TALENTO JOVEM

Bibi Valverde, a promessa da música que, aos 11 anos, tem carreira de gente grande

Atriz mirim, que tem currículo de fazer inveja a muito marmanjo, une os laços da ancestralidade de uma talentosa família de músicos e artistas

Bibi Valverde e o Vô Júlio durante apresentação no Canta Comigo Teen.Créditos: Reprodução de Vídeo
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Bianca Valverde, conhecida como Bibi Valverde, é cantora e atriz, venceu no ano passado, o prêmio Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), como Intérprete Revelação, pelo musical “Kafka e a Boneca”. Atualmente, ensaia para outro espetáculo, o “Uma Babá Quase Perfeita - O Musical”, que estreia em outubro.

Acaba de se classificar no programa Canta Comigo Teen, da TV Record, com um sucesso estrondoso, ao interpretar “Redescobrir”, de Gonzaguinha, canção consagrada na voz de Elis Regina, em 1980.

O breve e respeitoso currículo descrito acima seria digno de qualquer grande cantora. No caso de Bibi, o leitor pode acrescentar um pequeno detalhe que o torna absolutamente espantoso. Ela tem apenas 11 anos de idade.

Nada na vida de Bibi, no entanto, acontece por acaso. Ela cresce (sim! Ainda está em fase de crescimento) em um ambiente cercado de carinho, música, poesia e arte por todos os lados. Uma linhagem que começou com a tataravó Theonila, que tocava piano em sessões de cinema mudo no interior da Bahia.

Veja abaixo apresentação de Bibi no Canta Comigo Teen:

O soteropolitano Júlio Valverde

Outro membro ilustre da família é o orgulhoso avô, Júlio Valverde, cantor, compositor e violonista, grande conhecido dos paulistanos pelo restaurante Soteropolitano que, nas palavras dele próprio, foi um “espaço de resistência cultural e política”. O local fechou suas portas durante a pandemia.

Emocionada com a sua classificação no programa Canta Comigo Teen, Bibi afirmou no momento que três dos seus grandes incentivadores na música são a mãe, Juliana Valverde, que também é cantora e compositora – e aparece chorando a cântaros nos bastidores do programa – o vovô Júlio e o professor Leyve Miranda.

Leyve, de 70 anos, vale a citação, é dono da escola Groove, e já formou vários nomes como Mariana de Moraes, Negra Li, Verônica Ferriani entre outras cantoras.

Já o vô Júlio fez uma entrada surpresa no final de sua apresentação e proporcionou um dos momentos mais fortes do programa, que uniu os traços de uma família repleta de talentos.

Para todos os que estavam por lá, era um encontro emocionado e orgulhoso de gerações. Já para os que acompanham a trajetória de Júlio Valverde e sua família, ali se desenhava um laço de ancestralidade, movimento e arte.

Sobre aquele dia, o avô conta que o desempenho dela foi “fantástico”. Segundo ele, “ela se colocou à prova nesse percurso que vem traçando com relação ao canto. E a espiritualidade dela se impôs naquele palco". "Eu sou um compositor desconhecido, que tem algumas canções – e por sinal Bianca canta algumas, tenho um disco no Spotify que se chama 'Saveiro'. São músicas minhas e de parceiros”, conta.

Abaixo Bibi canta "Ilhabela", parceria do avô com a mãe:

O professor

Sobre o aprendizado de Bibi, o avô afirma que ela tem estudado bastante, com uma abordagem muito harmônica com relação à música com o professor Leyve. “Essa harmonia que a música oferece, e que a vida deveria oferecer, mas as pessoas e os nossos governantes fogem dessa raia. Mas as crianças, como a Bianca, trazem um alento, uma alegria de volta. E eu tenho essa esperança”, ressalta.

Juliana, cantora, compositora e mãe

Juliana, a mãe, lembra também que, além de toda a musicalidade da família, Bibi vive às voltas com a poesia. “Ela sempre recitou poemas. Inclusive uma vez, em uma confraria que meu pai mantinha no Soteropolitano, ela recitou ‘O amor bate na aorta’, do Carlos Drummond de Andrade, que é grande, e ela sabia de cor e aprendeu pela sonoridade”, descreve.

