Uma queridíssima amiga me pediu que escrevesse sobre Goethe.
Aquele do Instituto Goethe, do Fausto, um dos mais importantes representantes da Literatura alemã, filósofo, estadista, cientista, dramaturgo e considerado pelo Instituto que leva seu nome como “um verdadeiro Leonardo da Vinci alemão”.
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Eu, que ainda nem terminei de ler “Os sofrimentos do jovem Werther”, nunca estudei o Romantismo alemão e nem falo sua língua, como posso escrever sobre este personagem?? Mas topei a parada, pensando em fazer daquele meu jeito, descobrir algo do Goethe e não da sua obra. Procurar o que na sua vida podia ser contado para vocês, que já devem ter lido todos os seus livros, assistido os filmes e adquirido os CDs...
Me enchi de coragem e fui ler um pouco da sua biografia. Me chamou a atenção o tanto que esse cara amou no seu longo percurso nesta vida. Meu recorte então foi escolhido assim: as mulheres que passaram por sua vida e as marcas deixadas, além do costumeiro vai-e-vem de viagens que realizou tanto no Império como fora dele.
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Para começar, vamos ao meu bordão habitual: Johann Wolfgang von Goethe nasceu em Frankfurt em 1749, no seio de uma família da alta burguesia. E, como já foi dito antes, quem tem berço, tem escola, por isso o jovem estudou tudo que tinha direito, incluindo francês, inglês, italiano, latim, grego, ciências, religião, desenho, violoncelo e piano, além de dança e equitação. E tinha à disposição, em casa, uma biblioteca com mais de 2 mil livros. (Abro o primeiro parêntese: queria puxar uma discussão sobre Meritocracia, mas não acho oportuno...)
Mandaram o moleque estudar Direito, primeiro em Leipzig, depois em Strasbourg (entre 1770 e 1771). Como avisei antes, quero falar mais das mulheres do que da sua obra, então vou pular o fato de ter sido aí que ele conheceu a corrente literária “Sturm und Drang”, que o influenciou muito, e contar que foi quando conheceu Friedrike Brion, por quem nutriu uma paixão avassaladora e para quem escreveu muitas poesias de amor. Ficamos só na poesia mesmo, porque a tese que ele apresentou na faculdade foi rejeitada por ser confusa e ousada, e por isso não obteve o diploma.
No ano seguinte, se mudou para Wetzlar, para trabalhar na corte de Justiça Imperial. Aí conheceu Charlotte Buff, por quem se apaixonou. Acontece que ela estava noiva de outro, um tal de Kestner, com quem se casou. Tudo isso inspirou Goethe para escrever “Die leiden des Jungen Werthers” (Os sofrimentos do jovem Werther), sucesso absoluto no Império Alemão e além de suas fronteiras. A diferença entre a personagem e o autor é que o primeiro se matou pelo desespero de não realizar esse amor. O sucesso desse romance foi tanto que se criou uma verdadeira moda entre os jovens alemães, que passaram a se vestir como Werther, falar como ele e até se suicidarem como o personagem do livro. O próprio Goethe testemunhou a recuperação do corpo de uma menina que se suicidou, e que tinha um exemplar do seu romance no bolso. Estamos em 1774 e começa aqui sua fama internacional.
De volta à Frankfurt, um novo amor: Anna Elisabeth "Lili" Schönemann, filha de um banqueiro. Como um adolescente, se apaixonou perdidamente, e dirá a um amigo, já na velhice, que nunca esteve tão perto da felicidade como naquele momento. O esquisito é que, depois de meses de relacionamento, quando o pai da moçoila quis organizar o casamento deles, Goethe rompeu o noivado e aceitou um convite para ir trabalhar em Weimar, para fugir do compromisso.
Chegando em Weimar, em 1775, deu de cara com Charlotte von Stein, casada, sete anos mais velha do que ele, super culta e interessante (como são sempre as mulheres mais velhas!!) e se apaixonou perdidamente por ela. Será um amor platônico, mas ela influenciará fortemente o escritor, inspirando-o a escrever a novela “Wilhelm Meister” além da peça em prosa “Ifigênia em Táurida”.
Dizem que, para fazer a encenação da peça, Goethe pediu que chamassem uma atriz, cantora e compositora importante no cenário cultural de então, com quem teve um breve romance. Não consegui pesquisar muito mais sobre ela porque parece que seu nome era Corona Shöter, então, com esse nome, os mecanismos de procura na web só identificaram o vírus!!!
