ELEIÇÕES 2024

As derrotas de Moro no Paraná

De dez candidatos apoiados pelo ex-juiz da Lava Jato nas principais cidades paranaenses oito saíram derrotados nas eleições deste domingo (6)

Créditos: Heloisa Cristaldo (Agência Brasil) - Candidatos apoiados por Moro em 10 cidades só vencem em duas
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Dos dez candidatos apoiados pelo senador Sergio Moro (União-PR) nas principais cidades do Paraná, oito saíram derrotados nas eleições deste domingo (6). Na lista de candidatos apoiados por Moro estão nomes que se contrapõem a aliados do atual governador paranaense, Ratinho Junior (PSD).

Em Curitiba, capital do estado e a maior cidade, com cerca de 1,9 milhão de habitantes, importante centro econômico, político e cultural do sul do Brasil, o candidato apoiado por Moro para prefeitura ficou fora do segundo turno.

O deputado estadual Ney Leprevost (União), que teve a deputada federal Rosângela Moro (União), mulher do ex-juiz, como vice da chapa como vice, recebeu apenas 60.675 votos (6,4%).

O segundo turno será disputado entre Eduardo Pimentel (PSD), atual vice-prefeito que teve 33,05% dos votos, e a jornalista de extrema direita Cristina Graeml (PMB), que teve 31,77% e conseguiu apoio de Jair Bolsonaro e Pablo Marçal na reta final.

Primeiro colocado neste primeiro turno, Pimentel tem o apoio do governador Ratinho Junior (PSD) e tem como vice Paulo Martins, que quase derrotou Moro na eleição para o Senado em 2022.

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Em São José dos Pinhais, localizada na região metropolitana de Curitiba, com cerca de 332 mil habitantes e que abriga o principal aeroporto do estado, Moro também perdeu. Nina Singer (PSD) foi reeleita com 54,89% dos votos, vencendo no primeiro turno o candidato Geraldo Mendes (União Brasil), que obteve 40,56%.

A campanha de Mendes, candidato de Moro, foi marcada por controvérsias, incluindo acusações de tentativa de estupro, ameaça de morte e agressão feitas por sua esposa, o que afetou significativamente sua imagem e desempenho nas urnas.

No oeste do Paraná, em Cascavel, com aproximadamente 336 mil habitantes e importante para o agronegócio e logística, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro apoiou Márcio Pacheco (PP), que terminou em segundo lugar com 18,88% dos votos, derrotado por Renato Silva (PL), que venceu no primeiro turno com 56,41%.

Em Foz do Iguaçu, com cerca de 270 mil habitantes, famosa por suas atrações turísticas, como as Cataratas do Iguaçu e a Usina de Itaipu, o candidato apoiado por Moro, Zé Elias (União Brasil), obteve apenas 1,23%.

Em Ponta Grossa, a quarta maior cidade do Paraná, com cerca de 355 mil habitantes e importante centro industrial, localizado nos Campos Gerais, Moro ainda pode ter uma vitória com com Elizabeth Schmidt (União Brasil), que recebeu 27,51% e enfrentará Mabel Canto (PSDB), que alcançou 27,87%, em um disputado segundo turno.

Em Londrina, o candidato Tiago Amaral (PSD), com 113 mil votos, foi para o segundo turno com professora Maria Tereza (PP) na disputa pela prefeitura de Londrina.

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Também ficaram pelo pelo caminho nas eleições municipais, apoiados por Moro, Samuel Ribas (União), que disputou a prefeitura de Guarapuava e terminou em último lugar, com 1,4 mil votos; Christiano Puppi (PP), na corrida pela prefeitura de Campo Largo; Beth Pavin (MDB), candidata à prefeitura de Colombo; e Pimentel (PP), que concorreu em Umuarama.

De olho em 2026

Para quem nunca iria entrar na política Moro tem se mobilizado para a disputa ao governo do Paraná em 2026. Após ser absolvido no processo que solicitava sua cassação na Justiça Eleitoral, o senador começou a estruturar sua possível candidatura.

No início das campanhas municipais, Moro pediu ao União Brasil mudanças nos diretórios de quatro cidades estratégicas: Maringá, Londrina, Francisco Beltrão e Araucária. Ele também indicou novos nomes para comandar esses diretórios, reforçando sua influência e preparando o terreno político para os próximos desafios eleitorais no estado.

