Addo analisa que "temos três adversários difíceis na fase de grupos. Se não conseguirmos jogar o necessário ou não estivermos prontos para cumprir com as exigências táticas, será difícil. Especialmente porque Portugal, Uruguai e Coreia do Sul são seleções muito fortes, com qualidade dentro e fora do campo. Será difícil pará-los, mas, como eu disse, temos qualidade para derrotá-los. Se passarmos da fase de grupos, tudo será possível".
Também classificados, Marrocos e Tunísia não possuem trajetórias desatcadas em participações anteriores em mundiais. Os marroquinos chegaram às oitavas uma única vez, em 1986, e a seleção da Tunísia nunca passou da fase de grupos. Marrocos está no Grupo F, disputando com Bélgica, Canadá e Croácia. A Tunísia compõe a chave D, ao lado de França, Austrália e Dinamarca.