“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, um dos clássicos da literatura brasileira de Machado de Assis, ganhou destaque nas redes sociais após uma influenciadora digital dos Estados Unidos, identificada como Courtney Henning Novak, compartilhar um vídeo no TikTok expressando seu fascínio pelo livro. Ela segue um desafio proposto por ela mesma de ler um autor de cada país. No entanto, quando parou no Brasil, disse já ter sido impactada pelas palavras de Machado.
“Agora me digam O QUE eu vou fazer do resto da minha vida depois desse livro? Tenho um monte de coisa pra ler ainda, mas nada vai se comparar a isso aqui. Quero aprender português", exclamou ela. A obra, publicada originalmente em 1881 e aclamada pela crítica literária, passou a ocupar o topo da lista de mais vendidos da Amazon na categoria Literatura Latino-Americana e Caribenha, na versão em inglês, após o relato de Novak.
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O que nos conta Brás Cubas
De leitura obrigatória, essa obra seminal na literatura brasileira é notável por ser marcar uma ruptura com o estilo romântico anterior. A narrativa é conduzida por um narrador defunto, Brás Cubas, que relata sua vida de forma irônica e crítica, refletindo sobre as convenções sociais e a natureza humana. É uma sátira mordaz da sociedade carioca do século XIX, expondo as hipocrisias e as desigualdades da época.
Brás Cubas lança um olhar sobre as diversas ideologias, convicções morais e preconceitos que dominavam o cenário cultural naquele momento, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, confrontando todos os modelos explicativos, e que ainda hoje desafia, abrangendo desde a religião até a ciência. O romance se inicia com o capítulo que detalha a morte do narrador. Ele declara: “Após proferir estas palavras, dei meu último suspiro às duas da tarde em uma sexta-feira de agosto de 1869, em minha aprazível fazenda no Catumbi. Contava com 64 anos robustos e florescentes, não tinha esposa, acumulei aproximadamente 300 contos de réis e meu adeus final foi presenciado por onze companheiros”.
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O clássico: “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa lembrança estas memórias póstumas”
O defunto-autor que não é um autor defunto
O livro se destaca por sua estrutura temporal dual. Por um lado, temos o tempo psicológico, permitindo ao autor defunto uma liberdade sem precedentes para relatar sua vida. Esta liberdade se manifesta na habilidade de Brás Cubas de divagar e distorcer os eventos a seu bel-prazer, sem a necessidade de aderir a uma cronologia linear ou a veracidade factual. A obra, portanto, não apenas conta uma história, mas também explora as profundezas da mente humana e a natureza da memória.
Somos apresentados a um narrador que é um defunto-autor, em vez de simplesmente um autor que faleceu. Isso subverte a expectativa, destacando não a fama de um escritor falecido, mas a peculiar capacidade de um morto em narrar sua história. Esse conceito rompe com o tradicional pacto de verossimilhança e permite imaginar diferentes realidades.
Mas a história de Brás Cubas vai além das páginas do livro: um filme de 2001 baseado na obra também está disponível gratuitamente no YouTube, protagonizado pelo ator Reginaldo Faria. O longa-metragem rendeu prêmios como o Grande Prêmio BR de Cinema, a categoria Melhor filme, no Festival de Gramado e o Prêmio FIPRESCI. Assista abaixo:
Além disso, é possível acessar a obra completa de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” no portal Domínio Público, disponível para download gratuito.