Sondagem do Instituto Paraná Paraná Pesquisa de 12 de agosto passado mostrava que o senador liderava a corrida pelo Palácio Iguaçu, com 42% das intenções de voto. O segundo colocado, com 18% era o atual prefeito de Curitiba Rafael Greca (PSD). Em terceiro, aparecia o deputado Alexandre Curi (PSD), com 10%.

A ausência de Ratinho Junior, que não poderá concorrer à reeleição, favorece Moro, pois ele terá a oportunidade de capitalizar em cima do eleitorado conservador do estado. Além disso, como estará na metade de seu mandato como senador, ele poderá arriscar a candidatura sem perder o cargo no Senado.

O nome mais cotado para ser apoiado por Ratinho nessa sucessão é o de Greca. No entanto, o União Brasil busca uma aliança com o PSD no estado, com o objetivo de garantir o apoio de Ratinho a Moro como seu candidato à sucessão, em uma estratégia de unificar as forças políticas conservadoras no Paraná.

Os plano de Moro de disputar o governo do Paraná tem o apoio da cúpula nacional do União Brasil. Além de Antônio Rueda, atual vice-presidente nacional do partido, o o senador Davi Alcolumbre, secretário-geral da legenda e favorito para presidir o Senado a partir do ano que vem, já defendeu publicamente uma candidatura de Moro ao governo do Paraná.

As várias derrotas dessa eleições municipais dos candidatos apoiados por Moro e um possível cenário em que surja um candidato forte apoiado pelo atual governador ou por outras lideranças regionais pode fragmentar o voto conservador no estado e atrapalhar os planos do ex-juiz.

Da Lava Jato para a política

A conduta de Sergio Moro como juiz da Operação Lava Jato foi marcada por parcialidade e conduta tendenciosa no julgamento do ex-presidente Lula.

Moro, enquanto foi juiz na Lava Jato, disse e repetiu que nunca entraria na política. Dizia que a função dele era apenas aplicar a lei e que não tinha interesse em cargos políticos.

Bastou prender Lula que isso mudou. Em 2018, depois de tirar a principal liderança de esquerda da disputa eleitoral, aceitou o convite de Jair Bolsonaro para ser Ministro da Justiça do governo de extrema direita.

As mensagens da "Vaza Jato" divulgadas pelo site The Intercept Brasil a partir de 9 de junho de 2019 expuseram as entranhas da tão celebrada Lava Jato. As conversas vazadas revelaram trocas de mensagens entre Moro, então juiz da Lava Jato, e procuradores da operação, incluindo Deltan Dallagnol.

O conteúdo bombástico das mensagens levantou questionamentos sobre a imparcialidade de Moro e a condução da Lava Jato, gerando grande repercussão política e jurídica no Brasil.

No dia 24 de abril de 2020 Moro deixa o governo Bolsonaro após uma série de divergências com o presidente. O principal motivo alegado foi a interferência na Polícia Federal, especialmente na tentativa de trocar o diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo, sem consultar Moro.

Moro afirmou que Bolsonaro queria controlar investigações em andamento, o que foi decisivo para sua saída. A demissão foi marcada por uma entrevista coletiva, em que o ex-juiz detalhou suas razões e críticas à interferência política no órgão.

Em 2021 Moro lançou sua pré-candidatura à presidência pelo Podemos, mas sua candidatura não chegou a se concretizar. Com dificuldades para ganhar tração nas pesquisas e sofrendo pressões internas.

Abandonou a corrida presidencial em março de 2022 e migrou para o União Brasil, partido pelo qual se candidatou ao Senado e foi eleito com cerca de 33,5% dos votos, superando nomes como Paulo Martins (PL) e Alvaro Dias (Podemos).

A campanha de 2022 marcou também a reaproximação de Moro e Bolsonaro. O ex-juiz acompanho o ex-chefe que tentava a reeleição no debate da TV Globo antes do segundo turno das eleições presidenciais.

A presença do ex-ministro chamou atenção, já que ele havia rompido com Bolsonaro dois anos antes, acusando-o de interferir na PF. Um sinal claro de que o importante era barrar o PT, mesmo com uma ameaça à democracia.

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