MODA E POLÍTICA

Exclusivo: Camila Jara veste roupas como expressão política

Deputada federal do PT do Mato Grosso do Sul fala com exclusividade à Fórum sobre a sua relação com a moda como ferramenta da luta

Créditos: Fotomontagem (Ricardo Stuckert e Acervo Camila Jara) - Deputada Camila Jara usa a moda como forma de expressão política
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A deputada federal Camila Jara (PT-MS) faz das roupas que veste uma forma de expressão política e as usa chamar a atenção para questões ambientais e sociais. Nesta semana, ela esteve com o presidente Lula durante a assinatura da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, e escolheu uma peça que denuncia o desmatamento do Pantanal.

Este ano, até 28 de julho, Corumbá concentrou 67,3% dos 4.553 focos de calor no Pantanal, região que enfrenta a seca mais severa dos últimos 70 anos, agravada pelas mudanças climáticas. O fogo, que é esperado anualmente no Pantanal, entre o fim de julho e o mês de agosto, se antecipou e já consome o bioma há mais de três meses.

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Camila concedeu uma entrevista exclusiva à TV Fórum na qual explica que a nova lei sancionada pelo presidente Lula é considerada um marco no combate a incêndios. Como ela acredita na potência da moda para destacar temas ambientais, usou o colete Helena Jacquard Desmatamento, da marca Misci, desenhado pelo estilista Airon Martin, natural de Mato Grosso.

Ricardo Stuckert (PR) - Lula e Camila durante lançamento da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo

A deputada combinou o estilo pantaneiro do presidente, que estava de chapéu, com o seu colete, que foi escolhido estrategicamente para agenda, pois traz, na estampa, o mapa do desmatamento em 2018 — um dos piores períodos do país e que graças ao trabalho da ministra Marina Silva e do presidente Lula não vai se repetir.

"Nossa forma de protesto também tinha que vir através da vestimenta. Foi quando a gente teve contato com essa coleção específica, onde tinha várias peças que mostrava o desmatamento, o mapa do desmatamento", explicou.

Reprodução Misci

Presença na COP nos Emirados Árabes

Camila conta que conheceu o estilista da Misci enquanto se preparava para ir à 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), realizada de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023, na Expo City, Dubai, Emirados Árabes Unidos. A parlamentar tinha acabado de ser eleita para o seu primeiro mandato na Câmara Federal. Tanto a deputada quanto Martin são de estados que abrigam o bioma Pantanal, junto com a Bolívia e com o Paraguai.

"A gente sempre teve essa preocupação de falar sobre o Pantanal e representar o Pantanal. E na COP passada, justamente esse debate sobre como a gente ia mostrar para as pessoas que a gente estava defendendo o nosso bioma, que a gente estava defendendo o Pantanal, começou na COP passada", recorda.

Naquela ocasião, Camila conheceu uma peça icônica da Misci, a Bolsa Galão, que carrega o imaginário do automobilismo dos anos 1970 e apresenta um design que remete a um galão de gasolina. Elaborada com couro brasileiro, tem fechamento com zíper com dois puxadores personalizados, alça transversal para facilitar o transporte e forro interno feito de sarja de algodão.

Reprodução Misci

"Também queria representar o Pantanal, especificamente. Na COP passada, eu fui com um terninho onde tinha onça e jacaré, que são símbolos da região e, infelizmente, um lugar onde a gente preserva as onças, que a gente cuida das onças", contou.

Acervo Camila Jara - Terninho com estampa de onça e jacaré na COP28

Legado da COP28

A COP28 reuniu cerca de 85 mil participantes, incluindo mais de 150 chefes de Estado e de Governo, além de representantes da sociedade civil, negócios, povos indígenas, jovens e organizações internacionais. Um dos principais resultados foi a primeira "avaliação global" do progresso na mitigação das mudanças climáticas.

