De acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae Nacional em setembro, envolvendo aproximadamente 7 mil empreendedoras de todo o país, foi constatado que as mulheres dedicam cerca de duas vezes mais tempo diário às responsabilidades familiares e aos afazeres domésticos em comparação com os homens.
Elas desempenham um papel significativo no chamado "trabalho invisível" - série de tarefas domésticas e esforços essenciais a dependentes (como crianças, idosos, doentes ou pessoas com deficiência). Ao jornal Folha de São Paulo, a diretora de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, Margarete Coelho, destacou que a cultura machista continua a favorecer os homens na atividade empreendedora.
Te podría interesar
Para ela, é crucial desenvolver políticas públicas que proporcionem às empreendedoras condições equitativas para competir no mercado, Além disso, ter o próprio negócio propicia à mulher independência financeira. "Isso impacta diferentes aspectos da economia e da vida da população, inclusive na redução da violência doméstica", ressaltou a diretora.
O estudo do Sebrae aponta que as empreendedoras investem, em média, 3,1 horas diárias em cuidados com pessoas, enquanto os homens dedicam 1,6 hora por dia à mesma responsabilidade. No que diz respeito aos afazeres domésticos, as mulheres dedicam 2,9 horas diárias, enquanto os homens gastam 1,5 hora na mesma atividade. Para mais, se o trabalho invisível realizado pelas mulheres fosse considerado, adicionaria pelo menos 8,5% ao Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, segundo os pesquisadores do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).
Te podría interesar
A realidade se agrava quando se pensa nas empreendedoras de baixa renda. No Brasil, dos 29,3 milhões de proprietários de negócios, 68% têm uma renda de até dois salários mínimos (atualmente cerca de R$ 2.600), conforme apontado pela pesquisa.
Na faixa de renda mais baixa, as mulheres representam 36% das empreendedoras, percentual que diminui para 28% ao considerar a faixa de dois a cinco salários mínimos de renda mensal. "São mulheres que muitas vezes não conseguiram emprego antes de engravidar, pela sua baixa qualificação profissional. Depois disso, passam até dez anos em um limbo, até que a criança cresça", disse à Folha Vinícius Mendes Lima, fundador da agência de fomento social Besouro.
O preconceito com a mulher que ganha filhos na contratação é grande: não conseguem emprego em empresas privadas e assim tentam investir no empreendedorismo para gerar um tipo de renda. "Fica claro, então, que um salário mínimo não paga toda a conta: gastos da casa, do filho e de alguém que cuide dele enquanto ela trabalha", destaca. "Ao ficar em casa, sua única salvação é a inscrição no CadÚnico [Cadastro Único para Programas Sociais], como beneficiária de programas como o Bolsa Família, por exemplo. Uma renda adicional imediata virá do empreendedorismo."