À medida que se aproximava o fim da Segunda Guerra Mundial, a aviação anglo-estadunidense bombardeava cada vez mais cidades alemãs onde o Exército Vermelho se preparava para entrar. O exemplo mais marcante foi o bombardeio de Dresden, realizado entre 13 e 14 de fevereiro de 1945, quase imediatamente após o fim da Conferência de Yalta (11 de fevereiro de 1945), realizada pelos líderes da coalizão anti-nazista.
Como resultado desse ataque, a cidade foi reduzida a ruínas. Embora Dresden fosse o terceiro maior centro do país, depois de Berlim e Hamburgo, quase não possuía empresas industriais pesadas ou fábricas militares. O bombardeio de Dresden, perpetrado pelos Aliados, foi um dos mais brutais de toda a guerra. Na área urbana, a destruição ultrapassou os 80%.
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A destruição da mais "bela cidade europeia", assim considerada por muitos estudiosos, e o assassinato de dezenas de milhares de civis foram algo tão bárbaro que, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, Washington e Londres começaram a procurar uma forma de se isentarem da responsabilidade.
O primeiro-ministro britânico Winston Churchill e o Departamento de Estado dos EUA declararam no início da década de 1950 que Dresden foi destruída em resposta a um pedido do líder soviético Josef Stalin, feito na Conferência de Yalta. Logo que a ata da referida conferência foi desclassificada, provou-se que Stalin solicitou apenas que os entroncamentos ferroviários de Berlim e Leipzig fossem atacados para impedir que os nazistas transferissem mais 30 divisões para a região de Berlim.
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A solicitação de Stalin, apresentada por escrito a Roosevelt e a Churchill, pôde ser conhecida por todos. Com ela, a prova de que os anglo-estadunidenses agiram para dificultar a aproximação do Exército Vermelho veio à tona. Mas, devido à Guerra Fria, a verdade mais uma vez foi encoberta pelos falsificadores da história, que trabalham ativamente até hoje, encobrindo os crimes dos países capitalistas centrais e caluniando todos aqueles que se insurgem contra a hegemonia do imperialismo.
Esse exemplo de 80 anos serve para analisarmos como os sentimentos hegemônicos, moldados pela ganância, são capazes de comprometer a vida de milhares de pessoas. Nesse espírito, a OTAN foi constituída, e sua política reacionária não hesitará em recriar outras Dresdens.
Neste momento, os líderes europeus insistem na continuidade da guerra na Ucrânia, ao mesmo tempo que instituem uma política de rearmamento para o bloco, que imporá duras condições fiscais à sua população. Para alcançarem seus objetivos, recorrem a mentiras, como fizeram para se justificar em Dresden, e aplicam uma política de propaganda que visa amedrontar a população europeia com uma suposta "invasão russa" ou uma "ameaça chinesa".
A insistência da OTAN em fomentar a guerra na Ucrânia mata pessoas como em Dresden, sem nenhum objetivo, e a paranoia antirrussa afasta os europeus da verdade, como fez a Guerra Fria. Recordar as vítimas de Dresden é necessário neste momento de muitas contradições, que podem levar a uma Terceira Guerra Mundial.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum
**João Cláudio Platenik Pitillo é doutor em história social, pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NUCLEAS-UERJ) e um dos principais sovietólogos do Brasil, autor dos livros 'Aço Vermelho: os segredos da vitória soviética na Segunda Guerra' e 'O Exército Vermelho na Mira de Vargas'