O mercado usou a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) traçando um cenário de terror para justificar o aumento de 1 ponto na taxa Selic e os achaques de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, para votar o chamado pacote fiscal para desencadear um ataque especulativo no Brasil e atacar o governo Lula.
Na manhã desta quinta-feira (17), após a divulgação da ata traçando um cenário de terror sobre a economia brasileira, o dólar bateu R$ 6,20, forçando duas intervenções do Banco Central, que injetou US$ 2,015 bilhões em dois leilões para segurar a alta da moeda dos EUA.
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A ata do Copom, a última assinada por Roberto Campos Neto na presidência do BC, divulgada mais cedo soou como um "apito de cachorro" - termo usado na ultradireita neofascista para provocar reações em massa - para que agentes do sistema financeiro desencadeassem o ataque especulativo.
O documento cita textualmente a "deterioração" da taxa de câmbio, usando a pesquisa Focus - com agentes do próprio sistema financeiro - para pregar uma "evolução" no custo da moeda estadunidense.
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"Concluiu-se que os determinantes de prazo mais curto, como a taxa de câmbio e a inflação corrente, se deterioraram, assim como os determinantes de médio prazo, como o hiato do produto e as expectativas de inflação. O Comitê se debruçou então sobre as projeções. No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,95/US$2, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC)", diz o texto, que inclui uma projeção de alta dos combustíveis - que provoca reação em cadeia nos preços.
Ao justificar a decisão para aumento da Selic, o Copom traça um cenário caótico - e inexistente - baseado em projeções do mercado.
"O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista", diz o texto.
A ata atribui a "desancoragem" da inflação à expectativa do boletim Focus, que ouve 171 agentes do sistema financeiro, e que prevê uma alta de 4,9% nos preços em 2024 - 0,4% acima do teto da meta.
"Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões", ameaça, em seguida, o Copom, totalmente descolado dos números da economia real.
Até mesmo Miriam Leitão, em comentário na Globonews, afirmou que o avanço da moeda estadunidense é parte de um "ataque especulativo, porque não tem nenhuma relação com os fatos".
"Houve um tempo que a gente chama isso de ataque especulativo, porque não tem nenhuma relação com os fatos. Concretamente não está acontecendo esse fim de mundo que o mercado financeiro está vendo. Não houve uma deterioração grave que justificasse esse resultado”, disse.
Dobradinha com Lira
Ao terror provocado pela ata assinada por Campos Neto - com a concordância de todo o comitê - somou-se os achaques de Arthur Lira, que tenta a todo custo travar a votação na Câmara do do Projeto de Lei Complementar (PLP) 68/24, que é a proposta do governo de ajuste fiscal.
A votação do texto, que busca zerar a alíquota de Imposto de Renda para pessoas que recebem até R$ 5 mil mediante o aumento da taxa para quem ganha a partir de R$ 50 mil por mês, entre outras medidas, está sendo usado por Lira como um modo de achacar o governo diante das restrições judiciais nas emendas parlamentares, decididas pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), em acordo com o governo e parlamentares.
Lira convocou para esta terça-feira uma nova reunião de líderes para debater a proposta, prometendo colocar em votação até o fim do ano.
Na prática, o presidente da Câmara quer formar um conluio para avançar na pressão sobre o governo no debate sobre as emendas.
Um interlocutor de Lira disse ao jornal Valor, da família Marinho, dona da Globo - que é contra o aumento de imposto sobre os ricos -, que já se trabalha com a hipótese do PLP não ir à votação neste ano.
"É importante ter o que votar na terça enquanto se negocia os textos de pacote fiscal. Uma pauta vazia ou pouco relevante poderia desmobilizar os deputados e deixar ainda mais difícil a missão de votar o pacote fiscal ainda neste ano", disse o interlocutor de Lira.