DECOLONIALIDADE

Seleções africanas apostam em técnicos locais para chegar às semifinais

Lideradas tradicionalmente por treinadores europeus, seleções de países africanos apostam em técnicos de seus próprios países para alcançar semifinais pela primeira vez.

Rigobert Song.Técnico da seleção camaronesa foi capitão do time em 1994.Créditos: Divulgação / Fifa
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As seleções de Camarões, Senegal e Gana chegaram às quartas de final em torneios passados – 1990, 2002 e 2010, respectivamente – mas nenhuma equipe do continente jamais chegou às semifinais de uma Copa do Mundo. Em 2018 a frustração foi ainda maior: nenhuma seleção africana passou sequer da fase de grupos. Nesta edição diversos países apostam em técnicos locais. Será que a aposta decolonial ajudará Senegal, Marrocos, Gana, Camarões e Tunísia a colocar ao menos uma equipe africana entre as oito melhores do mundo?

Tradicionalmente, as seleções africanas convocavam técnicos europeus buscando competitividade, mas os resultados ao longo da história não chegam a empolgar. Neste ano as cinco seleções calssificadas operam uma mudança importante: todos escolheram técnicos de seus próprios países, em sua maioria ex-jogadores das respectivas equipes. O ex-jogador senegalês Aliou Cissé comanda a equipe de seu país, enquanto Camarões conta com Rigobert Song, Gana tem Otto Addo e o time de Marrocos é comandado por Walid Regragui. Apenas o treinador da Tunísia não é ex-jogador, mas Jalel Kadri também é prata da casa, tendo sido técnico de diversas equipes trunisianas em torneios locais.

Camarões

No mesmo grupo que o Brasil na Copa do Mundo 2022, Camarões só venceu um jogo contra a seleção canarinho em 2002, por 1 a 0, na fase de grupos. O gol da vitória foi marcado pelo atacante Samuel Eto'o, aos 38 minutos. A primeira partida, entretanto, ocorreu em 1994, quando o time de Carlos Alberto Parreira venceu por 3x0 do time cujo capitão era Song, agora técnico da seleção camaronense no Catar.

A melhor campanha de Camarões, entretanto, foi em 1990, na Itália. Sob o comando de Roger Milla, Camarões iniciou de forma ousada o torneio, ganhando de 1 a 0 da campeã Argentina, que acabou ficando em terceira posição no grupo B – o que levaria a equipe dos hermanos a enfrentar e derrotar o Brasil nas oitavas de final. Camarões, por sua vez, venceu a Romênia por 2 a 1, depois perdeu de 4 a 0 para União Soviética, classificando-se para as oitavas. Nesta fase, a seleção camaronesa conquistou uma suada vitória sobre a Colômbia já na prorrogação.

Polêmica

Nas quartas de final Camarões saiu atrás de sua adversária, a Inglaterra, mas conseguiu virar no segundo tempo. Em uma nova reviravolta, composta por dois pênaltis e muita polêmica, devolveu a vantagem aos ingleses, tirando o país africano da semifinal.

Além de Brasil e Camarões, Sérvia e Suíça compõem o Grupo G da Copa do Catar, o que torna a disputa acirrada. Além disso, reportagem do Estadão ifnorma que há “barreiras impostas por problemas políticos que envolvem o comando do país e da federação, além da polêmica convocação em que o treinador camaronês Rigobert Song parecia desconhecer alguns dos jogadores chamados”.

Senegal

Depois dos camaroneses vencerem a campeã Argentina em 1990, em 2002 foi a vez de Senegal, estreando em Copas do Mundo, derrotar a seleção que defendia o título, a França, por 1 a 0. Em seguida, conquistaram um empate de 1 a 1 com a potente Dinamarca. Na última rodada da primeira fase, arrancaram outro empate, por 3 a 3, em uma partida bastante disputada com o Uruguai.