O relatório destacou a necessidade de reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa em 43% até 2030 para manter o limite de aumento da temperatura global em 1,5°C dentro do alcance. Também foi feito o anúncio do Fundo de Perdas e Danos, com mais de 726 milhões de dólares em compromissos para apoiar os países mais severamente afetados pelas mudanças climáticas.

Além disso foi celebrado um acordo histórico para a transição gradual dos combustíveis fósseis, embora sem uma eliminação completa imediata. Este foi considerado o "começo do fim" da era dos combustíveis fósseis. Houve ainda um impulso significativo para o financiamento climático, com o Fundo Verde para o Clima recebendo novos compromissos, totalizando um recorde de 12,8 bilhões de dólares de 31 países.

A COP28 estabeleceu metas para o Objetivo Global de Adaptação, com ênfase na resiliência a desastres relacionados à água, produção alimentar sustentável e serviços de saúde resilientes ao clima. O Fundo de Adaptação da ONU mobilizou 188 milhões de dólares para 2023, apesar de ficar aquém da meta anual de 300 milhões de dólares.

O evento climático também enfatizou a interdependência entre as agendas de biodiversidade e clima, com compromissos para alinhar e implementar estratégias conjuntas. Um destaque foi a iniciativa de restaurar e proteger 15 milhões de hectares de manguezais globalmente até 2030.

Sustentabilidade na moda

Camila destacou a importância de incentivar a sustentabilidade na moda e valorizar a produção local.

"Precisamos pensar em moda não apenas como consumo e descarte, mas também como uma forma de desenvolver comunidades locais", disse.

A deputada também abordou a contradição da moda dentro do sistema capitalista, que incentiva o consumo excessivo. Ela defendeu a necessidade de consumir de maneira sustentável e optar por marcas que respeitam o meio ambiente e as comunidades locais.

Para ela, moda é uma expressão política e cultural e que é essencial apoiar as marcas nacionais e locais.

"Moda é política e vamos nos expressar através dela, valorizando a cultura local e as marcas nacionais, com comprometimento com as comunidades e as matérias-primas", finalizou.

Quem é Camila Jara

Camila Jara, de 29 anos, está no segundo ano de seu primeiro mandato como deputada federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT) de Mato Grosso do Sul. Formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), ela possui um histórico intenso de militância em movimentos estudantis e feministas. Inspirada pela avó Narciza, uma das pioneiras do PT na capital, e pelos pais, Edna e Gerson, ativos em movimentos sociais, Camila iniciou sua trajetória política desde jovem.

Começou sua carreira como vereadora em Campo Grande, onde foi eleita nas eleições municipais de 2020 como a mulher mais jovem e mais votada, com 3.740 votos. Durante seu mandato, destacou-se pela aprovação de importantes projetos, como o Programa Permanente de Transferência de Renda e o Programa de Dignidade Menstrual. Em 2023, assumiu uma cadeira na Câmara dos Deputados, onde é vice-líder da bancada do PT e integra comissões de Meio Ambiente, Finanças e Tributação, e Comunicação.

Desde sua posse como deputada federal, Camila apresentou mais de 500 propostas legislativas e cerca de 30 projetos de lei, incluindo: PL 5944, impenhorabilidade de recursos de programas sociais; PL 5822, tipificação de crimes de intolerância religiosa; PL 5467, divulgação de conteúdo sexual falso como violência doméstica; e PL 2334, Lei Federal de Proteção do Pantanal.

Camila criou a Frente Parlamentar em Defesa do Pantanal e faz parte das Frentes Parlamentares Ambientalista e de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas. No primeiro ano de mandato, articulou R$ 78 milhões em recursos para Mato Grosso do Sul, beneficiando 39 municípios em áreas como saúde, educação e infraestrutura.

Em 2024, para a destinação de R$ 37 milhões em emendas individuais, Camila contou com a participação popular através de consultas públicas e reuniões, destinando quase R$ 10 milhões para instituições do terceiro setor, universidades e faculdades.

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