ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2024

Os crimes atribuídos a Marçal que podem deixá-lo inelegível, além de preso

A lista de processos contra o candidato de extrema direita à Prefeitura de São Paulo é de fazer cair o queixo e inclui até investigações de crimes contra a vida

Créditos: Reprodução de Vídeo/YouTube
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O candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) enfrenta pelo menos 17 processos judiciais ou investigações policiais de seu envolvimento em crimes que podem levar à sua inelegibilidade, à perda de um eventual mandato como prefeito ou até mesmo a prisão.

Marçal foi preso em 2005, quando tinha 18 anos, na investigação que apurou ações de criminosos condenados por desviar dinheiro de contas de bancos, como Caixa e Banco do Brasil. Em 2010, foi condenado a quatro anos e cinco meses de reclusão por furto qualificado por desviar dinheiro de contas bancárias por meio de golpes digitais.

Segundo o processo, o candidato seria responsável pela manutenção dos equipamentos de informática da organização criminosa e por levantar contatos de e-mails de possíveis vítimas. Com os endereços eletrônicos em mãos, o grupo disparava softwares maliciosos que roubavam dados bancários.

Na época, a defesa entrou com um recurso, que só foi analisado pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região em 2018. Devido à demora, o caso prescreveu, e Marçal não cumpriu a pena de 4 anos e 5 meses

A organização criminosa foi condenada em maio de 2010. A defesa entrou com recurso, analisado em segunda instância em 2018, levando o caso a prescrever sem cumprimento da pena.

Dossiê Marçal

Diante do descalabro de uma figura como Marçal, já condenado por fraude bancária, causar tanto dano à democracia, um grupo de paulistanos e paulistanas chamado "Não Faz M" reuniu a lista de processos contra Marçal que estão em andamento na Justiça. 

As acusações reunidas no Dossiê Marçal contra o candidato da extrema direita foram divididas em quatro categorias:  Condenações, Crimes Financeiros, Crimes contra a Vida e Crimes Eleitorais. 

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Laudo falso

O mais recente crime atribuído a Marçal e cujo processo judicial pode resultar na sua inelegibilidade é a publicação de um laudo médico falso associando Guilherme Boulos (PSOL) ao uso de drogas.

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A postagem resultou na retirada de seu perfil do Instagram pela Justiça Eleitoral de São Paulo. O caso pode se transformar em uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), na qual ele poderá ser responsabilizado por uso indevido dos meios de comunicação social durante o processo eleitoral.

Se condenado, Marçal poderá perder o mandato, caso venha a ser eleito, ficar inelegível por oito anos, sendo impedido de concorrer nas próximas eleições, em 2026.

A perícia da Polícia Civil de São Paulo confirmou neste sábado (5) que o laudo médico divulgado por Marçal contra Boulos é falso. Através de exames grafotécnicos, a perícia constatou uma série de evidências que comprovam que o documento foi falsificado.

Segundo especialistas, se não houver uma decisão de segunda instância até dezembro de 2024, Marçal poderia assumir o cargo de prefeito caso venha a ser eleito, mas corre o risco de ter seu mandato cassado posteriormente, caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirme sua inelegibilidade.

Gabinete do ódio

O mais avançado processo judicial contra Marçal envolve uma espécie de gabinete do ódio, que paga seguidores para promover seus vídeos nas redes sociais, o que resultou na suspensão de suas contas no Instagram, X, TikTok e YouTube. Em caso de condenação, ele pode ser impedido de assumir a prefeitura e ficar inelegível por até oito anos.

Como parte das medidas, seus perfis no Instagram, X (antigo Twitter), TikTok, Discord e YouTube foram suspensos. Esse processo é um dos mais avançados contra o candidato. Caso seja condenado, ele pode ser impedido de assumir o cargo e ficar inelegível por oito anos.

Tentativa de homicídio e omissão de socorro

Em 2022, Marçal liderou um grupo de seguidores em uma expedição ao Pico dos Marins, que resultou no resgate de vários participantes. Ele é investigado pela Polícia Civil por supostamente colocar em risco a vida de 32 pessoas participantes da atividade.

