A transição acelerada para a produção e adoção dos veículos elétricos (EVs, na sigla em inglês) está reconfigurando a economia global e traz implicações significativas para o comércio internacional e os níveis de produção e emprego, segundo o novo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2024.
O relatório, de outubro deste ano, destaca que a transição no setor automotivo deve impactar padrões de investimento e ressignificar cadeias globais de valor, especialmente em regiões que dependem da produção de veículos com motores à combustão.
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Além de um avanço nas metas climáticas de redução de combustíveis fósseis, a transição para os EVs deve ter efeitos macroeconômicos mais amplos e beneficiar países que já têm tecnologia e investimento governamental no setor elétrico: "A adoção de EVs traz redistribuições de vantagens comparativas, especialmente em favor de países como a China, que consolidou sua posição na exportação desses veículos", afirma o relatório.
Negociações já estão em curso entre os principais mercados globais a respeito da comercialização dos veículos elétricos de tecnologia chinesa, como aquela entre o país e a União Europeia, embora ainda não tenha conseguido "produzir um acordo mutuamente aceitável", conforme noticiou a Fórum este mês.
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O bloco europeu deve continuar a aplicar tarifas sobre os veículos chineses, assim como os Estados Unidos, a fim de diminuir sua vantagem comparativa no setor.
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A Europa quer reduzir suas emissões de carbono pela metade até 2035, mas seu PIB deve cair nos próximos anos (em até 0,3%), de acordo com o FMI — isso pode ser impactado pela redução da força de trabalho em setores intensivos em capital, como é a indústria automotiva.
E, ainda que a importação dos EVs chineses possa mitigar esses efeitos econômicos, ela aumentaria a dependência externa da tecnologia (um cenário não ideal para as nações europeias).
Em países como Japão, Estados Unidos e Coreia do Sul, o valor adicionado por trabalhador pode cair na indústria automotiva tradicional, diz o relatório, o que deve intensificar crises políticas motivadas pelas baixas de emprego — como aquela que motivou trabalhadores do setor industrial a apoiar os discursos nacionalistas de Donald Trump.
O impacto da introdução dos carros elétricos como grande componente do setor automotivo não se limita à indústria. Esse impacto tende a ser ainda sobre o setor energético, porque representa uma diminuição na demanda por energia de base não renovável e, por outro lado, o aumento na demanda por minerais, energia elétrica e tecnologias para a produção de equipamentos relacionados, como as baterias de lítio.
Países dependentes do petróleo
Isso deve afetar sobretudo os países dependentes de commodities como o petróleo e aqueles tecnologicamente menos desenvolvidos. É um outro ciclo de absorção de tecnologia e catch up — o movimento, na economia, de substituição de modelos de produção e tecnologias obsoletos por processos mais atuais.
Empresas já se dedicam a processos de inovação na produção das tecnologias de EVs em potências como Estados Unidos e China, no entanto, numa corrida pela redução dos custos de produção e ganhos de escala cada vez maiores que permitam sua consolidação no mercado internacional.