Na última ata assinada por Roberto Campos Neto como presidente do Banco Central, o Comitê de Política Monetária (Copom) justificou a alta de 1 ponto percentual na taxa Selic, definida na última semana, baseada na "desancoragem adicional das expectativas de inflação" e ameaçou elevar mais duas vezes a taxa de juros, de forma consecutiva, nas próximas reuniões.
"O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista", diz o texto.
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A ata atribui a "desancoragem" da inflação à expectativa do boletim Focus, que ouve 171 agentes do sistema financeiro, e que prevê uma alta de 4,9% nos preços em 2024 - 0,4% acima do teto da meta. Além disso cita o "dinamismo acima do esperado na atividade" econômica, omitindo os dados de desemprego, de apenas 6,4%, registrada pelo IBGE.
"O Copom então decidiu realizar um ajuste de maior magnitude, elevando a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante", segue a ata, para fazer a ameaça na sequência.
"Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões", conclui o texto, na decisão retificada por unanimidade pelo Comitê.
"Desancorado" da realidade
Em publicação nas redes sociais, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann ironizou a ata dizendo que quem está "desancorado" é o Copom e da realidade dos fatos da economia.
"Quem está “desancorado” da realidade é o Copom do BC. A ata divulgada hoje é um tapa na cara da população e dos setores produtivos da economia, que não podem conviver por mais tempo com os maiores juros reais do planeta. Essa é a irresponsabilidade de que falou o presidente Lula. A ata é uma carta de sequestro da política econômica do governo, que o mercado quer impor, via BC “autônomo”, exigindo cortes e medidas contracionistas. Quem não tem credibilidade nenhuma são as tais expectativas dos agentes consultados pelo BC, que erraram todas as suas previsões catastrofistas sem perder a arrogância jamais. Definitivamente, o Brasil precisa de uma nova política monetária, com novos instrumentos de avaliação do cenário econômico, mais realistas e eficazes, que não se curvem às chantagens e ao oportunismo financista", escreveu.