O grupo liderado por ele foi resgatado pelos bombeiros, após a incursão na montanha de 2.420 metros de altitude – mesmo com o alerta da Defesa Civil sobre as más condições meteorológicas naquela ocasião.

Ele pode ser condenado a uma pena de reclusão entre 6 e 20 anos, além de ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa se houver uma condenação em segunda instância. Se condenado, Marçal ficaria inelegível para futuras eleições, incluindo as de 2026.

Morte de técnico em estúdio de Marçal

O técnico de audiovisual Celso Guimarães Silva, de 49 anos, sofreu um acidente fatal enquanto trabalhava em um estúdio ligado a Marçal. A tragédia ocorreu dois dias após ele sofrer uma descarga elétrica e cair de uma altura de quase cinco metros, dentro de um estúdio pertencente ao coach. Segundo a viúva de Celso, foi negligenciado o cuidado para que os profissionais realizassem o trabalho de forma devida.

Marçal é investigado por homicídio culposo e, caso venha a ser condenado, pode ser sentenciado a detenção de um a três anos. Outro crime atribuído a ele é de inobservância de regra técnica de profissão ou atividade cuja pena é aumentada de um terço, no homicídio culposo. Além de perigo para a vida ou saúde de outrem que prevê detenção de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. O caso está em investigação, com depoimentos de ex-funcionários e novas denúncias sendo feitas à Polícia Civil.

Investigação por homicídio culposo

Outro caso investigado pela Polícia Civil é a morte de Bruno da Silva Teixeira, de 26 anos, funcionário de uma empresa vinculada ao grupo de Marçal que teve uma parada cardíaca durante uma maratona promovida pelo coach em Alphaville, em Barueri, em junho do ano passado, sob o lema de "romper os limites" das pessoas.

Os envolvidos estavam preparados para uma corrida de 21km, e, de última hora, o percurso do desafio foi dobrado para 42km. Ao ser questionado sobre a morte, Marçal teria negado relação com a morte e respondido que o participante escolheu isso.

Marçal é investigado por homicídio culposo, que prevê detenção de um a três anos; por inobservância de regra técnica de profissão ou atividade em que a pena é aumentada de um terço, no homicídio culposo; por perigo para a vida ou saúde de outrem com detenção de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.

O caso foi registrado pela Polícia Civil de São Paulo como "morte suspeita" no plantão da Delegacia de Barueri e encaminhada ao 2º Distrito Policial da cidade, que passou a investigar o caso. "Exames foram solicitados ao Instituto Médico Legal (IML) e estão em elaboração para auxiliar no esclarecimento da causa da morte", diz a nota.

Disputa interna no PRTB

A administradora de empresas Aldineia Fidelix contestou a escolha de Marçal como candidato pelo PRTB, alegando que, por um acordo interno, ela deveria comandar a legenda em São Paulo.

Uma ação foi aberta questionando a candidatura de Marçal, com o pedido de anulação do ato que o colocou como candidato. A presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, está analisando o caso. A candidatura de Marçal pode ser anulada se a ação for julgada procedente.

Suposta ligação com PCC para financiamento de campanha

Uma investigação apura a possível ligação entre o partido de Pablo Marçal e o Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do Brasil.

De acordo com denúncias, membros do PCC teriam contribuído para financiar a campanha de Marçal, usando o partido como uma ferramenta para expandir sua influência política. A Polícia Federal e o Ministério Público estão investigando o suposto elo entre o partido e o grupo criminoso, especialmente em relação ao uso de recursos ilícitos na campanha.

Marçal é investigado por Associação Criminosa que prevê pena de reclusão de 1 a 3 anos. Também é investigado por Financiamento Eleitoral com Recursos Ilícitos, com pena de multa.

A investigação está em curso. A Polícia Federal e o Ministério Público continuam a apuração, e Marçal ainda pode enfrentar novas acusações, dependendo do avanço das investigações.

Confira aqui a lista completa de crimes atribuídos a Marçal

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