MASSACRE INDÍGENA

Mais um jovem Guarani-Kaiowá é morto a tiros na TI Nhanderu Marangatu

Fred Morilha, de apenas 16 anos, aguardava o ônibus para a escola quando foi alvo de um ataque a tiros

Retomada Guarani e Kaiowá da TI Nhanderu Marangatu.Créditos: Comunidade TI Nhanderu Marangatu
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Em menos de uma semana após a morte do jovem indígena Neri Guarani Kaiowá a tiros na Terra Indígena Nhanderu Marangatu, no Mato Grosso do Sul, outro jovem, Fred Morilha, de apenas 16 anos, foi morto enquanto aguardava o ônibus para ir à escola, nesta segunda-feira (23). 

A denúncia foi feita pelo coletivo Aty Guasu e pela Mídia Indígena, que reforçaram a escalada da violência no território. Os indígenas Guarani Kaiowá da TI Nhanderu Marangatu realizam retomadas e, desde então, são alvos de massacres por fazendeiros e pela própria Polícia Militar (PM), que disparou os tiros que atingiram Neri na última semana. 

Os coletivos indígenas reforçaram a urgência de medidas de segurança por parte das autoridades. "Denunciamos a contínua violência contra nossa comunidade Guarani Kaiowá no Território Nhande Ru Marangatu", afirmou o coletivo Aty Guasu, em nota pública, que cobrou investigações concretas do Estado.

Até o momento, não há informações de quem efetuou os disparos contra o jovem Fred Morilha. A página também divulgou um vídeo (imagens sensíveis) em que o corpo do jovem Fred aparece no chão. A gravação também mostra duas mulheres indígenas sofrendo pelo ocorrido. 

Leia a íntegra da carta aberta do coletivo Aty Guasu

"Organização da juventude Guarani Kaiowá denuncia as violações de direitos humanos contra jovens indígenas Kaiowá e Guarani para autoridades Brasileiras e organismo internacional tome as providências.

Denunciamos as contínuas violências contra nossa comunidade Guarani Kaiowá no Território Nhande Ru Marangatu. Nessa duas semanas já foram assassinados dois jovens, onde milícias do agronegócios estão tirando a vida de nossos jovens.

Queremos investigações concretas do Estado Brasileiro. Vamos continuar defendendo nosso Tekoha Guasu mesmo isso custe nossa vida.

Por isso manifestamos nosso mais profundo sentimento pela perda tão dolorida dos nossos parentes e amigos mais próximos dos parentes. Chega de matar nossos jovens .

Tekoha Guasu Raj retomada Aty jovens".

Autoridades visitam TI Nhanderu Marangatu

Neste sábado (21), representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), do Ministério Público e da Defensoria Pública. visitaram a Terra Indígena Nhanderu Marangatu após a execução de Neri Guarani Kaiowá.

O assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Mato Grosso do Sul, Anderson Santos, acompanhou a ação e afirmou que o motivo da visita foi para uma escuta qualificada dos órgãos públicos visando a sequência das providências a serem tomadas pelo Poder Executivo para a resolução dos conflitos na região.

Também neste sábado o corpo de Neri voltou a Nhanderu Marangatu após passar por necropsia em Dourados realizada por uma equipe enviada de Brasília pela Polícia Federal e acompanhada por um antropólogo do Ministério Público Federal (MPF).

Dona de fazenda onde Neri foi morto é indicada para comissão sobre Marco Temporal

Roseli Ruiz, dona da Fazenda Barra, sobreposta sobre a TI Nhanderu Marangatu foi indicada como "especialista" para a próxima sessão da Comissão de Conciliação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o Marco Temporal, que aconteceria nesta segunda-feira (23).

A fazendeira foi indicada por parlamentares ruralistas de PL, PP e Republicanos como "antropóloga", profissão em que se formou para poder produzir relatórios contrários à demarcação de terras indígenas, como mostrou reportagem da Folha de S. Paulo em 2013. 

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