Na história do rock, poucas músicas carregam tanto simbolismo quanto “The End”, dos Beatles. Lançada em 1969 como parte do clássico álbum Abbey Road, a faixa marcou o último momento em que John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr gravaram juntos no estúdio. Mais do que uma canção, “The End” é uma despedida — breve, intensa e cheia de significados.
O adeus em forma de música
Gravada entre 23 e 26 de julho de 1969 nos estúdios da EMI em Londres, “The End” encerra o medley que ocupa a segunda metade do álbum Abbey Road. A faixa foi concebida por Paul McCartney como uma espécie de epílogo da trajetória dos Beatles. A frase final, “And in the end, the love you take is equal to the love you make”, é frequentemente lembrada como o epitáfio lírico da banda.
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Solos democráticos: todos em destaque
Um dos aspectos mais marcantes da música é o espaço dado a cada integrante. Pela primeira — e única — vez na carreira dos Beatles, Ringo Starr executou um solo de bateria, mesmo relutante. Convencido pelos colegas, entregou uma performance curta, mas marcante, que abre caminho para uma das seções mais memoráveis do rock.
Em seguida, os três guitarristas da banda — Paul, George e John — revezam solos curtos, com dois compassos cada, em uma espécie de duelo fraterno. O contraste entre os estilos é evidente: Paul surge com frases melódicas e vibrantes, George adota um tom bluesy e fluido, enquanto John despeja notas mais cruas e distorcidas. Essa sequência revela não apenas suas personalidades musicais, mas também o equilíbrio que sempre sustentou o som dos Beatles.
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Bastidores e produção
Produzida por George Martin, com engenharia de som de Geoff Emerick, a gravação de “The End” aconteceu num momento delicado. Os conflitos internos entre os Beatles já eram conhecidos, e as tensões nos bastidores estavam em alta. No entanto, relatos sugerem que, durante as sessões desta música, houve um raro instante de harmonia e colaboração entre os quatro.
Curiosamente, a canção seria a última do álbum. Mas um pequeno acidente de edição mudou os planos: a faixa “Her Majesty”, descartada por Paul, acabou sendo colada no fim da fita por um técnico e, ao ouvir o resultado, McCartney decidiu mantê-la como uma "faixa escondida". Ainda assim, o encerramento emocional verdadeiro permanece sendo “The End”.
Um final digno de lenda
“The End” é mais que um título: é uma declaração. Embora o grupo ainda lançasse Let It Be em 1970, Abbey Road foi o último álbum gravado pelos Beatles. E essa música, com sua estrutura democrática, solos compartilhados e letra emblemática, resume o espírito de uma banda que mudou para sempre a história da música.
Mais do que um ponto final, “The End” é uma assinatura — sonora, emocional e coletiva — de quatro músicos que, juntos, criaram uma das maiores revoluções culturais do século 20.