O ator francês Gérard Depardieu, de 76 anos, foi condenado nesta terça-feira (13) a 18 meses de prisão por assédio sexual contra duas mulheres durante as filmagens do longa Les Volets Verts, em 2021. A decisão foi proferida pelo tribunal correcional de Paris e marca o primeiro grande julgamento de uma figura pública na França com forte repercussão ligada ao movimento #MeToo.
Além da pena de prisão, a Justiça francesa determinou que Depardieu fique inabilitado por dois anos para exercer cargos públicos e tenha seu nome inscrito no registro nacional de delinquentes sexuais, conforme solicitado pela Promotoria.
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As vítimas — Amélie, uma cenógrafa de 54 anos, e Sarah (nome fictício), uma assistente de direção de 34 anos — relataram ter sido vítimas de toques não consentidos, assédio e insultos de cunho sexual durante as gravações. Segundo os depoimentos, o ator teria tocado as partes íntimas das mulheres e proferido frases agressivas e misóginas.
Durante o processo, Depardieu negou todas as acusações e declarou-se inocente. “Não vejo por que perderia meu tempo apalpando uma mulher. Eu não sou um pervertido do metrô”, declarou em juízo. Em um dos episódios relatados por Amélie, o ator teria agarrado seus quadris com força, dizendo palavras obscenas. A defesa de Depardieu afirmou que ele apenas tentou se equilibrar durante uma conversa técnica e acusou as denunciantes de mentirem por interesse político.
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Brigitte Bardot
O ator, que não compareceu à leitura da sentença alegando compromissos de filmagem em Portugal, também foi defendido publicamente por figuras como a atriz Brigitte Bardot, de 90 anos, que minimizou o comportamento, dizendo que "homens que colocam a mão na bunda de uma garota" deveriam poder seguir com suas vidas.
A Promotoria, no entanto, destacou o desequilíbrio de poder entre o ator — uma das maiores estrelas do cinema francês, com mais de 200 produções no currículo — e as vítimas, descritas como "mulheres em situação de inferioridade social". Para o Ministério Público, o caso reflete dinâmicas de abuso comuns em ambientes artísticos e culturais.
Depardieu já havia sido acusado anteriormente por comportamento inadequado com outras mulheres, mas os casos nunca haviam chegado ao tribunal. Com esta sentença, ele se torna um dos nomes mais conhecidos do cinema francês a ser formalmente condenado por crimes ligados a assédio sexual.
A condenação ocorre na mesma semana em que começa o Festival de Cannes, um dos principais eventos do cinema mundial, reforçando o debate sobre assédio e impunidade na indústria cultural francesa. Quase 20 mulheres já relataram episódios semelhantes envolvendo o ator, embora muitos desses casos tenham sido arquivados por prescrição.
O movimento #MeToo, iniciado nos Estados Unidos, também ganhou força na França nos últimos anos, expondo comportamentos abusivos em instituições culturais. Em abril, uma comissão parlamentar propôs quase 90 medidas para combater o que chamou de “violências morais, sexistas e sexuais sistêmicas” no setor artístico do país.
O caso Depardieu deve se tornar um marco nesse contexto, ao mostrar que, mesmo figuras históricas do cinema francês, até então blindadas por prestígio e fama, podem ser responsabilizadas por seus atos.
Com informações da AFP