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Lula tem que taxar X e Meta para retaliar Trump sobre aço e alumínio, diz economista

"Essa é a única linguagem que o Trump é capaz de entender. Temos que retaliar à altura das agressões gratuitas feitas pelo governo americano", diz José Luis Oreiro

Donald Trump com Mark Zuckerberg e Elon Musk.Créditos: Joiyce N. Boghosian Casa Branca / Facebook Donald Trump
Escrito en ECONOMIA el

Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professor associado do departamento de economia da Universidade de Brasilia (UnB), José Luis Oreiro afirmou, em entrevista nesta terça-feira (11) à Fórum, que o governo Lula tem que "retaliar à altura das agressões gratuitas feitas" por Donald Trump, que nesta quinta-feira (10) assinou ordem executiva que impõe uma tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e 10% sobre as de alumínio, sem exceções ou isenções.

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A medida, que entra em vigor em 12 de março, afeta diretamente o Brasil, segundo maior exportador de aço para os EUA em 2024, com 4,5 milhões de toneladas, segundo dados do American Iron and Steel Institute.

Para Oreiro, o governo tem que agir, primeiramente, com cautela - como fez o ministro da Fazenda, Fernando Haddad - para ver se a ordem não passa de mais uma brava de Trump.

Caso a taxação seja efetuada, no entanto, o economista defende uma retaliação imediata em uma área sensível - e estratégica - para Trump, que tem como secretário de "eficiência governamental" o bilionário Elon Musk, dono da rede X.

"O governo brasileiro tem que proceder primeiro com a cautela, como o Haddad falou. Se é verdade, se o Trump vai colocar ou não as tarifas de exportação. Se colocar, o Brasil tem que retaliar. Mas, não vai adiantar retaliar em ação e alumínio. Tem que retaliar taxando as empresas de alta tecnologia deles aqui no Brasil, tipo as plataformas X e Meta, impondo impostos sobre eles. Porque essa é a única linguagem que o Trump é capaz de entender. Temos que retaliar à altura das agressões gratuitas feitas pelo governo americano", diz.

Além de Musk, Trump foi teve o apoio e recebeu em sua posse outro bilionário, Mark Zuckerberg, dono da Meta, que controla redes como Facebook e Instagram, e o aplicativo de mensagens WhatsApp.

Impacto no Brasil

Segundo Oreiro, além da retaliação, o Brasil pode negociar a venda de aço para outros países como Índia, além de algumas nações que fazem parte da União Europeia.

"Existem alternativas, mas nenhuma delas é de curto prazo. Uma vez que os americanos coloquem a sobretaxa isso afeta imediatamente nossas exportações de aço e alumínio", explica.

O economista afirma, porém, que as consequências internas serão imediatas visto que essa é uma das poucas áreas da nossa indústria de transformação que é competitiva internacionalmente.

"A primeira consequência é a redução da exportação do aço e alumínio, o que é negativo tanto para as receitas de exportação do país quanto para a reindustrialização da economia, que o governo adotou como uma das bandeiras de campanha. E, por fim - e não menos importante -, devido à redução da escala de produção isso vai significar aumento no preço do aço e alumínio também no mercado brasileiro porque são indústrias intensivas em escalas, então a redução do volume exportado vai implicar no custo marginal de produção", afirma.

Para o economista, a medida baixada por Trump ainda soma-se a um cenário bastante intrincado, com altas consecutivas de 1 ponto percentual na taxa Selic, o que pode resultar em uma "tempestade perfeita" ainda neste ano.

"Estamos contratando uma tempestade perfeita para o Brasil no segundo semestre. Em uma palestra na Universidade de Leeds em janeiro, Alan Taylor, membro do Copom do Banco Central da Inglaterra, alerta para a possibilidade um 'hard landing' [desaceleração econômica acentuada que leva à recessão, no termo técnico] na Inglaterra se as taxas de juros não forem rapidamente e significativamente reduzidas. E isso contrasta com o que está acontecendo no Brasil, com o BC aumentando a taxa de juros em doses cavalares em curtos intervalos de tempo. Isso que já vinha de um patamar elevado", diz. 

Soma-se a isso, segundo Oreiro, uma possível queda na arrecadação federal e o levante de Trump na guerra comercial, que não deve atingir o Brasil somente na questão do aço e alumínio.

"Eu não lembro de um momento de nenhum momento da história monetária do Brasil nos últimos 15 anos que o BC deu um cavalo de pau tão forte na taxa de juros como está fazendo agora. Se juntar isso, com uma política fiscal - que esse ano também deve ser contracionista -, em um cenário em que a política tarifária de Trump vai impor queda das nossas exportações industriais, que são as que geram empregos de boa qualidade, você está contratando uma recessão para o segundo semestre de 2025. Isso me lembra muito o cenário do final do governo Dilma [Rousseff], em que se iniciou a grande recessão brasileira. Eu espero estar errado. Agora, se eu estiver certo vai ser muito, mas muito, ruim", alerta o economista.
 

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