Às vésperas da decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) sobre a taxa de juros, Lula voltou a criticar a postura de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central e lamentou não poder demitir o economista, que foi alçado ao posto por Jair Bolsonaro (PL) e Paulo Guedes após a decretação da autonomia do Banco Central.
Indagado se poderia demitir o presidente do BC, Lula lamentou que a decisão tenha que passar pelo Senado Federal, onde há poucas chances de que o mandato de Campos Neto seja interrompido.
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"Eu não posso demitir porque ele depende muito do Senado", afirmou Lula em entrevista ao site Brasil 247 na manhã desta terça-feira (21) no Palácio do Planalto.
Lula sinalizou que não mexerá na autonomia do Banco Central e vai esperar 2024 para trocar o comando da instituição. Campos Neto foi nomeado para a presidência do BC em 2019 e confirmado em 2022 por Bolsonaro após sanção do projeto que deu autonomia ao banco e mandato de 4 anos ao presidente e diretores.
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"A gente só vai poder mudar o Banco Central daqui a dois anos, porque ele tem autonomia. Eu, sinceramente, nunca me importei com a autonomia do Banco Central, eu nunca achei que era importante. Eu tive o Meirelles como presidente do BC por oito anos e ele teve muita autonomia - e muita gente criticava o Meirelles", afirmou.
O presidente, no entanto, atacou a posição de Campos Neto, que busca boicotar o governo com a manutenção dos juros, ignorando outros fatores que devem influenciar a atuação do BC.
"Eu, sinceramente, acho que o presidente do Banco Central não tem compromisso com a lei que foi aprovada de autonomia do Banco Central. A lei diz que é preciso cuidar da responsabilidade da política monetárias, mas é preciso cuidar da inflação também, do crescimento, do emprego... coisas que ele não se importa".
Lula também voltou a elevar o tom contra o conluio do Banco Central com bancos privados e agentes do sistema financeiro para manter a taxa Selic entre as mais altas do mundo, mesmo diante de um cenário em que isso se faz desnecessário.
"A primeira coisa que acho absurdo, de verdade, é a taxa de juros estar a 13,75% em um momento em que a gente tem o juro mais alto do mundo e não existe crise de demanda, não existe excesso de demanda, ou seja, nós temos 33 milhões de pessoas passando fome, nós temos desemprego crescendo, a massa salarial caindo... Então, não há razão, explicação ou lógica. Só quem concorda com juros altos é o sistema financeiro, que sobrevive e vive disso. E ganha muito dinheiro com as especulações", disse.
Lula ainda lembrou a atuação do empresário José Alencar, vice nos seus dois primeiros mandatos na Presidência, para baixar a taxa de juros já naquela época e criticou a atuação de analistas da mídia liberal na defesa do BC.
"As pessoas sérias que trabalham, os empresários que investem, sabem que não está correto. Ninguém pode tomar dinheiro emprestado a 13,75%, com juros real de 8% se descontar a inflação. E eu acho engraçado que o sistema financeiro e alguns editorialistas de alguns jornais acham ruim que a gente critique, que a gente tem que aceitar que o juro seja alto. Eu sinceramente, acho um absurdo o juro estar a 13,75%, o BNDES estar sem recurso para fazer investimentos", disse.
Em meio à pressão para por em prática as políticas públicas prometidas durante a campanha, que requerem investimento, Lula afirmou que vai continuar brigando pela queda dos juros.
"Eu vou continuar batendo, continuando a brigar para que a gente possa reduzir a taxa de juros e a voltar a ter investimentos. O BNDES, nos últimos anos, devolveu R$ 600 bilhões ao governo e fica sem dinheiro para fazer investimento. Ainda este ano, o BNDES tem que devolver R$ 90 bilhões ao Tesouro. Se o BNDES não tem dinheiro para investir, se o Banco do Brasil não tem, se a Caixa não tem, se o Basa não tem, se o BNB não tem e os bancos privados não querem fazer investimentos porque o juro é muito alto, como é que a economia vai crescer?", indagou.
Indignado, Lula voltou a atacar o sistema financeiro e relacionou a atuação de Campos Neto à popularidade entre agentes do sistema financeiro, revelado por recente pesquisa Quaest.
"Obviamente que o Presidente da República não pode ficar brigando, xingando toda hora, porque tenho outras coisas para fazer. Mas, o que a gente tem que ter certeza é que é irresponsabilidade do Banco Central manter a taxa de juros a 13,75%. Só quem gosta é o sistema financeiro, que tem 99% de aprovação a ele [Campos Neto] na pesquisa. Poderia ter dado 100%. Se ele aumentar para 14%, ai vão dar 150% de apoio".
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