DEBATES

Minha criança - Por Pedro Fávaro Jr.

Uma vez escrevi um palavrão bem feio no terreiro. Tinha uns dez anos. Foi uma confusão com tios, tias, primos e primas. Mas nunca descobriram.

Pedro Fávaro Jr. e os netos: Helena e Francisco.Créditos: Facebook
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Eu gostava das cadeiras de palha entrelaçada, na casa da minha avó Matilde. Gostava do cheiro do café que inundava a casa dela, à tarde, e dos bolinhos de chuva, doces, açucarados...

Amava o talharim que ela fazia para as canjas de domingo à tarde e me espantava de ver a velhinha ou meus tios destroncando as galinhas que iam enriquecer aquela sopa espetacular...

Amava alvejar colmeias de marimbondo com estilingue... Derrubei tantas! Até que um dia eles se vingaram e eu fiquei uns dez dias acamado, todo inchado em caroços nos olhos, na testa, orelhas, braços, pernas... Fora a coça dos mais velhos...

Marimbondos são vingativos! Credo.

***

Gostava de roubar a bicicleta do tio Augusto, meu padrinho, e andar pelos pastos da região. Uma vez uma vaca correu atrás de mim e cai da bicicleta, a alavanca do breque entrou na parte dianteira superior da minha coxa esquerda...

Deixou uma lapa, um naco pendurado em forma de *L* e sangue esguichando pra todo lado. Corri na tia Joana que a gente chamava de Nize. Ela urinou num pano, picou fumo em corda, fez um curativo e aquilo cicatrizou rápido.

Voltei no mesmo dia para o pasto e cheguei perto da vaca. Ela não é vingativa como os marimbondos. Só assustou...

***

No casão do sítio do nono Ricardo e da nona Emília também tinha café com bolinho de chuva...

E tinha um fogão a lenha que deixava a casa toda aquecida...

Na frente da casa havia um terreiro enorme. Uma vez escrevi um palavrão bem feio no terreiro. Tinha uns dez anos. Foi uma confusão com tios, tias, primos e primas. Mas nunca descobriram.

Ainda bem porque nesse tempo percebi que as pessoas podem ser tão vingativas quanto marimbondos... Ou mais...

*Pedro Fávaro Jr. é diácono permanente da Igreja Católica, Apostólica Romana há 23 anos e jornalista desde 1975. Criou a Imprensa Oficial de Jundiaí em 1978 e o jornal oficial da Diocese de Jundiaí, O Verbo, em 1996. Trabalhou no Jornal da Cidade e Jornal de Jundiai, Diário do Povo e Correio Popular de Campinas, Jornal da Tarde, O Estado de S. Paulo e Agência Estado de Notícias do Grupo Estado, onde atuou por 28 anos.