A amizade entre Goethe e Charlotte durou uma década e foi interrompida quando, na noite de 3 de setembro de 1786, sem despedir de ninguém, escondido em uma charrete dos correios, e com um passaporte falso em nome de Phillipe Müller, Goethe fugiu para a Itália. Fugia tanto dessa relação mal resolvida, como do cansaço desses 10 anos no serviço público que desempenhava em Weimar. (Ahhh... eu faria exatamente o mesmo!!!)
Goethe ficou dois anos na Itália (eu também ficaria) e lá escreveu uma versão de “Fausto”, obra revista e revisada muitas vezes, escreveu “Torquato Tasso”, e ainda reescreveu, em versos, “Ifigênia em Táurida”, iniciando o classicismo alemão.
Em 1788, ele voltou para Weimar (eu teria ficado na Itália), mas não ao serviço do ducado. Depois deste retorno, ele se dedicou completamente à sua arte. Agora estava mais maduro e centrado.
Conheceu, em 1794, o poeta Friedrich Schiller, com quem desenvolveu uma profunda amizade. Mas e quanto às mulheres?? Ahh, elas continuam sempre no seu radar.
Conheceu Christiane Vulpius, jovem vinda de uma família de acadêmicos que foram empobrecendo. Seu pai teve que abandonar seus estudos na faculdade de Direito para sustentar a família e permitir que um de seus filhos estudasse. Ganhava pouco, mas segurava a onda, até ser demitido de seu emprego como arquivista. A filha foi então forçada a buscar um trabalho e só conseguiu o de empregada doméstica. (É agora que a gente vai falar de Meritocracia??... não, melhor não...)
Foi trabalhar na casa de um editor e foi nesse ambiente que conheceu Goethe.
Naquele mesmo verão, já estavam apaixonados. (Fico me perguntando como se faz para amar tanto...) Foi tanta felicidade que ele não parou de escrever poemas eróticos e felizes de doer, e inventaram a moda de juntar os trapos, para horror e desespero da sociedade da época. Precisaram até se mudar para uma casa na periferia de Weimar, para se afastar da fofocagem.
Tiveram cinco filhos, mas o único que sobreviveu foi o primeiro, chamado August. Por fim, em 1806, se casaram, mas o preconceito contra a “empregadinha do Goethe” persistiu, e ele chegou a pedir ajuda a uma amiga rica, Johanna Schopenhauer (mãe do filósofo), que convidasse sua esposa para tomar um chá. O comentário da viúva foi: "Se Goethe lhe deu seu nome, suponho que podemos dar-lhe uma xícara de chá."
Combinei com vocês de não entrar em detalhes sobre a obra e carreira de Goethe, mas posso dizer que, entre o final do século XVIII e o início do XIX, ele exerceu grande influência tanto na política como na cultura, na arte e na filosofia europeia daquele período. Alguns nomes das pessoas com quem ele conversou e interagiu: Napoleão Bonaparte, Hegel, Beethoven, Schopenhauer, Schiller, além dos menos famosos.
Em 1816, morreu sua esposa, mas o coração do poeta não ficou vazio. Logo após essa perda, conheceu Marianne von Willemer, uma mulher linda e espirituosa, 40 anos mais nova, que será inspiração para um novo livro de poesias, “O divã ocidental-oriental”, recheado de erotismo, violência e filosofia.
Já com 72 anos, durante uma temporada de “águas curativas” em Marienbad, Goethe conheceu a jovenzinha Ulrike von Levetzov, no auge de seus 17 anos. Se apaixonou de novo (canso só de pensar...) e chegou a propor-lhe casamento, mas a família dela nem respondeu ao pedido absurdo.
Desiludido, como o Werther de 50 anos antes, Goethe respondeu com uma nova peça literária: Elegia de Marienbad. Foi a última história de amor de nosso personagem, que passou os últimos anos dedicados à segunda parte de “Fausto”.
Ele morreu em 1832, dizem que solitário e infeliz.
Solitário... depois de tanto amar... e a Marisa Monte está cantando aqui, agora:
“Bem que se quis, Depois de tudo, Ainda ser feliz....”
Abraços!
*Esther Rapoport é graduada em História pela Universidade de São Paulo, mas se dedicou nos últimos 40 anos à indústria do Turismo, tendo trabalhado em diversas empresas do setor além de oferecer palestras e cursos para profissionais do turismo e viajantes curiosos, interessados em ampliar seu repertorio sobre a História dos mais variados destinos do planeta. Mora atualmente na Alemanha
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