Horas após encaminhas um ofício para o Senado confirmando a indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central, Lula detonou o atual presidente da instituição, o bolsonarista Roberto Campos Neto, em entrevista a uma rádio da Paraíba, onde cumpre agenda nessa sexta-feira (30).
"Ele [Campos Neto] age no Banco Central como um político, não como economista. Oferece muitas reuniões políticas, que são coisas que não deveriam acontecer. A taxa de juros no Brasil hoje não tem explicação", iniciou Lula, sem disfarçar a irritação com a atuação do economista, neto de Roberto Campos, ministro da Ditadura Militar.
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Lula lembrou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) trocou quatro vezes o presidente do BC, enquanto ele manteve Henrique Meirelles - que era do PSDB - por oito anos no cargo, durante os dois primeiros mandatos.
"Eu sei lidar com BC, o problema que no imaginário do mercado o presidente do BC tem que ser alguém do sistema financeiro e eu não acho que tenha que ser. Tem que ser uma pessoa que goste desse país, que pense na soberania nacional e que tenha atitudes corretas. Se um dia o Galípolo chegar em mim e dizer que tem que aumentar a taxa de juros, ótimo", disse.
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Diferentemente do que vem acontecendo, Lula defendeu que, no cargo, Galípolo apresente argumentos técnicos para justificar a taxa Selic, além de pensar em outras vertentes da economia.
"Se tiver que baixar juros, baixa. Se tiver que aumentar, aumenta. Mas, tem que ter uma explicação. Porque o papel do BC não é só medir juros, não. Ele tem que ter meta de crescimento também. Senão não vamos a lugar nenhum", afirmou.
"Se a gente não tiver combinado uma meta de crescimento com a média de inflação e o crescimento da população, do ponto de vista da melhoria de vida, esse país continua estagnado", emendou.
Lula ainda afirmou que vai aguardar o fim do mandato de Campos Neto, que acaba em janeiro, mas voltou a enfatizar ser contra a "autonomia" do BC.
"Eu, sinceramente, acho que o presidente da República tem o direito de indicar o presidente do Banco Central e de tirar se não gostar. Eu coloco o Galípolo com mandato. E se ele fizer uma coisa muito errado. O que eu faço? Eu não sei quem criou a ideia de que o cara é intocável, um ser superior a tudo".
Lula ainda mostrou insatisfação com as reações do mercado diante das críticas que fez - e continua fazendo - a Campos Neto.
"Porque todo mundo recebe crítica. E o presidente do Banco Central que vive mais em Miami do que aqui não quer ser criticado? Ele tem que pensar na indústria, no comércio. Não só nos interesses do mercado".
Lula ainda reafirmou que "o Galípolo é uma indicação extraordinária" e que espera um comportamento do BC a partir do ano que vem, quando a maioria do Conselho de Política Monetária será de indicados de seu governo.
"Vamos indicar mais gente, porque até o ano que vem muda todo mundo do Banco Central. E vai ter uma nova equipe".
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