A tentativa de censura da obra “O Avesso da Pele” nos últimos dias agora se confirma. A Secretaria Estadual de Educação (Seed) do Paraná determinou a retirada do livro de Jeferson Tenório das bibliotecas das escolas estaduais de ensino médio.
Em um comunicado, a Secretaria de Educação do Estado (Seed) diz que o livro em questão passará por “avaliação pedagógica” e, posteriormente, será “definido o seu destino”. A Seed exige que as escolas recolham todos os exemplares da obra até a próxima sexta (8).
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O recolhimento das obras foi “comemorado” por bolsonaristas na sessão da Assembleia Legislativa do Paraná. A deputada Mara Lima (PSD) foi a primeira a se pronunciar, parabenizando o governo pela retirada de determinados livros das escolas. A cantora gospel insinuou que eles poderiam “levar a casos de abuso sexual”. Entretanto, especialistas alertam que a falta de informação sobre sexualidade que, na verdade, aumenta o risco de abuso sexual, destacando a importância da educação sexual como forma de proteção.
O deputado Ricardo Arruda (PL), ligado a uma igreja evangélica, também rotulou a inclusão de livros, como "O Avesso da Pele", dizendo que era uma "obra satânica da esquerda". Da bancada da bala, o deputado Tito Barichello (União) rotulou como "pornográfico". Surpreendentemente, Arruda não alterou sua opinião mesmo quando informado de que o livro em questão foi incluído no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) durante o governo Bolsonaro.
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Na última quarta-feira (6), durante a sessão da Câmara de Curitiba, o vereador Ezequias Barros (PMB), que é pastor evangélico e faz parte da base de Rafael Greca (PSD), classificou o livro de Jeferson Tenório como "lixo". Vale ressaltar que as críticas da extrema direita vêm sendo rebatidas por intelectuais de todo o país.
O escritor se pronunciou em suas redes sociais e enfatizou que a medida remonta os tempos sombrios da ditadura militar.
“Mais uma violência contra O avesso da Pele. Hoje fui surpreendido com a publicação deste ofício do Núcleo Regional da Educação de Curitiba, ordenando o recolhimento de exemplares do Avesso da Pele de todas as escolas de Curitiba”, escreveu. “São atos violentos e que remotam dias sombrios do regime militar. Inaceitável uma atitude antidemocrática como essa em pleno 2024”.
Tenório ainda aponta que há inconstitucionalidade na decisão. “É importante lembrar que nenhuma autoridade, seja ela diretora, secretário, vereador, deputado, governador ou presidente tem o poder de mandar recolher materiais pedagógicos de uma escola. É uma atitude inconstitucional. É um ato que fere um dos pilares da democracia que é o direito à cultura e à educação. Não se pode decidir o que os alunos devem ou não ler com uma canetada”.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) também se manifestou veementemente contra a medida de recolhimento dos livros. "A deliberação representa um grave ato de censura que deve ser imediatamente contido pelas instituições competentes, pois é intolerável que os absurdos praticados durante a ditadura militar de 1964 sejam repetidos no presente e, principalmente, no ambiente escolar”.
Aumento de 400% nas vendas da obra
O romance é distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) para escolas públicas, e se tornou alvo de uma polêmica nos últimos dias após ser alvo de censura. Uma diretora de escola e um vereador de Porto Alegre solicitaram a retirada do livro do programa de leitura apenas por conter temas como racismo e sexualidade.
Com aumento de 400% nas vendas na Amazon, a obra também esgotou nas livrarias de Porto Alegre nesta terça-feira (5). A diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, Janaina Venzon, tenta justificar e diz que é “lamentável o Governo Federal, através do MEC, adquirir esta obra literária e enviar para as escolas". Momentos depois, ela apagou o post publicado na web.
Conheça a história de 'O Avesso da Pele'
O livro é um romance envolvente que se desenrola em Porto Alegre na década de 80. A trama acompanha Pedro, filho de um professor de literatura que é brutalmente assassinado em uma abordagem policial. A morte do pai impulsiona Pedro em uma jornada de busca por suas origens. Ele mergulha em uma investigação sobre a história de sua família, explorando o passado e buscando compreender melhor a vida.
Vale lembrar que a obra ganhou o prêmio Jabuti em 2021, e o escritor já havia escrito dias antes da censura, em suas redes sociais: "As fake news são estratégias de uma extrema direita que promove a desinformação. O mais curioso é que as palavras de 'baixo calão' e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras".