SETOR ESTRATÉGICO

Petrobrás: Petroleiros da Fafen-PR são recontratados e a fábrica voltará a produzir fertilizantes

A Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), localizada em Araucária (PR), foi fechada em 2020 pelo governo Bolsonaro, que queria vendê-la à iniciativa privada; Trabalhadores falam em “dia histórico”

Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen-PR) da Petrobrás.Créditos: Divulgação/Agência Petrobrás
Escrito en ECONOMIA el

Os 242 petroquímicos da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen-PR) da Petrobrás - localizada em Araucária, no Paraná - foram oficialmente recontratados nesta sexta-feira (5). O dia marcou uma cerimônia de recepção dos trabalhadores que empregam longa luta pelos seus trabalhos e pela própria existência da fábrica desde 2020, quando o governo Bolsonaro a fechou já de olho numa possível privatização que nunca ocorreu.

O evento ocorreu no Campus Zilda Arns,um centro de trinamento da Petrobrás na cidade. A Federação Única dos Petroleiros, o Sindiquímica Paraná, o Sindipetro PR/SC e outros sindicatos e organizações que representam a categoria estiveram presentes.

Porta-vozes dos trabalhadores classificam a recepção aos recontratados como um “dia histórico”. Um deles é Paulo Antunes, diretor do Sindiquímica Paraná e um dos trabalhadores recontratados.

“Esse retorno é muito simbólico. Nos últimos quatro anos passamos por períodos inimagináveis. Trabalhadores tiveram que mudar de cidade pela falta de emprego, infelizmente perdemos colegas na pandemia, mas o sentimento hoje para nós é o de viver um momento histórico sem precedentes. Houve uma grande expectativa pela retomada da Fafen-PR e hoje ela se consolidou. O clima é de muita alegria, muita foto do pessoal com crachá, muita felicidade”, declarou à Fup que, em sua nota, qualificou a data como um “dia histórico”.

Ademir Jacinto, outro petroquímico readmitido, e que participou das negociações que produziram o acordo judicial da recontratação, comemorou a vitória mas apontou que há ainda mais trabalhadores que precisam ser recontratados.

“Tivemos algumas perdas, infelizmente o pessoal do administrativo não pôde voltar devido à proposta da empresa que não abrangeu esses trabalhadores. Mas, sim, foi uma grande vitória e temos que comemorar porque esse é um acontecimento histórico dentro do trabalho. Foram muitas as articulações que fizemos no Ministério Público, no TST, na FUP. Foi um processo longo, mas que ao final deu certo”, afirmou.

Nas redes sociais, a deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, também comemorou a recontratação dos trabalhadores e a consequente reabertura da Fafen-PR

“Acompanhei todo o processo de reabertura da Fafen, que foi fechada em 2020 por Bolsonaro e voltou à ativa por determinação do presidente Lula, que sempre defendeu a autonomia do país no setor de fertilizantes. Hoje é dia de comemorar, junto aos trabalhadores e sindicatos, por essa vitória. Continuaremos empenhados na luta pela soberania do país, pelos direitos dos trabalhadores e pelo desenvolvimento do Brasil”, escreveu Gleisi no Instagram.

No Twitter, um homem identificado como "Tezeu Petroleiro" e ligado ao Sindipetro do Norte Fluminense divulgou uma imagem com os crachás dos recontratados. “Registro histórico! Foto que mostra os mais 200 crachás dos funcionários que voltam para a FAFEN-PR. Vencemos, mais uma vez”, escreveu.

Fechamento da Fafen pelo governo Bolsonaro

Incluída no plano de desinvestimento da estatal de Paulo Guedes e Bolsonaro, a Fafen-PR foi fechada em março de 2020 já como início do processo de venda. A medida levou a demissão de cerca de mil trabalhadores.

Os petroleiros e demais trabalhadores se mobilizaram contra o fechamento e a privatização. Fizeram uma greve histórica em fevereiro de 2020 e seguiram lutando contra a entrega da Fafen-PR. Em dezembro de 2022 viram o fracasso do processo de venda anunciado publicamente às vésperas da posse do presidente Lula. Dessa maneira, mesmo fechada, a fábrica seguia sob o comando da Petrobrás e com promessas de dias melhores.

À época do fechamento, a fábrica produzia 30% da ureia e amônia do mercado brasileiro, além de 65% do ARLA-32 (Agente Redutor Líquido Automotivo), um aditivo para veículos de grande porte que entre outras coisas busca reduzir emissões de gases de efeito estufa.

Àquela altura, quando a guerra entre Rússia e Ucrânia avançava e o acesso a fertilizantes se tornava um problema global, uma das principais fábricas brasileiras estava fechada. O Brasil é o quarto produtor de grãos do mundo, e consome fertilizantes em quantidades astronômicas. Não teria tido dores de cabeça nesse sentido não fosse a sanha privatista do governo anterior.

“Dependemos da importação de fertilizantes que antes a Petrobrás produzia em Sergipe, Bahia e Paraná, da mesma forma que a privatização e subutilização de nossas refinarias vêm tornando o país dependente da importação de derivados do petróleo”, explicou à época Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP. Bacelar ainda lamentou a perda de ativos da estatal, de forma mais ampla, durante o atual governo: “Agora precisamos reconstruir o que foi destruído nos últimos anos”, concluiu.

Acordo no TST

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) formalizou em 12 de junho a homologação do acordo coletivo de trabalho que exige que a Petrobrás realize a recontratação de trabalhadores a partir da retomada da fábrica. Com o acordo, os 240 petroquímicos retornariam aos postos de trabalho até 5 de julho.

De acordo com as estimativas do setor, mais de 5 mil empregos indiretos deverão ser criados na região, com o aquecimento da economia gerado pela reabertura da Fafen-PR.

Para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, "trata-se de um acordo histórico para o movimento sindical brasileiro, porque estamos falando de uma reparação para trabalhadores que foram demitidos após a greve de 2020 com a hibernação da fábrica do Paraná".

"Além de garantir a readmissão de empregados que sofreram quatro anos com esse processo, estamos assegurando a retomada de direitos da categoria petroleira e petroquímica”, complementou o coordenador-geral.