ARTE

Museu "se corrige" e revela que pintura histórica foi, na verdade, feita por uma mulher

O quadro, inicialmente considerado obra de um pintor nórdico, foi redescoberto nos arquivos do museu e 'reatribuído' à sua autora original mais de 170 anos depois

Pintura reencontrada de Lavinia Fontana.Créditos: divulgação
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Em comunicado divulgado na última sexta-feira (21), o Museu da Chartreuse, em Douai, cidade no norte da França, informou a "redescoberta" de um quadro mantido em suas reservas e a correção de um erro antigo que o havia atribuído a um pintor nórdico

O quadro em questão era o "Retrato de um cavalheiro, sua filha e uma criada", produzido durante o Renascimento italiano pela pintora Lavinia Fontana, e inicialmente considerado obra de autoria do pintor flamenco Pieter Pourbus. 

Fontana foi uma pintora italiana da Escola Maneirista, estilo surgido na Itália por volta de 1520, após o período conhecido como Alto Renascimento, e caracterizado pela distorção das proporções e o apelo à elegância e à complexidade como oposições à suposta clareza e harmonia da arte do Renascimento. 

Ela nasceu na Bolonha, em 1552, e foi uma das únicas pintoras mulheres de destaque a produzir, sob encomenda, pinturas de figuras em larga escala, isto é, retratos. Ela era conhecida por representar pessoas das altas classes da Borgonha, além de retratar cenas religiosas.

Uma de suas pinturas mais famosas de tema religioso, Noli me tangere ("não me toques", traduzido do latim), de 1581, mostra o momento bíblico descrito em João 20:16-18, quando Maria, ao tentar tocar as vestes de Jesus, é admoestada por ele com o termo: 

"Não me toques, porque ainda não subi ao Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes que subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus". 

Noli me tangere, por Lavinia Fontana (1581). Créditos: reprodução

Sua maior obra, entretanto, é dita o Martírio de Santo Estêvão, feito sob encomenda para a basílica romana de San Paolo Fuori le Mura em 1604, mas destruído junto ao incêndio ocorrido na igreja em 1823.

A obra redescoberta de Lavinia Fontana

Retrato de um cavalheiro, sua filha e uma criada, por Lavinia Fontana (1552-1614). Créditos: reprodução

A pintura, que havia chegado ao museu francês em 1857, foi "reencontrada" em perfeitas condições nos arquivos do museu, e então reatribuída a sua autora oficial por um grupo de curadores e restauradores que estudavam a coleção de pinturas italianas da instituição.

Ela mostra um cavalheiro sentado em uma poltrona, sua filha a oferecê-lo flores e, ao fundo,  uma criada que posiciona uma cesta de frutas. 

Em relato à AFP, um dos curadores responsáveis pela descoberta, Philippe Costamagna, especialista em arte romana e florentina, afirma: "Eles diziam que se tratava de um quadro nórdico, e eu disse: não, não, este é um quadro italiano, de espírito bolonhês do início ao fim".

A figura da filha a carregar as flores, as pinceladas grossas no pescoço e na manga e outros detalhes revelavam claramente, para Costamagna, a associação da pintura ao estilo maneirista bolonhês. Anteriormente, o quadro havia sido dito obra de Pieter Pourbus, pintor neerlandês do renascentismo flamengo, também conhecido por suas pinturas religiosas e retratos. 

 

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