CRÔNICA

Pout pourri – Por Esther Rapoport

Fazer um texto inteiro sobre figurinhas carimbadas da Alemanha seria um “porre” para quem lê, tipo chover no molhado, até porque não tenho repertório para discutir a fundo suas ideias ou teorias. Pensando nisso, imaginei um pot-pourri de gente famosa

Albert Einstein, Karl Marx e Beethoven.Créditos: Imagem gerada por Inteligência Artificial
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Tem algumas figurinhas muito importantes e super carimbadas aqui na Alemanha, conhecidas, estudadas e discutidas o tempo todo. Fazer um texto inteiro sobre algumas delas seria um “porre” para quem lê, tipo chover no molhado, até porque não tenho repertório para discutir a fundo suas ideias ou teorias. Pensando nisso, imaginei um pot-pourri de gente famosa.

Começo com Albert Einstein.

É verdade que ele nasceu na Alemanha, mas rodou o mundo, trocando de nacionalidade como a gente troca de canal no YouTube.

Veio ao mundo em 14 de março de 1879, em Ulm, “no seio de uma família” de classe média judaica.

Aos 15 anos, foi expulso da escola por excesso de faltas. Nesse mesmo ano, viajou para a Itália, onde seus pais estavam morando (eu também iria...). Dois anos depois, com 17 anos, renunciou à nacionalidade alemã para não fazer o serviço militar e se mudou para a Suíça. Ficou apátrida até seus 22 anos, quando pediu, e ganhou, a nacionalidade suíça.

Anos depois, os alemães congelaram a conta bancária que ele tinha na Alemanha, por ser judeu. Einstein correu para pedir ajuda ao governo suíço, que interviesse e comprasse essa briga, já que ele era cidadão suíço, mas os helvéticos não quiseram nem ouvir o chororô, pois estavam p. da vida pelo fato de ele sempre se apresentar como um cientista alemão, e responderam ao seu pedido com um sonoro: cada um com seus problemas!

Sem aquela grana, ele continuou rodando o mundo até que, 40 anos depois, se tornou cidadão norte-americano.

Em 1952, foi convidado para ser Presidente do país. Não dos EUA, mas de Israel. Quando morreu o presidente Chaim Weizmann, o primeiro-ministro Ben Gurion chegou a convidá-lo para a função, convite que ele declinou.

Einstein morreu três anos depois, em 1955. Tinha deixado por escrito que queria ser cremado, e foi. Antes disso, porém, durante a autópsia e sem a autorização da família, o médico legista retirou seu cérebro, colocou num vidrinho e levou para casa, para estudar de onde veio tanta genialidade.

Quando descobriu o fato, o filho de Einstein saiu enfurecido atrás do médico, mas se acalmou e chegou a autorizar o tal estudo, que, se foi realmente feito, não revelou nada.
A viagem do gênio só acabou em 1997, mais de cem anos depois do início de sua jornada na vida, quando o médico devolveu o cérebro, ou o que sobrou dele, para sua neta.

Ah, suas últimas palavras, no leito de morte, foram... em alemão, e a enfermeira americana que o acompanhava não entendeu nada!

Nosso próximo personagem é Karl Marx.

O nome completo do tio Marquinhos (como diz a sensacional Rita von Hunty) era Karl Heinrich Marx. Nasceu em Trier (Prússia - Império Germânico) em 1818 “no seio de uma família” de origem judaica. Seus avós paterno e materno eram rabinos, mas seu pai se converteu ao luteranismo para escapar da fúria antissemita sempre em voga na Europa do século XIX.

Carlinhos, mesmo defendendo a tese de que a religião era o ópio do povo, revelava, na sua forma de discutir, estudar e escrever, um exercício rabínico.

Por exemplo, existe um preceito na religião judaica chamado Tzedaká que significa, de forma resumida, que todo mundo tem que oferecer 10% de seus ganhos aos menos favorecidos. Não deve ser entendida como caridade. Não! É considerada, pela religião, como “justiça social”. Quem tem, tem por obrigação contribuir de forma material com quem não tem, e também com a comunidade. Acho que Marx já ouvia essas coisas de justiça social e distribuição de renda em casa, na voz de seus avós.

Mas não vou fazer aqui nenhum resumo d’O Capital, relaxa! Como agente de viagens, quero apenas desenhar o itinerário dele pela Europa.

Em 1843, foi expulso da sua terra natal, Prússia, por fazer críticas ao governo através do jornal onde exercia o papel de redator-chefe, mudando-se para Paris. Mas foi expulso da França em 1845 a pedido do governo prussiano. Migrou então para Bruxelas, de onde, três anos depois, foi expulso após divulgar seu Manifesto Comunista. Mudou-se para Colônia, onde fundou o jornal Nova Gazeta Renana, mas foi novamente expulso em 1849 após publicar ataques às autoridades locais. Fez a mala (quiçá uma sacolinha) e se mudou para Londres, onde viveu como apátrida até sua morte, em 1883.

Como disse aquele outro barbudo, o maior líder brasileiro, aquele que defende a mesma justiça social, que foi preso injustamente e que foi recebido, um século e meio depois, com honras de chefe de Estado pelos líderes desses mesmos três países, Alemanha, França e Bélgica: Se expulsa (ou se prende) o homem, mas não se prende (nem se expulsa) uma ideia.

E vou encerrar esse capítulo falando de outro monstro da arte e cultura germânica, Beethoven, ou melhor, Ludwig van Beethoven, um personagem rodeado de mistérios.

O primeiro mistério está relacionado à sua data de nascimento, que não se conhece. Sabe-se apenas a data de seu batismo, em 1770, em Bonn.

Não vou discorrer sobre sua entrada e seu desenvolvimento na música pelos motivos alegados anteriormente, mas quero apenas destacar que era um visionário, que escrevia suas sinfonias não para os ouvidos de seu tempo, mas para a posteridade. Um exemplo disso foi o fato de ter incluído um coro no movimento final da Nona Sinfonia, um gênero que era exclusivamente instrumental.

O segundo mistério foi sua vida afetiva. Nunca se casou e dizem as fofocas da época que “Für Elise” teria sido dedicada a uma cantora de ópera, chamada Elisabeth Röckel, a quem ele teria feito um pedido de casamento, recusado.

Foi um anti-monarquista e entusiasta da Revolução Francesa, e tinha dedicado a Terceira Sinfonia para Napoleão Bonaparte, mas quando este se coroou imperador, encolerizado, rasgou a dedicatória e renomeou a obra como “Heróica”.

Outro mistério ronda o motivo de sua morte, em 1827, provavelmente de cirrose hepática, mas nunca confirmado.

A morte não foi suficiente para diminuir a importância desse gênio nem na Música, nem na tecnologia. Quando os engenheiros da Philips estavam desenvolvendo a tecnologia dos CDs de áudio no início da década de 80 do século XX, Herbert von Karajan, o regente, sugeriu que a capacidade dessa mídia fosse ampliada de 60 para 74 minutos para caber a Nona Sinfonia inteira.
E assim se fez.

Abraços!!

*Esther Rapoport é graduada em História pela Universidade de São Paulo, mas se dedicou nos últimos 40 anos à indústria do Turismo, tendo trabalhado em diversas empresas do setor além de oferecer palestras e cursos para profissionais do turismo e viajantes curiosos, interessados em ampliar seu repertorio sobre a História dos mais variados destinos do planeta. Mora atualmente na Alemanha

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