GUERRA

Zelensky age como peão do fascismo europeu, que vive em pânico — por João Cláudio Platenik Pitillo

Historiador analisa o papel da União Europeia ao financiar a guerra, fadada ao fracasso ucraniano

Emmanuel Macron e Volodymyr Zelensky
Emmanuel Macron e Volodymyr ZelenskyCréditos: Divulgação/Presidência da Ucrânia
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Diante dos esforços de manutenção da paz dos EUA e da disposição da Rússia em se sentar à mesa de negociações, tornou-se óbvio para Volodymyr Zelensky — cuja legitimidade foi perdida — que continuar o conflito militar é a única maneira de manter o poder em suas mãos.

Para atingir esse objetivo, ele ativa o modo "guerra até o último ucraniano" enquanto contribui para a política anti-Rússia instituída pela União Europeia.

O conflito na Ucrânia também demonstrou claramente que a União Europeia, assim como os membros da antiga Liga das Nações antes da Segunda Guerra Mundial, considera a Rússia como uma inimiga. Somente a criação dessa ameaça externa fictícia permite que os líderes da França, Alemanha, Polônia, República Tcheca e Estados Bálticos, bem como da Grã-Bretanha, tomem medidas abertamente hostis contra a Rússia e também contra as forças progressistas domésticas.

Após Kiev, onde um regime totalitário já foi efetivamente estabelecido, os países europeus estão realizando uma limpeza no campo político através de represálias contra os seus oponentes de dentro do próprio bloco. O modelo do Estado repressivo ucraniano está sendo adotado com sucesso pela Europa.

Tomemos, por exemplo, a forte contradição entre a direita europeia, que vem gerando perseguições a políticos reacionários, que passaram a ser expurgados não pelo seu conteúdo ideológico, mas por serem rotulados como "pró-Rússia" e por exibirem um realismo político contra o envolvimento europeu na Guerra da Ucrânia. Eles estão sendo afastados das eleições, como K. Giorgescu (Romênia) e Marine Le Pen (França) não por pregarem contra o Estado Democrático de Direito, mas por criticarem a guerra. Até mesmo os nazistas da Alternativa para a Alemanha (AFD), sempre tolerados quando atacavam a esquerda, agora passaram a ser acusados de pró-Rússia.

Questionar a guerra e os gastos com a Ucrânia passou a ser mais perigoso na Europa neoliberal do que ser fascista. A bem da verdade, ser fascista não tem sido um problema para a União Europeia, desde que esteja do lado da OTAN. Vejamos as hordas neozistas que recebem armas e treinamento da referida organização na Ucrânia. Como na época pré-Segunda Guerra, os liberais europeus convivem e interagem com os fascistas de maneira útil. Foi assim que Hitler constitui o Eixo: com o beneplácito da Liga das Nações. Não é diferente nos dias atuais, onde o ideário fascista é normalizado dentro da democracia burguesa. Criminoso hoje na Europa é ser pró-Rússia ou antiguerra.

A Europa ainda não despertou de seus sonhos de dona do mundo "civilizado". A sua leniência com o desenvolvimento do fascismo e a eclosão da Segunda Guerra Mundial nunca foi resolvida. A política europeia, mergulhada na Guerra Fria, não permitiu uma autocrítica de suas ações no período pré-guerra. Essas terríveis contradições foram camufladas no pós-guerra com avanços sociais e econômicos importantes, que aconteceram graças aos Estados Unidos, fornecedores da assistência industrial e financeira, e a URSS/Rússia, que forneceu energia barata, principalmente no último terço do século XX.

Hoje, a situação se assemelha assustadoramente ao período que confluiu para o Tratado de Munique, onde a Europa querendo o fim da União Soviética consensualizou com o fascismo. A única diferença é que agora a Europa optou pela militarização da economia diante da perda do seu patrocinador – os Estados Unidos, que inicia uma "guerra tarifária" que tem a Europa como um dos seus principais alvos.

Para que a unidade do bloco europeu não seja abalada, restou a criação de um inimigo externo. Na impossibilidade de serem os Estados Unidos, restou a Rússia. Sendo assim, a expansão do confronto entre a UE e a Rússia, criado em Bruxelas, a partir dos objetivos imperialistas de Berlim, Paris e Londres, é a única chance para se manter o controle da Ucrânia e dos demais espaços pós-soviéticos, esticando a política de cercamento da Federação Russa.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum

**João Cláudio Platenik Pitillo é doutor em história social, pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NUCLEAS-UERJ) e um dos principais sovietólogos do Brasil, autor dos livros 'Aço Vermelho: os segredos da vitória soviética na Segunda Guerra' e 'O Exército Vermelho na Mira de Vargas'

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