Há exatos 50 anos, em 11 de agosto de 1973, nascia o hip-hop. A manifestação cultural, que tem como seus quatro elementos DJ, rap, breakdance e grafite, nasceu no bairro periférico do Bronx, em Nova York, mais especificamente em uma festa organizada por dois jovens negros: Cindy e Clive Campbell, o DJ Kool Herc. De lá para cá, esse gênero desvalorizado em seu início virou até esporte olímpico, com o breaking estreando nas Olimpíadas de Paris, em 2024.
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O berço do hip-hop
Em 1973, o fim judicial da segregação racial nos Estados Unidos não havia completado nem dez anos – foi em 1964 que o então presidente Lyndon Johnson sancionou a lei de Direitos Civis, que acabava com o segregacionismo institucionalizado entre brancos e negros nos EUA. Se, mesmo no século 21, o racismo ainda assola a sociedade americana, em 1973 era ainda pior.
No bairro do Bronx, na periferia de Nova York, a maioria da população era de pessoas racializadas. O Estado deixava o distrito abandonado: roubos, furtos e assassinatos se tornaram comuns e a infraestrutura estava em ruínas. Aos moradores, era difícil sair. Não havia emprego em Nova York e os que tinham condições de pagar um lugar melhor muitas vezes não eram aceitos pelos senhorios brancos de outros bairros.
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Foi nesse cenário que os irmãos Cindy e Clive Campbell deram o pontapé inicial para uma cultura que dominaria o mundo, há 50 anos anos, em 11 de agosto de 1973. No número 1.520 da Avenida Sedgewick, uma área de recreação de um prédio em ruínas do distrito do Bronx, nascia o hip-hop.
A garota cursava o ensino médio e resolveu dar uma festa para juntar dinheiro para comprar roupas antes de começarem as aulas. Os ingressos da “DJ Kool Herc Party” não chegavam a 1 dólar: 0,50 para os meninos e 0,25 para as meninas. Coube ao garoto Clive, o DJ Kool Herc que dava nome ao evento, cuidar da música que impulsionaria um movimento.
O que é o hip-hop
O DJ Kool Herc, nascido na Jamaica e, à época, com apenas 18 anos, vinha treinando em casa novos jeitos de reproduzir canções. O garoto usava dois discos para reproduzir as músicas ininterruptamente – técnica que era usada apenas nas festas de disco music no distrito de Manhattan –, mas com um toque especial.
Herc percebeu que eram nas partes instrumentais das músicas que o público ficava mais animado. Ele, então, passou a repetir esses momentos repetidamente, o que chamou de merry-go-round. Os que dançavam as músicas na hora desses breaks eram os breakdancers.
Ao mesmo tempo em que o DJ fazia sua mágica, rimadores pegavam o microfone para agitar o público com seu canto falado e jovens usavam sprays para se manifestar artisticamente nas paredes. Estavam formados os quatro elementos do hip-hop: a música rap, a dança break, o grafite como manifestação artística visual e o DJ, que complementa a mistura.
O hip-hop toma o Brasil e o mundo
As festas do DJ Kool Herc logo ficaram “na boca do povo” e tiveram que mudar para um ambiente maior, nas chamadas block parties, ou festas de quarteirão. Mas o hip-hop ainda não havia entrado no mercado fonográfico, o que só aconteceu em 1979, com o lançamento do single “Rapper’s Delight”, do grupo The Sugarhill Gang.
O sucesso da música exportou a cultura hip-hop para outros lugares e pavimentou o caminho para novos artistas. O single “The Message”, do grupo Grandmaster Flash & The Furious Five, lançado em 1982, é considerado um clássico pioneiro na vertente de protesto do rap e do hip-hop. A música, e muitas outras que vieram depois dela, era usada para descrever e denunciar as condições de vida da população periférica.
No Brasil, o hip-hop chegou de vez nos anos 1980, tendo como principal representante os Racionais MCs. E a influência do rap e do hip-hop se disseminou para o cotidiano das pessoas, da sonoridade sendo usada por artistas de outros estilos musicais até a popularização dos DJs.
Em 2017, segundo relatório da Nielsen Music, o hip-hop ultrapassou o rock e se tornou o gênero musical mais ouvido nos Estados Unidos, com o rap. Em 2024, com o breakdance, ele será até modalidade olímpica, em Paris. O grafite, hoje, além das ruas, ocupa galerias de arte. O hip-hop dominou o mundo.