A vitória contra a Suécia nas oitavas de final, assim como ocorrera entre Camarões e Colômbia, também se deu na prorrogação. Senegal 2, Suécia 1. Nas quartas de final, outra prorrogação, mas dessa vez a seleção senegalesa foi derrotada pela Turquia, por 1 a 0.

Campeã africana

Senegal chega ao Catar como campeã africana. Disputa o Grupo A com Holanda, Catar e Equador e apresenta-se como a seleção mais promissora do continente africano no torneio. "Há algumas edições, fomos ao Mundial conhecer a competição. Nós estávamos lá para aprender. Agora, estamos aqui para competir. As seleções africanas vão ao Catar para vencer. Quando olho para os meus meio-campistas, meus defensores, meu goleiro, não tenho nada a invejar, digamos, da França ou da Espanha. Kalidou Koulibaly é tão valioso quanto Marquinhos para o Brasil ou John Stones para a Inglaterra. Hugo Lloris não é melhor que Édouard Mendy. Esse é o tipo de confiança que quero que meus jogadores tenham. Quero que digam a si mesmos que, se a França pode vencer, por que não nós?", disse Aliou Cissé, técnico do Senegal, ao New York Times.

Gana

A trajetória de Gana até as quartas de final de uma Copa do Mundo marcou a edição de 2010, na África do Sul. Depois de uma boa campanha em 2006, quando a seleção do país chegou às oitavas, ate ser desclassificada pelo Brasil, as expectativas eram boas na primeira Copa em território africano.

Tendo a Alemanha como favorita do grupo D, Gana disputou o segundo lugar da chave com Austrália e Sérvia. N aprimeira partida, venceram a Sérvia por 1 a 0, depois empataram com a Austrália por 1 a 1 e, como esperado, a equipe ganesa foi derrotada pelos alemães por 1 a 0, mas obteve a classificação. Única seleção africana a ir para as oitavas naquela edição, venceram os Estados Unidos por 2 a 1 na prorrogação.

Batalha épica

De acordo com o Estadão, “a batalha das quartas entraria para os almanaques da Copa do Mundo. Com o empate em 1 a 1 no tempo normal, mais 30 minutos aguardavam Uruguai e Gana. No minuto final da prorrogação, um lance que ficou marcado na história. Luis Suárez impediu um gol ganês ao salvar um chute com a mão na linha do gol. O atacante foi expulso e o pênalti, assinalado. Asamoah Gyan desperdiçou a cobrança, levando o duelo para os pênaltis. Gana esteve muito perto da semifinal, mas nas cobranças de pênalti, os bicampeões levaram a melhor, ganhando por 4 a 2, com direito a cavadinha de Loco Abreu na batida decisiva”.

No Catar, Gana jogará novamente com o Uruguai, na rodada final da fase de grupos. “Com certeza isso vai estar na cabeça de alguns jogadores, porque na época foi uma partida decisiva não só para Gana, mas para toda a África. Se tivesse vencido, Gana seria a primeira equipe africana em toda a história das Copas a chegar numa semifinal. Foi muito doloroso, mas agora é outra geração que está em campo”, afirmou à Fifa o técnico ganês Otto Addo.

Tudo é possível

O técnico ganês, Otto Addo, avalia que se o país se sair bem na fase de grupos, “tudo é possível”. Addo analisa que "temos três adversários difíceis na fase de grupos. Se não conseguirmos jogar o necessário ou não estivermos prontos para cumprir com as exigências táticas, será difícil. Especialmente porque Portugal, Uruguai e Coreia do Sul são seleções muito fortes, com qualidade dentro e fora do campo. Será difícil pará-los, mas, como eu disse, temos qualidade para derrotá-los. Se passarmos da fase de grupos, tudo será possível".

Também classificados, Marrocos e Tunísia não possuem trajetórias desatcadas em participações anteriores em mundiais. Os marroquinos chegaram às oitavas uma única vez, em 1986, e a seleção da Tunísia nunca passou da fase de grupos. Marrocos está no Grupo F, disputando com Bélgica, Canadá e Croácia. A Tunísia compõe a chave D, ao lado de França, Austrália e Dinamarca.