A Academia Brasileira de Letras (ABL) quebrou o silêncio nesta quarta-feira (26) e repudiou a censura imposta ao livro "O Menino Marrom", de Ziraldo, no último dia 20 em Minas Gerais. Em comunicado oficial, a ABL condenou veementemente qualquer forma de censura a obras literárias, destacando um preocupante "modus operandi" no Brasil nos últimos anos.
“Infelizmente, episódios dessa natureza têm se repetido em escolas brasileiras, seguindo um padrão preocupante: um livro é selecionado e aprovado pelo Ministério da Educação, é aceito pelas escolas e, posteriormente, vira alvo de censura por parte de pais ou pedagogos, que apresentam argumentos frágeis e insuficientes contra a obra literária”, destacou a entidade em nota publicada nas redes sociais.
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A instituição também falou sobre a importância da integridade das produções culturais e dos autores brasileiros, os mais censurados no próprio país. “Este livro, publicado em 1986 por um autor premiado e respeitado tanto no Brasil quanto no exterior, é um clássico da nossa literatura infantojuvenil, lido nas escolas brasileiras há quase quatro décadas”, enfatizou.
Nota oficial completa
A Academia Brasileira de Letras repudia veementemente toda e qualquer forma de censura a obras literárias. Infelizmente, episódios dessa natureza têm se repetido em escolas brasileiras, seguindo um padrão preocupante: um livro é selecionado e aprovado pelo Ministério da Educação, é aceito pelas escolas e, posteriormente, vira alvo de censura por parte de pais ou pedagogos, que apresentam argumentos frágeis e insuficientes contra a obra literária.
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Neste caso mais recente, ocorrido em uma escola do município mineiro de Conselheiro Lafaiete, exemplares de "O menino marrom", de Ziraldo, foram recolhidos pela Secretaria Municipal de Educação após serem distribuídos para alunos da terceira e da quarta série. Este livro, publicado em 1986 por um autor premiado e respeitado tanto no Brasil quanto no exterior, é um clássico da nossa literatura infantojuvenil, lido nas escolas brasileiras há quase quatro décadas.
No site da academia, há um manifesto mais detalhado contra a censura da obra. “Queremos também chamar a atenção para a maneira com a qual vêm se processando esses repetidos episódios de ataques e proibições a livros em escolas. [...] Surge então um pai que reclama e mobiliza um grupo de pais que reforçam o questionamento. Eventualmente, um pastor ou pediatra amplia a queixa. E, frente a essa reclamação, nenhum desses educadores consegue defender sua escolha. A onda se espalha pelas redes sociais. Apela-se, então, à solução mais simples: o livro é recolhido, retirado das escolas e bibliotecas.” Leia aqui.
Censura por incentivo de pastor do PL
Por conta de um pacto de sangue que acaba não ocorrendo, o livro “O Menino Marrom”, de Ziraldo, acabou sofrendo uma censura e não seria mais utilizado em escolas de Conselheiro Lafaiete (MG). A Secretaria Municipal de Educação do município informou que tomou a decisão após reclamações de pais, que consideraram a obra agressiva.
A publicação, de 1986, é uma das mais importantes da carreira de Ziraldo, morto em abril deste ano. O livro fala sobre a amizade entre dois garotos, o menino marrom, que é negro, e o menino amarelo, que é branco. Os dois resolvem fazer o pacto de sangue, chegam a pegar uma faca, mas recuam, tentam com um alfinete para, no final, fazerem a cena apenas com tinta vermelha.
A confusão toda começou, segundo professores da rede contaram para O Globo, após um dos pais gravar um vídeo fazendo críticas ao livro. A coisa se espalhou rapidamente em redes de WhatsApp. No final das contas, um pastor da região filiado ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, publicou em suas redes que o livro “não diz nada sobre o racismo, induz as crianças a fazer pacto de sangue cortando o punho”. Leia mais sobre o caso nesta matéria da Fórum.