A mãe, no entanto, afirma que ela e o marido, Maurício, pai de Bibi, se depararam com uma série de questões quando ela disse que seu sonho era atuar no teatro profissional. “Isso veio a quebrar várias certezas que a gente tinha de que criança não deve trabalhar, mas um desejo muito forte dela superou tudo e não teve jeito. Além dos professores apontarem o talento que ela tem, ela é muito dedicada”, revela. “Nós, eu e o pai, a preservamos ao máximo, até que um dia ela veio e perguntou: ‘mãe, você acha que quando a mãe da gente não quer alguma coisa, essa coisa não acontece?’ Aí, não teve jeito e eu a levei para uma audição, que foi o espetáculo ‘Kafka e a Boneca’ e ela fez. Não teve jeito”, repete a mãe.

Veja abaixo Juliana cantando uma canção sua:

A avó e os musicais

Bibi conta que começou a se interessar por musicais com a avó, Deborah, quando ainda tinha cinco anos. “Sempre que ela tinha ingressos, ela me levava pra assistir aos musicais. O primeiro que eu vi foi ‘A noviça rebelde’ e depois ela me levou pra ver ‘Annie’. Eu amei mesmo e ela me levou várias vezes e foi assim que eu conheci o teatro musical.

Deborah, avó da Bibi, confirma a história. Ela conta ter trabalhado durante 15 anos fazendo as contratações dos espetáculos dos Céus, na secretaria de Educação de São Paulo. “Eu entregava os ingressos gratuitos para professores e alunos. Em uma dessas vezes, eu perguntei à Bibi se ela queria ir comigo. Ela se encantou pelos musicais e pedia para ir comigo sempre. E foi assim que introduzi a Bibi nos musicais”, conta a avó.

A intensa rotina

Bibi, neste momento, está no Rio de Janeiro com os pais para os ensaios de “Uma Babá Quase Perfeita”. Ela descreveu para a Fórum como era a sua rotina de estudos quando ainda estava em São Paulo. “Eu ia pra escola de manhã, chegava em casa às 13h, fazia lição de casa, almoçava e às 14h30 ia para a Groove. Quando voltava, lá pelas 18h30, fazia o resto da lição de casa e estudava um pouco de música. Já nos finais de semana, estudava coisas mais longas da escola e também música”, descreve.

Atualmente, no Rio de Janeiro, ela diz que segue indo pra escola e tendo aulas de música online. “Quando começaram os ensaios ficou tudo mais corrido. Eu estou em semana de provas, então eu chego em casa, tenho que me arrumar logo pro ensaio e na volta estudo pra prova que vai ter no dia seguinte.” Sobre o cansaço da rotina extenuante, ela não se queixa. “Eu gosto de fazer o que eu faço, não me canso muito, só às vezes, mas então eu durmo”, afirma rindo.

Sobre os ensaios, ela diz gostar bastante. “A gente faz bastante coisa, repete várias vezes o mesmo tema, levanta o espetáculo, eu acho legal.” Já sobre a importância do vovô em sua vida, ela lembra que “a gente sempre ficava ‘brincando’ de cantar, sempre que eu ia no Sotero eu cantava um pouco com ele, ‘brincava’ de tocar com os instrumentos de percussão, e ele sempre me incentivou a cantar e ele me ajuda muito, me mostra várias músicas, fala que ia ficar bonito na minha voz”.

Ricardo Valverde, o tio jazzista

O vibrafonista Ricardo Valverde é um velho conhecido da Fórum. Músico de primeira, com discografia impecável e incomum, ele é o orgulhoso tio da Bianca. Além dele e os parentes já citados acima, ele lembra outros parentes músicos: “o meu irmão Guilherme Valverde é compositor e toca violão. E tem mais outros dois tios, o Péri, cantor, compositor e violonista, e o Monclar Valverde compositor e pianista.”

Ele afirma que a sobrinha é “impressionante”. Segundo ele, “ela desde pequenininha cantava. Ela ia assistir aos musicais e decorava todas as canções”.

O melhor de tudo, de acordo com Ricardo, é que ela trabalha como profissional sem perder a coisa da criança. “Ela faz isso tudo brincando, se divertindo, não tem a força da obrigação. Ela parece que nasceu pra isso”, encerra.  

Ele chama a atenção para um vídeo em que, ela muito pequena ainda, viralizou nas redes cantando um samba da Mangueira. Veja abaixo: