Um fato econômico, além do aguardado arcabouço fiscal do governo federal, chamou a atenção: a queda na cotação do dólar, que chegou a ser negociado abaixo de R$ 4,90, algo que não ocorria desde meados de 2022.
Dessa maneira, surgiram algumas questões: o sobe e desce do dólar veio para ficar? Isso é bom ou ruim para o Brasil? Essa oscilação tem alguma relação com ações do governo Lula (PT)? Para responder essas e outras perguntas que envolvem a valorização e desvalorização do dólar, conversamos com o analista de câmbio Leonardo Santana, da Top Gain Research.
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À Fórum, Santana explica que os sinais do governo Lula, de que busca e quer controlar os gastos públicos, "são positivos" e que pela primeira vez, em termos cambiais, o Brasil está alinhado com o cenário global.
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“Enquanto o mundo estava aquecendo, o dólar no mundo estava caindo, a gente estava aqui com burburinhos internos políticos fazendo com que o nosso real e a nossa Bolsa se desvalorizassem. Pela primeira vez a gente está muito alinhado com o cenário global. A gente saiu até um pouquinho na frente em relação a controle de inflação e com possibilidade de redução de taxa de juros ainda em 2023", diz Santana.
Confira abaixo a íntegra da entrevista.
Fórum - O que explica a desvalorização do dólar?
Leonardo Santana - Partindo do pressuposto macroeconômico - quando a gente fala do dólar exterior, é DX , que é o principal indicador que mede a força do dólar no exterior - o DX veio se desvalorizando recentemente, principalmente após os indicadores de IPC (Índice de Preços ao Consumidor dos EUA), indicador esse que mostrou desaceleração da inflação, mostrando que o FED não precisaria aumentar tanto ou não continuar os aumentos de taxa de juros e o mercado chego a até precificar um corte até o final de 2023.
A partir disso, o dólar acabo se enfraquecendo com a possibilidade de recessão. A gente veio com alguns indicadores econômicos, principalmente os de produção industrial mais fracos, mostrando uma desaceleração econômica fazendo com que o dólar perdesse força e fazendo com que aqui no Brasil não fosse diferente e acabasse se valorizando o real.
Fórum - Esse sobe e desce do dólar veio para ficar ou é algo sazonal?
Leonardo Santana - Não diria que é sazonal, mas que é algo macroeconômico. A gente está muito alinhado com contextos externos do dólar.
Nós tivemos três grandes motivos de queda: o 1º foi a fraqueza do dólar no mundo pela possibilidade de recessão e essa possibilidade ainda não foi apagada.
O segundo motivo foi o arcabouço fiscal, mas não só o arcabouço, mas o próprio governo [federal] estar, se mostrar preocupado em ter um limite de gastos. Não necessariamente o próprio arcabouço, mas o governo mostrar 'estamos preocupados com os gastos'.
A gente tinha uma taxa de juros muito alta e nós viemos com um IPCA no mês anterior (março) mostrando que ainda estava com inflação alta e não ia ter corte de juros agora [por parte do Banco Central] e íamos manter o 13,75% por mais tempo, fazendo com que tivesse muita entrada de capital aqui no Brasil. Então, acabou entrando muito capital e isso forçou o câmbio para baixo.
Aliado a esses três movimentos: dólar DX fraco no mundo, possibilidade de recessão, IPC mais baixo que o esperado, entrando capital por taxa de juros, o arcabouço fiscal e o governo preocupado com os gatos trouxeram um grande otimismo para o nosso dólar (de R$ 5,30 chegando até R$ 4,90).
Fórum - O dólar desvalorizado é bom ou ruim para o Brasil?
Leonardo Santana - É muito bom para o Brasil. Óbvio que nós temos duas partes: para o exportador de soja, de grãos... para o exportador é ruim, ele vai receber menos dólares, mas, em linhas gerais, é bom. Enquanto a gente tem a desvalorização do dólar, a gente tem a valorização do nosso real na contraparte. Isso ajuda a desinflacionar. Isso faz com que a gente consiga importar de uma maneira mais barata.
Fórum - É possível conjecturar sobre o dólar futuro?
Leonardo Santana - A gente consegue ter parâmetro e algumas linhas para trabalhar com o dólar futuro, mas nunca vai ser uma certeza. Vamos primeiro parir da linha externa, que é a linha macroeconômica, aqui temos duas linhas: a inflação dos EUA continuar alta e essa inflação vai continuar pressionando o dólar para cima por muita fuga de capital aqui do Brasil e entrada no mercado americano possivelmente por compra de títulos de renda fixa.
Nós temos outra linha que é o controle inflacionário com possibilidade de recessão e queda do dólar novamente e a queda de dólar no DX e consequentemente aqui no nosso.
Temos a linha interna, que é a parte do arcabouço fiscal: ele vai ser desidratado no Congresso Nacional, e dependendo do quanto ele for desidratado pode ser que ele anime ou desanime o mercado. Então, nós temos muitas incertezas no ar.
Vou dar o meu ponto de vista. O lado bom é: a gente nunca esteve muito alinhado com o cenário macro. O Brasil sempre esteve no pé trocado. Enquanto o mundo estava aquecendo, o dólar no mundo estava caindo, a gente estava aqui com burburinhos internos políticos fazendo com que o nosso real e a nossa Bolsa se desvalorizassem. Pela primeira vez a gente está muito alinhado com o cenário global. A gente saiu até um pouquinho na frente em relação a controle de inflação e com possibilidade de redução de taxa de juros ainda em 2023.
Essa possibilidade de queda de juros foi porque o IPCA anterior veio mais baixo que o esperado, mostrando que sim, temos o controle da inflação e podemos ter um corte de juros ainda em 2023 fazendo.
Então, sobre o comportamento dólar futuro no curto prazo a gente tem otimismo e para o longo prazo sempre fica uma incógnita.