Recém-lançado no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA), em Goiás, no último dia 13 de junho, o filme “Diaspóricas 2” traz o protagonismo negro feminino e brasileiro sob um novo olhar através de histórias de resistência de mulheres negras atravessadas pela música e pela arte, imaginando um futuro afrofuturista.
“É uma perspectiva de união entre as histórias de vida de cada artista, suas formas de expressões artísticas, suas formas de existência, suas formas de vida, de viver, que tem muito a ver com a luta cotidiana que cada uma trava contra as opressões estruturais, como o racismo, o sexismo e a homofobia”, destaca Ana Clara, diretora do longa-metragem à Fórum.
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A produção, que promove uma profunda reflexão sobre os preconceitos que afligem a população negra no Brasil, resgata elementos da ancestralidade africana, a conexão entre corpo, terra e território, a identidade, a cultura, a tecnologia e antes de tudo, combate de forma direta narrativas colonialistas que perduram no campo do audiovisual. "Nas produções, o corpo negro é sempre vinculado a um papel marginal. O homem negro vinculado a papéis de banditismo, a mulher negra muito presa às funções sociais de empregada doméstica, de babá, de faxineira. O projeto, como um todo, é uma forma de nos colocar no eixo central de protagonismo negro feminino para a transformação social da sociedade brasileira", afirma a também roteirista do longa.
A resistência em quatro histórias
Para isso, ‘Diaspóricas 2’ explora as narrativas pessoais de quatro mulheres negras e suas conexões com a música, em uma série com 75 minutos de duração. A primeira é Flávia Carolina, cantora, compositora e zabumbeira, desenvolveu sua arte nas ruas de São Paulo e Goiânia; Em seguida, Kesyde Sheilla, clarinetista e educadora musical, que seguiu seus sonhos musicais desde a infância e se inspira em cantores negros brasileiros; Maximira Luciano, cavaquinista mineira e filha de sambista, é especializada em choros; e Inà Avessa, rapper goiana forjada nas batalhas de MC’s.
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De acordo com Ana Clara, a história de Carolina explora perspectivas sobre o amor, sobre a mulher negra que ama, a mulher negra que é amada, “contrariando a perspectiva hegemônica das narrativas, das narrativas midiáticas, de que a mulher ou é a mãe preta, cuidadora, ou é a mulata sensual, "que não foram feitas para serem amadas nem para amar’”.
“A música negra faz parte da vida minha desde sempre, eu sou uma mulher negra, minha família é negra, então não vejo como um atravessamento, ela sempre esteve e está presente em minha vida, do pagode ao domingo, do Djavan para chorar no escuro ou Leci e Alcione pra me sentir poderosa”, disse Flávia Carolina, uma das protagonistas do filme.
Em Maximira, há um trabalho de caminhadas de resistência, mas também de possibilidades e oportunidades para a mulher negra. “Sou filha de sambista, cresci ouvindo samba, aprendi a tocar com 9 anos e nunca mais parei de tocar e estudar, tenho projetos maravilhosos, como o Grupo Dona da Roda e a Orquestra feminina de choro de Goiânia”, afirma ela à Fórum.
“Quando você se começa com uma trajetória musical, começa a estudar música, naturalmente, quando você vê, ou pelo menos eu me sentia assim, como eu sempre me identifiquei como uma pessoa preta, então sempre que eu ouvia um músico, uma musicista, cantor, cantor, cantor, cantista preto, eu me identificava e tinha curiosidade sobre aquilo”, destaca também a protagonista Kesyde Sheilla.
“Naturalmente acabei buscando uma música mais preta, buscando mais as minhas raízes, onde as pessoas pretas estão, o que a música preta me traz, o que chegou no Brasil, o que veio da África e quais são esses elementos. Hoje a música preta é o que mais me chama a atenção”
Ancestrais do futuro
A roteirista ainda destaca que o longa-metragem dialoga com o afrofuturismo na perspectiva de fabulação do futuro e de um mundo mais justo. “A partir da tática de existência dessas mulheres, das formas de vida delas, pensar um futuro de possibilidades, um futuro em que essas mulheres narrem suas próprias histórias, em que essas mulheres existam da forma que elas queiram ser vistas, que essas mulheres estejam nos lugares que elas queiram. Então, o afrofuturismo traz para a série, além dessa estética narrativa tecnológica do futuro, ele traz um compromisso das musicistas de se inserirem em um futuro próspero, de prosperarem, de serem ancestrais do futuro”, diz.
Através de atuações musicais e físicas, a individualidade de cada artista é gradualmente desvendada. A estética do filme é fortalecida pelo emprego de técnicas visuais e cenográficas inovadoras, que dão vida a cenas com uma atmosfera afrofuturista. Os corpos femininos negros recebem todo o foco com projeções de imagens, luzes potentes e cores vivas, criando uma estética cibernética, mesclando elementos que celebram a negritude para projetar um futuro isento de opressão.
"Diaspóricas 2" dá sequência à temporada “Diaspóricas 1”, que também discute a ancestralidade e o fato da mulher negra viver em constante diáspora. A nova temporada transcende os limites da estética para se erguer como uma obra afrofuturista, tecendo diálogo com o legado de autoras como Octavia Butler, pioneira do movimento nos anos 70, artistas negras como Beyoncé em seu disco-visual "Black Is King" (2020) e o filme "Pantera Negra" (2018).
Acesse a produção cinematográfica de forma gratuita no Youtube ou abaixo: