"Com bom humor, e relaxado", segundo a própria jornalista, o presidente do "autônomo" Banco Central, Roberto Campos Neto, fez chacota sobre sua ligação com Jair Bolsonaro (PL) e próceres da ultradireita conservadora, como o governador paulista Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), em uma longa entrevista a Miriam Leitão publicada pelo jornal O Globo nesta terça-feira (20).
"Na entrevista, ele enfrentou com bom humor, e relaxado, as perguntas sobre as tensões políticas do Banco Central e deu conselhos ao futuro presidente da instituição", diz a jornalista na abertura do texto.
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No conselho ao futuro presidente do BC - o mais cotado é Gabriel Galípolo, segundo ele próprio -, Campos Neto fez chacota sobre o fato de ter ido votar com uma camisa da seleção brasileira, uma das provas de ligação com Bolsonaro usadas pela oposição para mostrar que de autônomo e independente, como prega, ele não tem nada.
Indagado sobre o fato, Campos Neto diz que "hoje eu teria feito diferente" e seguiu, do alto de seu ego, "mas acho que, no fim das contas, a autonomia e a independência se fazem pelo que eu fiz ao longo do tempo no Banco Central".
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Em seguida, ele é indagado sobre ter sido convidado por Tarcísio Gomes de Freitas para ser seu ministro da Economia em uma pretensa Presidência. Campos Neto nega a "narrativa política", mas confirma que o "amigo" já confidenciou a ele que é "candidato em 2030" ao Palácio do Planalto.
"Aquilo foi, de novo, uma narrativa política que foi colocada no evento. Ia ter essa narrativa se fosse no Rio? Não, porque provavelmente não era um candidato bolsonarista. Nunca falei com o Tarcísio que queria ser ministro de nada. Todas as vezes que discuti com o Tarcísio, o que ele dizia para mim é, eu 'sou candidato em 2030'”.
Em seguida, Campos Neto faz chacota sobre o sucessor. "u espero que a pessoa que venha me suceder aqui não seja julgada nem pela cor da camisa com a qual ele votou, nem pelas reuniões que ele fez, nem pelos jantares que ele fez, e sim pelas decisões técnicas que tomou".
Na semana passada, em audiência pública realizada na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Finanças e Tributação da Câmara, o deputado Lindbergh Farias expôs o o conluio do bolsonarista com agentes do sistema financeiro para especular com a taxa Selic - que está muito além de votar com a camisa da seleção.
"Eu citei aqui, na última audiência, um artigo do Nilson Teixeira, um economista muito sério, economista chefe do Credit Suisse, e ele questionava justamente 250 reuniões com instituições privadas, com bancos, feitas por diretores do Banco Central no ano de 2022. Vai além, disse ele que o Jerome Powell, presidente do Fed [Banco Central dos EUA], em 2022 teve cinco encontros. Nenhum com a banca privada, com o mercado, todos com universidades e instituições. A Christine Lagarde [presidenta do BC Europeu) a mesma coisa. Então, há uma preocupação formal, na teoria e na prática, com essa relação com o mercado financeiro", disse o deputado.
Mea culpa
Na entrevista, em que deu risadas ao ser indagado se teve "diálogos hipotéticos" com o avô, Roberto Campos - ministro do Planejamento da Ditadura Militar -, ainda desdenhou da tentativa de golpe levada a cabo por Bolsonaro ao perder as eleições para Lula em 2022.
"Não tenho conhecimento nem informação suficiente para falar sobre isso", afirmou.
Campos Neto ainda fez "mea culpa" sobre as projeções feitas pelo "mercado", por meio do boletim Focus, e das próprias estimativas sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a economia brasileira, que vem sendo repetidamente frustradas pelos números reais apresentados pelo governo.
Sobre o PIB, o mercado segue apostando em uma alta de 2,23%, enquanto o próprio Campo Neto já visualiza um cenário com o dado estimado pelo governo, entre 3%.
Sobre esse "descolamento", Campos Neto afirmou que "primeiro, reconhecer os erros".
"Acho que os economistas, eu me incluindo, temos errado consistentemente em crescimento há bastante tempo. Diria há alguns anos. Uma tese inicial é de que um pedaço estrutural do crescimento está melhor do que a gente imaginava".
Na entrevista, o presidente do BC ainda voltou a culpar a política do governo para alcançar o pleno emprego, que já derrubou a taxa de desemprego para 6,9%, pela inflação.
"Tem uma tese de que a inflação aqui está sendo realimentada por uma atividade forte, por um emprego forte. É verdade? Vamos olhar".