PLANO NACIONAL DE CUIDADO

Governo Lula prepara políticas públicas voltadas ao 'trabalho invisível' de mulheres no Brasil

Com apoio de Janja, grupo com integrantes de 17 ministérios discute elaboração de plano nacional para o trabalho doméstico e de cuidado

Ao todo 7 milhões de mulheres entre 15 e 29 anos não estudaram nem trabalharam pr causa do trabalho de cuidado e tarefas domésticas.Créditos: Camva Images
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Um comitê composto por representantes de 17 ministérios está em discussões para criar um plano nacional que contenha medidas destinadas a apoiar tanto as mulheres, que são mais impactadas por serviços não remunerados, quanto aquelas que dependem desses cuidados, como crianças, idosos e pessoas com deficiência. Com o apoio da primeira-dama Janja, estima-se que a proposta esteja pronta para ser apresentada até maio do ano que vem.

Apesar de ainda estar indefinido, o grupo já determinou que as medidas a serem adotadas devem abranger os seguintes aspectos:

  • Disponibilização de serviços, como creches e escolas integrais
  • Concessão de tempo, através de políticas que fortaleçam direitos como a licença-maternidade; alocação de recursos e benefícios, incluindo políticas de transferência de renda; 
  • Regulamentação, como a definição de normas para as relações e condições de trabalho nas profissões de cuidado; 
  • Transformação cultural, englobando campanhas de conscientização. 

Nesta quarta-feira (7), dados divulgados pelo IBGE revelam que, em 2022, 7 milhões de mulheres entre 15 e 29 anos não estudaram nem trabalharam devido à ocupação no trabalho de cuidado ou tarefas domésticas. Esse número corresponde a 63,4% dos mais de 10,8 milhões de brasileiros nessa faixa etária que enfrentam o mesmo contexto.

A promoção da igualdade de gênero foi uma das principais ênfases da campanha de Lula em 2022 e também foi alvo de iniciativas durante este ano, incluindo a implementação da lei de equiparação salarial entre homens e mulheres, aprovada recentemente pelo governo. 

“Avanços reais”

“O trabalho do cuidado precisa ser um trabalho de homens e mulheres. Precisamos despertar a sociedade para que exista uma responsabilidade compartilhada. E, para além do compartilhamento da responsabilidade, acredito que conseguiremos ter avanços reais com relação ao assunto quando transformarmos a política do cuidado em política pública, política de Estado. E é isso que o presidente Lula está fazendo no atual governo, construindo a Política e o Plano Nacional de Cuidado voltado para cuidar de quem cuida”, ressaltou Janja em entrevista ao jornal O Globo.

Embora ainda não haja uma Política Nacional de Cuidado formalmente estabelecida, o governo já implementou ações que, embora dispersas, estão relacionadas ao tema. Um exemplo disso é a retomada das construções de creches e a expansão de escolas em período integral, proporcionando mais disponibilidade de tempo para mulheres que são mães.

A implementação de uma política nacional de cuidados teria um impacto econômico significativo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, até 2035, a criação de 300 milhões de empregos globalmente poderia ser viável por meio dessas estruturas. Além disso, a ONU Mulheres ressaltou que a remuneração adequada dessas atividades poderia influenciar até 39% do Produto Interno Bruto (PIB)

À medida que o Brasil organiza uma política nacional, países vizinhos como Colômbia, Argentina, Chile, República Dominicana e Uruguai já têm práticas estabelecidas que estão sendo analisadas pelo governo brasileiro.

“Estamos em 2023 e nós, mulheres, continuamos sendo as principais responsáveis pelo trabalho de cuidado, enfrentando muitos desafios diariamente para exercer essa função sem deixar de lado as tantas outras atribuições que a sociedade nos impõe”, destacou a primeira-dama. “Sabemos que historicamente a divisão social do trabalho coloca o homem como o provedor e a mulher como cuidadora e é por isso que precisamos debater sobre o assunto com urgência, para desconstruir essa realidade”.