Por Mário Maurici*
O cumprimento aos Direitos no Brasil é uma tarefa que exige o empenho de toda a sociedade, sobretudo diante do histórico desrespeito criminoso que acontece tanto por parte do poder público quanto na esfera privada. Refiro-me principalmente aos direitos básicos da mulher, muitas vezes vítimas de assassinatos cometidos por seus próprios companheiros, de assédio sexual ou profissional, além de outros tipos de violência.
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Infelizmente os índices de feminicídio em São Paulo e no Brasil continuam altos, o que exige ações eficazes e urgentes em políticas públicas a fim de proteger as mulheres dessas tragédias que cotidianamente ocorrem no interior dos lares. O papel do Poder Legislativo em geral e o do deputado em particular não pode apenas se limitar a formular leis ou propor medidas esperando a boa vontade do Executivo na área da segurança pública.
O parlamentar comprometido com essa causa, antes de mais nada, procura acolher as demandas vindas da sociedade e estabelecer parcerias com organizações sociais e entidades que atuam diretamente no combate à violência contra a mulher. Foi por esse caminho que recentemente, com o apoio do nosso mandato, o Instituto das Mulheres do Grajaú, na zona Sul de São Paulo, obteve na Justiça a instalação de uma delegacia móvel da mulher, com atendimento 24h. Uma medida essencial para a população da região, uma vez que a delegacia da mulher mais próxima, em Santo Amaro, fica a vários quilômetros de distância.
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Esperamos, portanto, que o governador Tarcísio de Freitas não recorra da decisão da Justiça e prolongue ainda mais a desassistência das mulheres na região do Grajaú. Aliás, é importante denunciar o descaso que o atual governo do Estado tem em relação às políticas públicas para as mulheres.
A situação das delegacias de defesa das mulheres (DDMs) no Estado de São Paulo é por si só um caso de análise específica. São apenas 11 delegacias em funcionamento 24 horas em todo o Estado das 140 unidades policiais existentes. Como as delegacias da mulheres estão sob gestão da Secretaria de Segurança Pública, o secretário estadual Guilherme Derrite afirmou que “São Paulo cumpre com a determinação de atendimento às vítimas de violência 24 horas de modo remoto”. Procedimento que vai de encontro à lei sancionada em abril pelo governo federal determinando que todas as delegacias da mulher têm que funcionar 24 horas, inclusive aos finais de semana e feriados.
A falta de prioridade envolvendo as delegacias de defesa da mulher é apenas um indício de como o governo trata a questão. Nesse aspecto, a bem da verdade, Tarcísio começou errando logo cedo, na gênese de seu mandato, e o seu pecado original foi “criar” uma Secretaria de Políticas para a Mulher a partir de um decreto que transformou a então Secretaria de Logística e Transportes na atual pasta - em tese, voltada para as questões das mulheres.
Como se viu, apenas uma jogada de marketing de início de governo, haja vista que 99% do orçamento da secretaria das mulheres ficou reservado para a área de transportes. Dos R$ 782,8 milhões da dotação deste ano, R$ 768 milhões ficaram com o Departamento de Estradas de Rodagem, sendo outros R$ 5,3 milhões para a Companhia Docas de São Sebastião e somente R$ 9,4 milhões para a Secretaria da Mulher, o que representa apenas 1% do valor total do orçamento. Ressalte-se que deste total, até julho quase metade destes recursos (R$ 4,1 milhões) já haviam sido gastos para a gestão da pasta com pagamentos de salários e fornecedores.
A pergunta que fica é: como promover políticas públicas adequadas para as mulheres com recursos tão pífios? É fundamental registrar que o Estado de São Paulo bateu recorde nos casos de violência contra a mulher nos três primeiros meses da gestão Tarcísio.
O atual governador do Estado poderia, por sinal, seguir o exemplo do presidente Lula com ações concretas realizadas já nos primeiros meses do seu governo. O presidente da República sancionou uma série de leis em benefícios das mulheres, entre as quais, várias relativas ao combate à violência.
- Reconfigurou a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), número de telefone em que é possível registrar denúncias contra qualquer tipo de violência de gênero, o serviço funciona 24 horas por dia.
- Recriou o programa Mulher: Viver sem Violência, com a implantação de 40 unidades das Casas da Mulher Brasileira, com recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública e investimento de R$ 372 milhões. Esse mesmo programa garante ainda a doação de 270 viaturas para a Patrulha Maria da Penha, em todos os estados.
- Um decreto presidencial prevê a regulamentação da cota de 8% da mão de obra para mulheres vítimas de violência em contratações públicas na administração federal direta, autarquias e fundações.
- Foi ainda instituído o Dia Nacional Marielle Franco, que passa a ser lembrada todo 14 de março, dia em que a vereadora do Rio de Janeiro foi assassinada, em 2018. A data será usada para reforçar o enfrentamento à violência política de gênero e de raça.
É mais do que evidente o contraste existente entre a esfera federal e estadual quando falamos de prioridade no combate à violência contra a mulher. De nossa parte, como deputado estadual do Partido dos Trabalhadores, continuarei atuando de maneira crítica e responsável exigindo do governo do estado o cumprimento do seu papel na segurança pública, em especial às mulheres e a qualquer violação dos direitos das pessoas, independentemente de gênero, etnia, ou classe social.
*Mário Maurici é deputado estadual pelo PT-SP, foi vice-presidente da EBC, vereador, prefeito de Franco da Rocha, presidente da Ceagesp e secretário de governo e de comunicação de Santo André.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.