O orçamento para 2025 foi finalmente aprovado, com três meses de atraso. O PSOL votou a favor, mas com críticas. Entendemos que era necessário destravar os recursos para pagar o reajuste negociado com os servidores federais, para prosseguir com os programas sociais e liberar investimentos que estavam parados, aguardando a votação.
A marca desse longo processo, que vinha se arrastando desde o ano passado, não foi uma discussão saudável acerca do modelo do Estado brasileiro, ou a respeito da necessária redistribuição de renda para enfrentar a desigualdade social em nosso país. O que predominou nesse período foi a barganha da pequena política, de olho principalmente nas verbas das emendas parlamentares.
Te podría interesar
Isso acontece porque, de um lado, temos um Poder Executivo fragilizado, sem maioria parlamentar, refém de uma política institucional em que não dá as cartas. De outro, predomina a cobiça de um Congresso liberal-conservador ávido por manipular verbas públicas.
O governo, amarrado pelas regras fiscais, enfrentou dificuldades em liberar recursos para programas sociais, como o Bolsa Família, o Pé-de-Meia e o Vale-Gás.
Te podría interesar
Parte significativa do Congresso, por sua vez, não satisfeita com as emendas individuais impositivas, trabalhou para aumentar a fatia dos recursos sob sua alçada, tentando driblar as exigências do Supremo Tribunal Federal (STF) e mantendo na obscuridade as emendas de comissão.
As falas dos parlamentares do centrão e da direita escancaram a importância das emendas parlamentares para o fortalecimento das políticas clientelistas. No “semipresidencialismo” brasileiro, os deputados destinam as verbas, mas não assumem responsabilidades com a qualidade e nem prestam contas dos resultados da aplicação desses recursos.
O que ocorre atualmente, em um sentido mais amplo, é uma privatização acelerada do orçamento público, seja através da individualização da despesa, levada a cabo pelas emendas parlamentares, que fragmentam o investimento público e invadem a competência do Executivo, seja pela redução da capacidade do Estado de prover e ampliar os programas e serviços públicos necessários à população.
É positivo que o orçamento tenha sido aprovado, mas ainda temos muito a avançar na luta pela recuperação de um projeto econômico coerente e responsável.
O governo deveria mirar na superação do arcabouço fiscal e no redesenho do sistema orçamentário, passos essenciais para o fortalecimento do Executivo e dos instrumentos de planejamento estatal.
*Chico Alencar é escritor, professor de História e deputado federal eleito pelo PSOL-RJ
** Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum