MUNDO EM DISPUTA

Márcia Tiburi questiona naturalização de guerras, linchamentos virtuais e catástrofes no mundo

Professora e filósofa que se exilou na Europa após sofrer perseguição política propõe reflexões sobre discursos de ódio em novo livro

Filósofa e professora Márcia Tiburi.Créditos: Divulgação
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Em sua obra "Mundo em Disputa: Design de Mundo e Distopia Naturalizada", a filósofa e professora de artes e filosofia, Marcia Tiburi, mergulha em uma análise crítica da sociedade contemporânea, desvendando os mecanismos que perpetuam a distopia como realidade dominante. Através de uma profunda reflexão sobre o "funcional desaparecimento da utopia" em nossos tempos, a autora nos convida a questionar as estruturas de poder e as narrativas que legitimam o sofrimento como norma.

A autora propõe uma ruptura com essa lógica dominante, convocando ao questionamento de narrativas que nos aprisionam e a buscar alternativas que possibilitem a construção de um mundo mais justo e humano. Para isso, é fundamental desmascarar as armadilhas da linguagem, reconhecer as estruturas de dominação e, acima de tudo, cultivar a esperança e a crença em um futuro diferente.

Inquieta após uma viagem a exílio na Europa por perseguição política, ela se deparou com questionamentos que a motivaram a buscar alternativas à repressão da luta por direitos: por que a utopia é tão desvalorizada? É possível imaginar um mundo diferente, livre do sofrimento? Como podemos superar a catástrofe e construir uma vida mais justa e digna?. Assim escreveu seu livro.

“Nós estávamos desamparados pela lei, correndo risco de sofrer aquilo que era prometido – morte, espancamento, sei lá o quê. Se eu ficasse no Brasil, acho que teria acontecido uma catástrofe”, relatou ela em 2023. Tiburi solicitou oficialmente proteção aos ministérios da Justiça, Direitos Humanos e Mulheres após sofrer ameaças por apoiar Lula. Além disso, obteve o respaldo da Comissão Nacional dos Direitos Humanos e do Partido dos Trabalhadores, partido pelo qual concorreu ao governo do Rio de Janeiro em 2018.

“Agora volto porque temos um governo que, embora cheio de problemas, é democrático. E eu não corro o risco de ser processada e nem perseguida pelo governo atual. E também porque quero retomar a minha vida, dar aulas de Filosofia, fazer minha literatura”, destacou na época.

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Em sua obra, a filósofa Marcia Tiburi embarca em uma profunda investigação sobre a construção do conceito de "mundo" e a busca por alternativas à distopia que marca a sociedade contemporânea. Na primeira parte do livro, Tiburi nos convida a questionar a própria definição de "mundo". Ela argumenta que, na cultura ocidental, o mundo é definido pela linguagem, e essa linguagem, por sua vez, limita nossa compreensão da realidade. Através de jogos de espelhamentos, torções e reflexões sensíveis, a autora nos leva a repensar as bases sobre as quais construímos nossa percepção do mundo.

Na segunda parte, "Códigos Utópicos", Tiburi se volta para a utopia como contraponto à distopia dominante. Ela defende que a utopia, em sua essência, se caracteriza pela abertura ao outro, pela capacidade de imaginar e criar mundos possíveis para além da destruição naturalizada que nos cerca. A autora reconhece os desafios de construir uma utopia, mas sem deixar de reconhecer a realidade que a cerca.

Quem é Márcia Tiburi

É autora de obras voltadas para o pensamento crítico contemporâneo, como Feminismo em comum (Rosa dos Tempos), Complexo de vira-lata (Civilização Brasileira), Como derrotar o turbotecnomachonazifascismo, Delírio do poder, Ridículo político e Como conversar com um fascista (Record). É professora universitária de filosofia e literatura, ativista, além de artista plástica.